Por Paulo Augustinho

 

Talvez ainda não tenha percebido, mas as habilidades priorizadas na contratação de um profissional já não são as mesmas. Na era da informação, não basta apenas “saber fazer” (habilidades técnicas), mas também “saber ser” e “agir”, aspectos mais relacionados às habilidades comportamentais. Esse tripé, frequentemente atribuído ao sociólogo e filósofo Edgar Morin, define a nova fronteira das competências essenciais para o sucesso profissional.

Em um contexto de avanços tecnológicos exponenciais, a eficácia do seu diploma e da sua experiência técnica para conseguir um cargo já não é tão garantida quanto costumava ser. A constante emergência de novas tecnologias demanda mudanças e adaptações rápidas, tornando essas qualificações isoladas menos suficientes para garantir sua relevância e sucesso contínuos no mercado.

Enquanto se fala na extinção de cargos em larga escala, como os mais operacionais e repetitivos, e na ascensão de ocupações ainda desconhecidas decorrentes desse avanço e de necessidades até mesmo climáticas, é fundamental reconhecer a mudança de paradigma nas habilidades profissionais.

É neste contexto de transformação que este artigo foi elaborado, visando iluminar os desafios e oportunidades emergentes para que os talentos atuais possam se alinhar melhor com as demandas do futuro próximo.

O artigo cobrirá os seguintes tópicos principais:

  • Mudança na valorização das competências
  • A importância das habilidades comportamentais
  • Desafios do cenário tecnológico
  • Novas oportunidades e profissões emergentes

Mudança na valorização das competências

Ao mergulharmos na história até a era da Revolução Industrial (século XVIII) e suas eras subsequentes, é evidente uma marcante valorização das hard skills (habilidades técnicas). Isso se refletia na forma como as vagas de emprego eram anunciadas, na remuneração dos profissionais e até mesmo nos programas de treinamento. No entanto, isso não significa que as habilidades comportamentais (soft skills) fossem inexistentes.

Essa ênfase nas habilidades técnicas, que perdurou até os dias atuais, pode explicar o fato de que, ao considerarmos adquirir novas habilidades ou realizar uma nova formação, é comum sermos conduzidos ao desenvolvimento das hard skills, enquanto as soft skills são frequentemente negligenciadas.

Esse é um ponto relevante a se observar.

Durante a Revolução Industrial, a ênfase no “saber fazer” era crucial em diversos aspectos da época. Por exemplo, o aumento da produção em massa e a especialização e divisão do trabalho exigiam um grande número de trabalhadores qualificados tecnicamente para operar máquinas e garantir a eficiência da produção. Além disso, a introdução de novas tecnologias, como as máquinas a vapor, impulsionou a demanda por habilidades técnicas específicas relacionadas ao contexto da época.

Hoje, o cenário é diferente. Se analisarmos com cuidado, já existem fortes indícios de que as corporações, devido a várias circunstâncias, como globalização, avanços tecnológicos, mudanças nas expectativas dos clientes e crises como a pandemia do COVID-19, estão cada vez mais valorizando as habilidades comportamentais em uma proporção significativamente maior.

É importante ressaltar que isso não implica na eliminação do investimento em habilidades técnicas, nem as considera irrelevantes para o sucesso no mercado de trabalho. Pelo contrário, elas ainda mantêm sua importância.

No entanto, não ocupam mais o centro do palco como em eras anteriores, onde habilidades além das técnicas raramente eram mencionadas, ressaltando que os cenários eram diferentes em termos de necessidades e recursos.

A importância das habilidades comportamentais

Antes de adentrarmos no cerne das habilidades comportamentais, é essencial compreender sua natureza, abordando os pilares discutidos na introdução deste artigo: o “saber ser” e o “saber agir”. Autores renomados como Daniel Goleman, autor de “Inteligência Emocional” e Stephen Covey, autor de “Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes“, delineiam essas habilidades como competências que envolvem a compreensão e gestão das emoções próprias e alheias, bem como hábitos e práticas que influenciam positivamente as interações e relacionamentos interpessoais.

