Por Luiz Fernando Mora

 

É sempre muito gratificante estar novamente aqui com você, caro leitor da EA Magazine, trazendo formas diferentes de refletir sobre determinados temas comportamentais, corporativos e, principalmente, voltados ao Capital Humano.

Neste artigo, vamos falar sobre o quanto a palavra “descartável” pode ser considerada uma grande oportunidade de se transformar e não apenas uma palavra que pode trazer uma conotação de ser um “fim da linha”.

A palavra “descartável” pode representar, para quem a ouve e, considerando seu “estado de espírito”, uma certa conotação um tanto quanto negativa ou, em alguns casos, trazer um sentimento de que “algo ou alguém” não possui mais utilidade, podendo ser substituído por algo mais novo, moderno e com um desempenho superior ao anterior.

Para tanto, vale a pena compartilhar aqui alguns significados interessantes que podem colaborar com o entendimento do contexto que desejo trazer a você sobre a palavra em questão:

  • Que se pode descartar. Feito para uma ou poucas utilizações.
  • Denomina-se descartável um “produto” concebido para prazo curto de uso, em vez de médio e longo prazo de durabilidade, a maioria dos produtos descartáveis são destinados apenas para uma utilização.
  • O interesse pelo que o outro pode oferecer vai até onde se consegue o que quer, após isso, a pessoa vira descartável. Este tipo de pessoa, conhece alguém novo e logo se encanta, dá valor.

Avaliando as descrições acima, podemos concluir que a palavra “descartável” pode representar que um determinado ciclo está se encerrando ou que sua utilidade pode ter chegado ao fim.

Porém, ao contrário disso, com o decorer do tempo, a condição temporária inicialmente denominada “descartável” encontrou, acreditem, a sua “cara-metade”! Sabem o dito popular que diz que “toda panela precisa de uma tampa”? Então… A “tampa” da palavra “descartável” se chama “reciclagem”.

E veja o quão alinhada com o tema em questão está a palavra “reciclagem”:

  • A reciclagem é importante para o meio ambiente, a economia local e a qualidade de vida das pessoas.
  • Reciclagem é o processo de reaproveitamento de materiais descartados, transformando-os em novos produtos ou matérias-primas.
  • Transformar alguém ou algum material já usado para uma nova utilização.

A prática da reciclagem, como forma de reaproveitamento de detritos “descartados”, principalmente não orgânicos, se tornou absolutamente necessária devido à preocupação com a produção excessiva de lixo produzido pela população e pelas indústrias.

Reaproveitamento e transformação

Para impulsionar o reaproveitamento e transformação desses detritos “descartados” – e com a máxima eficiência possível, vale trazer aqui as primeiras estratégias, modelos e processos sobre o tema surgiram no século passado. Mais precisamente em 1970, quando estudiosos e especialistas despertaram o interesse a cerca dos  problemas  ambientais  provocados  pelos  “descartes desorganizados”, principalmente em decorrência de diversos problemas, em especial, o aumento significativo da população mundial e o agravamento da desigualdade social.

Fazendo uma analogia do termo “reciclagem de detritos descartáveis” para o dia a dia do ambiente corporativo, podemos destacar que toda empresa promove periodicamente (ou pelo menos deveria!), reengenharias organizacionais e planejamentos estratégicos com o objetivo de aprofundar estudos que possibilitem identificar, prioritariamente, melhoria contínua em nove pilares fundamentais para se manterem competitivos. São eles:

  • Processos
  • Tecnologias
  • Relacionamentos
  • Infraestruturas
  • Regras
  • Normas
  • Orçamentos
  • Concorrência
  • Mercado
  • Capital Humano

Para o propósito deste artigo, é importante salientar que todas as frentes, com exceção do Capital Humano, dependem fortemente de fatores externos, os quais somados aos direcionadores estratégicos das Companhias, impulsionam as tomadas de decisões por melhoria contínua de seus produtos/serviços, visando ampliar a qualidade, reduzir o tempo de entrega e, consequentemente, a satisfação/fidelidade de seus clientes.

Aí está a relevância e a grande diferença quando aprofundamos a análise sobre a frente Capital Humano.

O processo de desenvolvimento, transformação ou reciclagem de um profissional necessita ter como protagonismo o próprio indivíduo, o qual deve ter muito claro o seu papel e responsabilidade durante a sua jornada profissional.

Trata-se das suas escolhas em promover frequentemente uma autorreflexão do status comportamental, operacional, técnico, tático e estratégico em que a sua carreira se encontra. Trata-se do seu esforço e dedicação para entender de forma clara os estímulos provocados pelo ambiente em que esteja inserido, buscando estar sempre atualizado com as melhores práticas que a sua função atual exige, ampliando frequentemente a sua visão da “floresta” para que outras oportunidades, alinhadas com seus sonhos e objetivos, possam surgir.

