Por Patrícia Milaré Bertão

 

Atualmente, muito se fala em inclusão, nas áreas acadêmicas, instituições, empresas, etc. O mundo fala sobre inclusão. Mas sabemos que temos um longo caminho pela frente, entre a fala e a ação. Questões trabalhistas, corporativas, políticas públicas, cultura e sociedade. Muitas são as vertentes e a discussão é ampla.

Nesse artigo, vamos explorar a inclusão PCD e afunilar ainda mais para o enfoque intelectual.

Abaixo, o conceito dado à Deficiência por Lei Federal e uma descrição sobre o que é Capacitismo, que estão descritos nas entrelinhas de todo o artigo.

CONCEITO DE DEFICIÊNCIA

Lei Federal n.º 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que regulamenta internamente as disposições da Convenção da ONU, prevê em seu artigo :

“Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.” (“LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015 – Jus Brasil”). https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a inclusão-da-pessoa com deficiência no mercado-de-trabalho/1129710887

CAPACITISMO: é a discriminação e o preconceito social contra pessoas com alguma deficiência. Em sociedades capacitistas, a ausência de qualquer deficiência é visto como o normal, e pessoas com alguma deficiência são entendidas como exceções; a deficiência é vista como algo a ser superado ou corrigido, se possível por intervenção médica; um exemplo de postura capacitista é dirigir-se ao acompanhante de uma pessoa com deficiência física em vez de dirigir-se diretamente à própria pessoa, ou quando a chamamos pela deficiência, como “cadeirante”, “o ceguinho”, e não pelo nome, desconsiderando a individualidade do ser humano. 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Capacitismo.

A pergunta que faço é: o mercado está preparado para receber essa mão de obra?

Acredito que não. Assim como nas escolas, o processo de inclusão deve ser cuidadoso. Receber um profissional com algum tipo de comprometimento mental ou intelectual é muito sério. Não basta receber e deixá-lo num canto da empresa. Tem que haver uma preparação cultural e, porque não, empática, ele sendo acolhido por todo o corpo da empresa ou instituição.

O primeiro passo é ter a percepção de que ele não é um coitado e sim, uma pessoa diferente de você, assim como qualquer outra, com qualidades e defeitos.

E o mais importante, ela não precisa ser “consertada”, mas sim compreendida

É preciso conhecer quais são as habilidades do profissional, quais são suas dificuldades e de que forma pode-se tirar o melhor proveito do seu trabalho. Em outro artigo, escrevi uma frase que cabe perfeitamente aqui, “Peixe não sobe em árvore, mas nada com perfeição”. Afinal, se ele foi contrato, não foi apenas para cumprir uma “cota social”.

Não desconfie da sua capacidade ou faça um pré-julgamento antes de conhecê-lo. Se dê a oportunidade de conviver. A dedicação desse profissional pode ser, inclusive, maior que de outros colaboradores.

Não existem processos inclusos genuínos que sejam fáceis. E acredito que esse que passa por comprometimento intelectual pode ser ainda mais difícil.

O problema da inclusão é maior, vem da nossa sociedade que durante muito tempo preferiu esconder essas pessoas do mundo como se estivessem fadadas aos limites das quatro paredes de sua casa. Precisamos é não entender a impossibilidade que a sociedade apresenta!

Ampliando um pouco mais a discussão, cadeirantes não tinham como acessar alguns locais e, se fossemos listar aqui, cada PCD tinha uma dificuldade maior que limitava o seu desenvolvimento. Com o passar do tempo, muitos PCDs tiveram oportunidade de mostrar ao mundo a que vieram, como qualquer pessoa. Apenas com dificuldades diferentes.

Entendo que o mercado tenha receio em contratar esse tipo de profissional

Eu não diria nem as companhias e instituições como pessoas jurídicas, mas as pessoas que lá trabalham. O CPF! Talvez o que mais assuste seja se esse profissional tiver algum tipo de crise ou surto.

Posteriormente, como não deixar que ele seja isolado por todos? Como não permitir que haja uma sensação até de pânico e entender o que desencadeou a situação de estresse?

Por isso, acredito que seja necessário trabalhar as pessoas para receber esse profissional.

É preciso saber acolher

Um trabalho que ultrapassa as fronteiras de qualquer RH. De aprender a olhar de verdade para a pessoa e isso pode ser um excelente exercício para qualquer empresa ou instituição. Todos temos dificuldades. Todos passamos por situações de ordem interna que muita gente nem sonha.

É nessa hora que podem entrar os pragmáticos e perguntar: “o que a empresa” tem a ver com isso? Tudo! Numa sociedade que precisa trabalhar o ser humano, tem que haver espaço para todos. Pode ser difícil, pode! Mas não é impossível. E como disse acima, as surpresas podem superar qualquer pré-julgamento que se faça de entrada.

Abaixo, uma poesia que escrevi num momento muito particular e talvez me serviu como desabafo e me trouxe serenidade e palavras certas para lidar com uma determinada situação.

Aliás, a escrita tem esse poder sobre mim, me traz de volta ao centro!

Mundo, saiba amar

Em muitos momentos, acredito que o mundo seja um castelo de cartas,

Prestes a desmoronar a qualquer sopro que se dê. 

Sem base, sem estrutura e sem amor!

Muitas vezes indigesto, cheio de hipocrisias e sorrisos fugazes. Uma efemeridade sem fim.

Subjuga sem permitir. 

Decreta a falha antes dela existir. 

Instaura-se a cautela desmedida 

Onde precisamos apenas respirar

E acelera ladeira abaixo onde precisa de freio. 

Que mundo é esse que desconforta corações puros e exalta desumanidade?

Uma sociedade que se enquadra no que lhe convém e desequilibra o necessário.

Podia se dizer, pare o mundo, vamos descer.

Mas eu não quero. Eu preciso ficar e pode ter a certeza de que a diferença será feita.

Não é preciso gritar. Mas saber lutar pelo que se acredita.

Desmontar frases feitas, desconstruir o concreto frio.

Viver com empréstimos de si por um bem maior. Sem o ego inflado.

Sabendo viver com amor, verdade e estando próximo do próximo que realmente precisa de nós!

Todo mundo tem o seu lugar no mundo. Basta saber acolher e entender o que de mais precioso cada ser humano pode entregar de si mesmo, nessa loucura!

A inclusão no mercado de trabalho ainda é tema controverso, com muitos vieses olhados pela empresa e para quem precisa ser incluído. Todos têm o seu lugar no mundo e merecem uma oportunidade de produzir e crescer.

Esse não é um tema para se tratar no futuro do trabalho.

É imediato e as ações tomadas hoje permearão o sucesso dessa empreitada no futuro.

 

Patricia Milaré Bertão (Colunista)

Patrícia Milaré Bertão é casada e mãe de duas filhas. Formada em Secretária Executiva (USC), Administração de Empresa (UNIFAE) e MBA em Gestão Empresarial (FAE). É coordenadora sênior Account, TIM Brasil. Participa de um blog que trata sobre diversos temas e assuntos como Comportamento, Relacionamentos e Mundo Corporativo (@vem_que_a_gente_explica). Voluntária na Social Startup, sem fins lucrativos, com foco no desenvolvimento humano – Da Periferia para a Faria Lima. Tem um viés poético e tem três poesias classificadas e publicadas em livros, Poetize 2022 Seleção Poesia Brasileira, Poesia Livre 2022 e Poesia BR. Escrever é meu divã! Colunista EA “Mundo Organizacional”.

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