Em um contexto de mercado em constante transformação, onde a tecnologia por exemplo, assume tarefas antes executadas por humanos, surge uma valorização sem precedentes das habilidades comportamentais.

Empresas agora buscam profissionais não apenas com habilidades técnicas, mas também com habilidades interpessoais bem desenvolvidas, como evidenciado nos requisitos de vagas de emprego e no próprio relatório do Fórum Econômico Mundial de 2023.

Essas habilidades, comumente referidas como “soft skills”, incluem uma ampla gama de competências, como:

  • Pensamento analítico
  • Resolução de problemas
  • Liderança
  • Inteligência emocional
  • Persuasão

Elas são essenciais para o sucesso em um ambiente de trabalho dinâmico e colaborativo, onde a adaptação e a resolução eficaz de problemas são cruciais.

Um exemplo ilustrativo é o de um Gerente Comercial, cujas habilidades técnicas em análise de mercado são complementadas por habilidades comportamentais como liderança e negociação. Essas competências são fundamentais para motivar equipes, estabelecer relacionamentos com clientes e parceiros comerciais e fechar acordos lucrativos.

Embora as habilidades técnicas possam ser adquiridas com treinamento, as habilidades comportamentais muitas vezes requerem um processo mais longo e exigente de desenvolvimento, pois estão intrinsecamente ligadas à personalidade e à experiência de vida.

Assim, fica claro que as soft skills não apenas complementam, mas também fundamentam o sucesso profissional em um ambiente de trabalho cada vez mais exigente. Investir no desenvolvimento dessas habilidades não apenas fortalece a capacidade de adaptação e resolução de problemas, mas também promove relações interpessoais saudáveis e impulsiona o desempenho individual e organizacional, contribuindo para a empregabilidade e trabalhabilidade.

Desafios do cenário tecnológico

O avanço tecnológico tem despertado preocupações sobre uma eventual dominação do mercado de trabalho pela automação e inteligência artificial. É importante reconhecer que, à medida que algumas ocupações são substituídas, surgem novas oportunidades, embora sua quantidade exata seja incerta.

Neste contexto dinâmico, é crucial um aperfeiçoamento contínuo, dada a velocidade assustadora das mudanças. Como afirmou o futurista Alvin Toffler:

“O analfabeto do século 21 não é aquele que não sabe ler e escrever, mas sim aquele que não sabe aprender, desaprender e reaprender”.

E digo mais, de maneira ágil. Tudo isso é desafiador.

Além disso, lidar com grandes volumes de dados e garantir sua segurança apresenta-se como outro impasse. A necessidade de estar em constante contato com novas ferramentas e tecnologias é crucial para profissionais de diversas áreas, não se limitando apenas à TI.

Um obstáculo adicional é a capacidade de capacitar toda a força de trabalho à medida que surgem novas oportunidades de emprego. Isso requer não apenas o desenvolvimento de habilidades técnicas, mas também habilidades comportamentais, que são igualmente importantes e muitas vezes mais difíceis de serem adquiridas do que as habilidades técnicas.

Ainda segundo o fórum, “Seis em cada dez trabalhadores precisarão de treinamento antes de 2027, mas apenas metade dos colaboradores têm acesso a oportunidades de capacitação adequada atualmente”. Toda essa requalificação, contudo, não está sendo puxada somente pelas novas tecnologias, mas também por eventos climáticos, globalização, fatores demográficos, crises econômicas, políticas governamentais e crises na saúde; o que torna ainda mais desafiador navegar rumo ao futuro do trabalho.

Em suma, uma soma de fatores está remodelando rapidamente o cenário do trabalho, exigindo uma abordagem adaptativa e contínua na educação e desenvolvimento profissional. Enquanto novas oportunidades surgem, o desafio reside não apenas na aquisição de habilidades técnicas, mas também na capacidade de desenvolver competências comportamentais em um ambiente em constante mudança.

Diante de diversos motivadores, desde avanços tecnológicos até crises econômicas e climáticas, é evidente que o caminho em direção ao futuro do trabalho é complexo e desafiador.

