Sociologia das profissões | Felipe Gruetzmacher
Na Live 1 Jovens EA, a EA debateu se o diploma ainda é de fato necessário em um mundo do trabalho em constante metamorfose. O diálogo da Live 1 focou muito os novos ambientes de aprendizagem, em especial, comunidades que enfatizam uma aprendizagem livre, mais maker e desconectada com os métodos escolares tradicionais de ensino.
O propósito desse artigo é contextualizar o conteúdo desta live, a partir dos conceitos da sociologia das profissões. O que a teoria acadêmica, a sociologia, diz sobre o discurso que menciona a experiência prática, resultados e habilidades que a escola não ensina?
Trago conclusões, questões e provocações.
Identidade profissional
A profissão fornece uma identidade e um norte para o desenvolvimento profissional da pessoa. Uma mulher que atua como enfermeira, por exemplo, percebe-se como enfermeira (identidade profissional).
Essa identidade profissional garante maior segurança psicológica, um lugar bem definido no mercado e uma direção para se aperfeiçoar profissionalmente?
A aprendizagem livre garante essas vantagens? Será que a escola da vida e a experiência prática assimilada na escola da vida superam esses possíveis ganhos trazidos com o ensino superior, os cursos tradicionais e o diploma?
Uma profissão é definida como um trabalho que para ser exercido precisa de formação em ensino superior, autonomia superficial, diretrizes e credenciamento de formação.
Esse credenciamento nada mais é do que o “passaporte” para o profissional ingressar no mercado e trabalhar naquele nicho específico. É constituído por:
- Conjunto de regras e regulamentos formais expressos em leis
- Regulamentos e resoluções vinculadas a instituições políticas, associações profissionais e organizações profissionais
É um conjunto de documentos para regrar o exercício profissional.
Teoricamente, o credenciamento garante a qualidade do trabalho entregue e protege a clientela de pessoas que não assimilaram competência técnica. Como a pessoa sem credenciamento pode comprovar conhecimento técnico se ele somente assimilou habilidades na e pela prática?
Por outro lado, credenciamento não é garantia absoluta de serviços de qualidade.
Como balancear essa questão? Como as profissões do futuro e o empreendedorismo lidam com essas questões?
Código de ética profissional
Todas as profissões estão submetidas por um código de ética próprio (diretriz para o exercício de uma função). Um código de ética específico é tão necessário assim para satisfazer o mercado ou como o mercado faz para punir os trabalhadores desonestos?
Afinal: só quem passa pela Universidade e se torna um profissional é submetido a um código de ética?
O reconhecimento das profissões por conselhos profissionais “reforça” o poder delas. No exemplo da enfermagem, o conselho exigiu e conseguiu que postos de saúde tivessem enfermeiras. Essa capacidade de negociação entre profissão, instituições, empresas e corporações para a garantia de um bom serviço só é possível porque existem organizações profissionais.
Logo, conselhos profissionais funcionam para reconhecer formalmente profissionais, organizar a categoria, reivindicar direitos e cobrar deveres. É uma questão teórica e prática.
Comunidades de aprendizagem livre que assimilam habilidades pela prototipação, testagem e validação, não usufruem desse benefício.
Mesmo assim, existe o perigo da própria profissão ficar “engessada” (burocratizada).
Identidade e valores
A profissão fornece identidade e valores para a pessoa. A enfermeira, por exemplo, está muito associada com o cuidar das pessoas. Será que essa identificação entre valores pessoais e identidade profissão não facilita a descoberta de um propósito?
E como a comunidade de autoaprendizagem livre (escola da vida) lida com a descoberta do propósito?
Sejamos francos: isso não é fácil em nenhuma dessas situações citadas.
A tarefa do aprender
O profissional passa por um curso formal, onde acessa um conjunto de conhecimentos sistematizados e organizados. O professor é uma espécie de curador. A tarefa de aprender se torna mais difícil quando não se conta com esse apoio específico.
Por outro lado, a Universidade não ensina habilidades de organizar o conhecimento (realizar essa sistematização). Como também, não é possível aprender tudo na escola da vida.
Pessoas não aprendem a operar num tutorial de Youtube, por exemplo!
Universidade e o conhecimento
A Universidade produz conhecimento através de métodos validados e esse conhecimento serve para a tomada de decisões para fazer valer decisões do conselho profissional.
Então, profissionais, aglutinados em torno de um mesmo propósito e corpo técnico, podem reivindicar maiores salários, jornada, regras de aposentadoria, contratos trabalhistas e demais coisas.
Tudo está incluso na legislação trabalhista que serve de base para a profissão.
Isso serve como um remédio contra a precarização das profissões? Como as profissões do futuro lidarão com a precarização? De que modo a precarização é debatida nas comunidades de aprendizagem autônoma?
Encerro o texto reforçando a complementaridade entre a aprendizagem do ensino formal e do informal.
Como integrar o melhor dos dois mundos? A sociologia das profissões pode apontar os rumos da evolução das profissões, dos sistemas educacionais e do empreendedorismo? Escrevo esse texto para apresentar como até mesmo o pensamento acadêmico e sociológico pode apresentar um exame crítico sobre as transformações econômicas e laborais da nossa época.
Referência
“Sociologia das profissões, de Eliot Freidson: interpretações para a saúde e enfermagem”.
Felipe Emilio Gruetzmacher é formado em gestão ambiental, educação ambiental e se especializou em copywriter através de muitos cursos online, muita prática e dedicação. Autor na Comunidade EA é um dos mais lidos na plataforma. Tenta decifrar os enigmas do trabalho humano, até porque essas questões podem mudar os rumos da sociedade humana e acelerar a marcha da história rumo à Utopia.
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