Por João Casarri Neto
Num mercado cada vez mais obcecado por inovação, velocidade e juventude, existe um erro estratégico que muitas empresas ainda cometem: subestimar o valor dos profissionais com mais de 60 anos. É comum ver organizações priorizando perfis mais jovens em nome de “agilidade” ou “adaptação ao digital”, mas essa visão ignora um capital essencial — a experiência prática, o repertório de decisões, e a maturidade emocional que só o tempo constrói.
A ideia de que um profissional 60+ é menos produtivo ou que já “cumpriu seu ciclo” está mais ligada a preconceito do que a dados reais. Produtividade não é uma função exclusiva da idade, mas sim da clareza de objetivos, da capacidade de entrega e do conhecimento aplicado. E nesse ponto, profissionais mais experientes têm uma vantagem significativa: sabem o que realmente importa, têm foco, e já passaram por cenários de crise, mudança e pressão.
Experiência não se improvisa
Em qualquer área — engenharia, direito, marketing, saúde, finanças — a experiência acumulada permite decisões mais assertivas e menos impulsivas. Um profissional 60+ já viu ciclos econômicos mudarem, já conviveu com diferentes tipos de gestão, lidou com conflitos internos, acompanhou mudanças tecnológicas e aprendeu a filtrar modismos de tendências duradouras. Essa bagagem é fundamental em ambientes que exigem visão de longo prazo e estabilidade.
Um exemplo claro disso é no setor de tecnologia. Mesmo que um jovem desenvolvedor conheça as linguagens mais recentes, um profissional sênior sabe identificar riscos, prever gargalos, e propor soluções sustentáveis. Pode não ser o mais rápido no teclado, mas costuma ser o mais estratégico na arquitetura.
Na área de vendas, enquanto um jovem pode dominar as técnicas digitais, um profissional mais velho tem jogo de cintura, sabe ler clientes, construir confiança e manter relacionamentos que não se encerram após a venda.
Mentoria prática e formação de times mais equilibrados
O impacto de profissionais 60+ não é apenas técnico, mas humano. Eles ajudam a formar a cultura do time, funcionam como mentores informais, transmitem valores essenciais como resiliência, responsabilidade e ética.
São, muitas vezes, o ponto de equilíbrio entre a impulsividade da juventude e a necessidade de consistência nos projetos.
Equipes compostas por diferentes faixas etárias são mais ricas em perspectivas e mais completas em capacidades. Enquanto os mais jovens trazem velocidade, experimentação e adaptação tecnológica, os mais velhos oferecem visão sistêmica, pensamento crítico e capacidade de lidar com ambiguidade — algo vital em tempos incertos.
Um bom exemplo prático: num projeto de reestruturação de processos logísticos, uma equipe formada apenas por profissionais jovens apostou numa solução 100% digital, altamente automatizada. Porém, quem apontou os riscos operacionais e sugeriu ajustes realistas foi um analista de 64 anos, com 30 anos de experiência em chão de fábrica e rotinas de transporte.
O projeto, que poderia ter fracassado por ignorar detalhes práticos, foi salvo por quem já tinha vivido situações semelhantes no passado.
Maturidade emocional: um ativo silencioso
Outro ponto frequentemente ignorado é a maturidade emocional. Profissionais mais experientes costumam ter mais estabilidade emocional, lidam melhor com pressão, e sabem separar urgência de importância. Em tempos de burnout, sobrecarga e ansiedade corporativa, esse equilíbrio é um diferencial competitivo.
Eles também tendem a ser menos movidos por vaidade ou necessidade de aprovação constante, o que os torna líderes mais estáveis, menos reativos e mais preocupados com o todo do time. São figuras que contribuem para um ambiente mais saudável, porque não competem por holofotes — mas por entregas bem-feitas.
A importância da inclusão etária no ambiente digital
Sim, vivemos em uma era digital. Mas o digital não exclui os mais velhos — ao contrário, oferece oportunidades novas para que compartilhem conhecimento, colaborem com equipes híbridas, e aprendam continuamente. Não faltam casos de profissionais com mais de 60 anos que se atualizaram, aprenderam a usar novas ferramentas, e continuam contribuindo com excelência em áreas como gestão de projetos, análise de dados e até UX (experiência do usuário), trazendo a visão de quem entende o consumidor com profundidade.
Incluir profissionais 60+ não é apenas uma questão de justiça ou diversidade — é uma escolha inteligente.
É reconhecer que inovação não depende só de idade, mas da capacidade de aprender, adaptar e aplicar. E isso, muitos deles já provaram que sabem fazer — inclusive em tempos em que as ferramentas eram outras, e as limitações tecnológicas exigiam ainda mais criatividade.
Um investimento de retorno garantido
Valorizar profissionais com mais de 60 anos é uma forma de preservar o conhecimento institucional, reduzir riscos de decisões precipitadas, e criar ambientes de aprendizagem contínua. Eles não são custo — são investimento.
Empresas que entendem isso saem na frente. Vemos isso em grandes organizações que já criaram programas de retenção e valorização dos mais experientes, mesclando sua atuação com a formação de novos talentos. Esse tipo de troca gera times mais preparados, mais diversos e mais fortes.
Conclusão
A idade não define a capacidade de contribuir, mas sim a disposição para continuar entregando valor. Profissionais 60+ têm muito a oferecer — não apenas em conhecimento técnico, mas em visão, postura e capacidade de formar gerações futuras.
Eles são pontes entre o que já deu certo e o que ainda pode dar certo.
Ignorá-los, é abrir mão de sabedoria. Valorizar sua presença é garantir maturidade para inovar com responsabilidade. E isso, no fim das contas, é o que separa empresas sustentáveis de modismos passageiros.
João Casarri Neto é economista, consultor de RH/TI, analista comportamental DISC, coach, mentor, treinador de líderes, e Practitioner PNL. Autor do livro “Os 5 Princípios da Resiliência”, é também criador do programa “Sou Líder, e Agora?” para ajudar líderes em início de carreira. É Embaixador de Inovação e Tecnologia da Associação Brasileira dos Profissionais de RH (HUBRH+ABPRH). Colunista EA “Geração 50+”.
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