Novas oportunidades e profissões emergentes

De acordo com a pesquisa da Boston Consulting Group, que afirma que “65% das crianças que ingressam na escola hoje vão atuar em atividades que ainda não existem”, e corroborada pela previsão do Fórum Econômico Mundial, os novos postos de trabalho refletem diretamente as tendências emergentes em nosso mercado. Estes se alinham com os eventos globais mencionados anteriormente, abrangendo áreas como tecnologia, sustentabilidade, segurança da informação e inovação financeira, em resposta às demandas e desafios do mundo contemporâneo.

O relatório do Fórum Econômico Mundial também destaca profissões que irão se destacar nos próximos anos, incluindo:

Especialista em Inteligência Artificial (AI) e Machine Learning

  1. Especialista em sustentabilidade
  2. Analista de Business Intelligence (BI)
  3. Analista de segurança da informação
  4. Engenheiro(a) de fintech
  5. Analista e cientista de dados
  6. Engenheiro(a) robótico(a)
  7. Especialista em Big Data;
  8. Operador(a) de equipamentos agrícolas
  9. Especialista em transformação digital

Isso levanta a questão: devo abandonar minha profissão atual para me inserir neste novo contexto? A resposta depende. Seu trabalho atual corre o risco de ser substituído por essas mudanças? É algo a ser analisado e ponderado. Adaptação e mudança são palavras de ordem para o sucesso profissional a curto, médio e longo prazo.

Em 2024, conforme indicado no Guia Salarial divulgado pela Robert Half, cargos em áreas cruciais como finanças e contabilidade, incluindo planejadores financeiros, controllers, analistas contábeis e fiscais, estão em ascensão. Além disso, observa-se uma expansão em diversas outras áreas, como tecnologia, vendas, marketing, engenharia e recursos humanos.

Essa tendência reflete a demanda crescente por profissionais qualificados em uma variedade de setores, destacando a importância de habilidades específicas e conhecimentos especializados para atender às necessidades do mercado de trabalho.

Em um artigo publicado pela Forbes em 1º de maio de 2023, com base no relatório anteriormente citado, foram destacadas as possíveis profissões que têm fortes chances de desaparecer nos próximos anos, tais como:

  1. Caixas de banco e funcionários relacionados
  2. Funcionários dos Correios
  3. Caixas e cobradores
  4. Escriturários de entrada de dados
  5. Secretários administrativos e executivos
  6. Assistentes de registro de produtos e estoque
  7. Escriturários de contabilidade
  8. Legisladores e oficiais judiciários
  9. Atendentes estatísticos, financeiros e de seguros
  10. Vendedores de porta em porta, ambulantes e trabalhadores relacionados

Portanto, diante do panorama de transformações no mercado de trabalho, é evidente que novas oportunidades e profissões emergentes estão moldando o cenário profissional. Com a rápida evolução tecnológica e as crescentes demandas por sustentabilidade e segurança da informação, é essencial estar preparado para as mudanças que estão por vir.

Porém, a decisão de abandonar a profissão atual e adentrar esse novo contexto requer uma análise cuidadosa e individualizada, considerando as perspectivas de mercado e as habilidades pessoais. A adaptação e a disposição para mudar são fundamentais para garantir o sucesso profissional a longo prazo, especialmente diante das profissões que correm o risco de desaparecer nos próximos anos, conforme destacado em matéria pela Forbes.

 

Paulo Augustinho (Colunista)

Paulo Augustinho é bacharel em Administração de Empresas, especialista em Gestão de Pessoas pela PUC/MG, cursa pós-graduação em Psicologia Organizacional, Direito do Trabalho e Previdenciário. Como especialista em Carreira e Recolocação, recrutador, palestrante, escritor e colunista, impacta no ingresso de centenas de profissionais em empresas nacionais e multinacionais. É RH Influencer, integra o iBest RH 20+ 2023, é LinkedIn Top Voice Carreira 2023 e Top 100 Influenciadores RH do RH Summit. É colunista EA “Talentos do Futuro”.

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