Por Sandra Sinicco

 

Nos últimos 20 anos vivemos um período de intensa conexão global, tanto física quanto digital e o impacto dessa nova realidade abriu possibilidades antes inimagináveis. Hoje uma pequena empresa de qualquer região do mundo, com um produto/serviço interessante pode se conectar para fazer negócios com gente que jamais conheceu. Nosso pão de queijo, nossa coxinha, nosso palmito pupunha, nossas fintechs, startups de biotecnologia, de economia circular, de saúde entre outras poderiam estar em vários lugares do mundo.

Só que não. Dados do Sebrae de 2017 mostram que apenas 0,54% das pequenas e médias empresas estavam conectadas com o mercado global.

Tirando algumas commodities, o Brasil perde muitas oportunidades de vender valor agregado e continua exportando matéria prima para reimportar produtos para o consumo local. Nossa realidade obviamente é fruto de uma série de políticas publicas erráticas, um Estado com uma burocracia que emperra muitas vezes o crescimento da expansão e de uma cultura ainda muito fechada em relação ao mundo exterior motivada também por um grande mercado interno.

Embora essa seja a realidade nem por isso devemos nos sujeitar a ela perdendo oportunidades interessantes de expandir nossas ideias e negócios.

Faça o seguinte exercício: se a sua empresa fosse expandir para fora do Brasil, onde estariam as boas oportunidades?

Quais mercados teriam um potencial enorme para a sua idéia/negócio?

Comece por explorar a literatura existente em milhares de páginas no Google, ChatGPT, faça o teste no site Acesse o Mundo do MDIC, conecte-se com as Câmaras de Comércio dos países onde parecem existir oportunidades e comece a compartilhar suas inquietações.

Você verá que há uma série de eventos, reuniões e estudos gratuitos podem te trazer informações valiosas.

Conecte-se com as missões promovidas por instituições como APEX, Softex e tantas outras para vasculhar mais e maiores oportunidades. Tenha em seu Conselho pessoas com uma vivência internacional para te ajudar a avançar mais e mais nesta jornada.

Você verá que expandir globalmente requer paciência, pode calcular 5 a 10 anos. Muito aprendizado, verificará que pensar global traz melhorias para seus produtos/serviços locais porque afinal, você está sendo impactado por soluções que existem em mercados mais maduros ou completamente virgens e nada como a comparação para melhorar cada vez mais.

Em seguida, comece a se preparar. Faça cursos, planeje- se para introjetar em sua empresa uma cultura mais aberta a novos mercados, novos comportamentos, novas ideias. Isto fará com que as pessoas comecem a perceber movimentos globais que acabarão por impactar o seu negócio.

Essas mudanças estão acontecendo em velocidade cada vez maior.

Para avançar nesta jornada você verá que será necessário contar com um Conselho (pessoas de diferentes habilidades, prontas a ajudar sua empresa a aumentar sua resiliência no mercado, não mais local, e sim global.

Rede de cooperação

Você perceberá que criar uma rede de parceiros nos países de seu interesse te permitirá tomar as melhores decisões sem que para isso você tenha que desembolsar grandes investimentos. Ir depurando esta rede será fundamental mais para frente.

Vamos dizer que agora, você fechou um primeiro negócio com um cliente em um determinado país e se prepara para entregar o que foi combinado. Só que as coisas não foram tão bem quanto imaginado.

Este aprendizado certamente impactará sua empresa local e contribuirá para a melhoria de processos e abertura para novas ideias.

Tentativas e erros farão parte de sua evolução global como fizeram parte do nascimento de sua empresa até os primeiros faturamentos regulares.

O importante será aprender rápido, adaptar e seguir em frente.

Digamos agora que você fechou outro negócio e que desta vez tudo foi super bem gerando uma demanda enorme, inesperada por parte do mercado em outro país.

Aqui aparecem novamente o Conselho e os parceiros locais com os quais você interagia lá no início sem ter um negócio ainda. Mas, isto vai obrigar as equipes dos diferentes países a interagir mais intensamente. E isso pode gerar problemas de relacionamento, falta de compreensão das nuances de linguagens/idiomas e diferentes processos.

Esta fase será mais uma vez extremamente rica para que as duas partes façam uma amálgama de boas práticas e encontrem uma linguagem comum.

Questões culturais envolvem uma das partes mais difíceis da jornada por incrível que pareça. Você precisará contar com gente que faça o meio de campo conhecendo ambas as culturas.

No fim do túnel você verá sua empresa se desenvolver com uma mentalidade diferente de quando você só pensava no mercado local.

O mundo começa a se abrir à sua frente e mercados nunca dantes pensados poderão solicitar serviços e produtos a partir de entregas de projetos mais visíveis globalmente falando.

Contando assim, parece muito simples, mas não é.

São inúmeras as nuances do processo de fazer a empresa contar com Global Mindset em seus colaboradores.

Mas uma coisa eu posso garantir: empresas conectadas globalmente aumentam sua resiliência para enfrentar as intempéries do mundo empresarial adquirindo melhores práticas e rejeitando a cultura da acomodação.

Isso é bom para a empresa e bom para o país que passará a exportar percentualmente muito mais do que commodities e, sem pensar você estará contribuindo para aumentar o valor da marca Brasil, pois cada pessoa que se conectar com a sua solução estará absorvendo um pouco do país que a produziu e aumentando seu interesse por novos produtos.

Mas essa é outra história que fica para a próxima vez.

 

Photo from biju - Porque o Global Mindset pode ser bom para a sua empresa e para o País

Sandra Sinicco é CEO da LatamScaleUp e do GrupoCASA. Fundou o Tech Brazil Advocates. É conselheira da Comissão de Startups do IBGC e membro do Anjos do Brasil. É mentora e especialista em apoiar startups e pré-scaleups em softlanding na Europa e da Europa para a América Latina. É colunista EA “Global Mindset”.

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