Por Sandra Sinicco

 

Estamos nos aproximando da V Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação – CNCTI, que irá definir as bases da política de inovação que o Brasil irá adotar nos próximos seis anos. Vários encontros estão sendo promovidos pelos Estados para coletar sugestões que se transformarão em um plano para discussão no início de junho deste ano. Participei do Congresso Estadual em São Paulo recentemente e, se fossemos resumir em uma só palavra o resultado de todas as conversas, esta seria parceria.

Senão vejamos: nos anos 80, o ecossistema brasileiro de inovação foi crescendo a partir de diferentes iniciativas e em diferentes velocidades. O grande empuxo começou por políticas governamentais que estruturaram incentivos e apoios a iniciativas de universidades e empresas.

Este modelo foi sendo levado adiante ora acelerando ora ficando estancado ao sabor dos comandos governamentais.

Com o tempo e com a aceleração da disseminação da Internet, as grandes empresas passaram a sentir a necessidade de se aproximar cada vez mais de pequenas empresas e iniciativas privadas e nas universidades para prover suas demandas por inovação nos mais variados matizes.

O mercado começou a ditar as regras e a velocidade imposta pelo capital privado foi aumentando a olhos vistos. Os órgãos governamentais continuaram em seu ritmo e dinâmicas conhecidas.

Essa falta de consistência em levar adiante um planejamento de longo prazo unindo todas as partes gerou uma figura grotesca. Um Frankenstein que cambaleia pelas várias regiões do país com suas pernas de barro e seu corpo meio tech, meio inovador, meio atrasado, meio faminto, meio bem nutrido.

Na vida real, uma empresa que queira inovar no território brasileiro precisa ter um time multisetorial bem formado, de preferência com experiência internacional, uma ideia disruptiva para o mercado.

Um obstáculo recorrente é o fato de que muita gente não consegue encontrar os canais corretos para avançar.

Se algo não está muito próximo desta hélice há poucas chances de avançar ou então demora muito para avançar e quando chega a hora de expandir internacionalmente já perdeu a corrida.

Ou seja, nosso “ecossistema” replica nosso modelo de sociedade pouco inclusiva e ainda fechada.

Uma empresa que queira começar do zero bate na porta de quem? E de que forma ela é acolhida?

E ainda: quantas ideias, quantos planos se perdem por falta de um ecossistema mais integrado, dinâmico e orgânico? Quantas ideias deixam de avançar porque não contam com capital paciente ou mesmo a fundo perdido? Quanta energia é desperdiçada pela falta de um olhar para o estado da arte, do que está sendo feito e testado em países cuja caminhada é muito mais antiga do que a nossa?

Nesse sentido, acredito que a solução, tipo a nossa bala de prata mesmo, seria o que se destacou nos debates: a necessidade de fomentar uma mudança cultural que tenha por base o trabalho em parceria dos diferentes agentes do ecossistema. 

Frases como temos que trabalhar em parceria”, “vamos acabar com os egos e com os muros que nos separam”, “poxa poderíamos trabalhar mais em parceria” apareceram em 100% dos painéis de discussão.

Portanto, trabalhar para fomentar parcerias intersetoriais e internacionais, parcerias da sociedade com os vários players governamentais, do terceiro setor e da iniciativa privada aparece como um grande desafio a ser levado adiante a fim de gerar um enorme impacto impulsionado pela energia das conexões na sociedade brasileira.

Esse esforço hercúleo vale a pena e, embora pareça levar uma eternidade, crescerá em progressão geométrica e custará muito pouco em termos de investimentos financeiros.

Em pouco tempo (e falo de horizontes de 10 a 20 anos) poderemos estar rumo à uma organização social que permitirá retroalimentar a inovação com mais facilidade. Para isso, o individualismo deverá dar lugar ao aumento da cooperação entre os clusters, trazendo bons resultados para todos, inclusive para aqueles que se encontram enclausurados em seus mundos.

 

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Sandra Sinicco é CEO da LatamScaleUp e do GrupoCASA. Fundou o Tech Brazil Advocates. É conselheira da Comissão de Startups do IBGC e membro do Anjos do Brasil. É mentora e especialista em apoiar startups e pré-scaleups em softlanding na Europa e da Europa para a América Latina. É colunista EA “Global Mindset”.

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