Porém, essa escolha pessoal poderia ser mais evidente na atitude do indivíduo onde, na maioria dos casos, acabam apresentando características fortes de comodismo.

É comum as pessoas somente se movimentarem quando são estimuladas por eventos externos, por exemplo: risco de demissão, manutenção do nível de empregabilidade, comparabilidade técnica e intelectual com outros profissionais, pressão sobre metas difíceis de serem alcançadas, por questões de atendimento a necessidades pessoais, entre outros.

E não é difícil encontrarmos indivíduos que mesmo com os estímulos destacados acima permanecem inertes sem apresentarem reações.

Por conta disso, vamos falar sobre o relevante papel das Companhias nesse fundamental e constante processo de estímulo aos profissionais. Se avaliarmos, bem resumidamente, a evolução do tema Gestão de Pessoas ao longo da história, podemos perceber que migramos organicamente de uma área denominada Departamento Pessoal para Recursos Humanos. Essa mudança representou a evolução de uma visão operacional e administrativa, para outra com foco no tático e estratégico. Durante um determinado período, essas duas “áreas” conviveram de forma conjunta e harmoniosa até que o Departamento Pessoal, na sua concepção, foi se automatizando e perdendo um certo protagonismo, se tornando, por que não dizer respeitosamente, “descartável”.

A partir daí, a área de Recursos Humanos foi se reciclando de tal forma que hoje podemos encontrar, em empresas de diversos portes, departamentos absolutamente robustos e com várias disciplinas voltadas a Gestão do Capital Humano, ampliando ainda mais a visão estratégica do fator humano.

Acompanhado dessa evolução, o mercado passou a desenvolver novas disciplinas, métodos cada vez mais “cirúrgicos” e ferramentas revolucionárias para garantir maior eficiência nessa gestão, preparação e transformação de seus profissionais. Podemos dizer que essa evolução foi um marco nas estrututras organizacionais das empresas levando o tema para patamares significativos de protagonismo, onde o ser humano passou a ser considerado, de fato, o grande ativo intelectual das organizações.

Esse protagonismo é tão relevante que é muito comum encontrarmos profissionais que estejam participando de processos seletivos, durante as entrevistas, demonstrarem curiosidades sobre como funcionam os programas internos da empresa sobre o tema, sendo assim um fator decisório pela escolha ou não pela permanência nessas concorrências de vagas.

Como consequência dessa preocupação dos candidatos, é bastante comum e absolutamente necessário que as empresas se preocupem em ampliar seus programas e projetos sobre o tema, impulsionando a concientização sustentável dos seus funcionários. Principalmente sobre a qualidade de vida dentro e fora do ambiente de trabalho. Desta forma, deixando transparente que esse é um valor da empresa e que impulsiona resultados cada vez mais significativos, além de ter funcionários cada vez mais engajados com sua reciclagem dentro e fora do ambiente de trabalho.

Com isso, esse consórcio formado por pessoas, processos, ferramentas e métodos poderá tem como missão promover planos de ações cada vez mais eficientes e ágeis.

Processo que visa dar todo apoio necessário ao profissional que se encontra nas diversar fases da sua jornada, em especial aquela onde o indivíduo apresenta características de “reciclagem” blindando-o de não sentir-se “descartável”.

Esse conjunto de iniciativas possui o papel de conscientização e de promoção do autoconhecimento constante e sustentável para que possamos entender que o indivíduo precisa promover constantemente ações que o ajude a passar pela sua etapa natural de reciclagem.

Iniciativa visando se transformar em um novo profissional e que atenda as necessidades da empresa, do mercado e principalmente possoais.

Nunca é demais dizer da importância que programas de Mentorias internas e externas podem proporcionar para que sejam identificadas as necessidades e oportunidades de desenvolvimento do indivíduo. Tomada de decisão que contribui com a construção conjunta de um PDM (Plano de Desenvolvimento do Mentorado) sustentável, com projetos que possam atingir os objetivos esperados pelas partes envolvidas.

E você, se sente “descartável” ou pronto para se “reciclar”?

Caro leitor. “Descartável” e “reciclagem” devem caminhar juntos para que o ciclo de transformação pessoal e profissional não se encerre precocemente. Se reescrever é a palavra de ordem para o momento.

Desaprender para poder aprender é a chance que temos para escrevermos um novo capítulo da nossa história.

É de fundamental importância que o ser humano procure entender que se sentir “descartável” em qualquer um dos pilares, sejam eles no profissional, pessoal ou social, nada mais é do que um eficaz indicador para podermos entender que precisamos iniciar um processo de transformação. Não sendo ele, de forma alguma, um gatilho desmotivacional ou de frustração, mas sim um kickoff para encontrar um novo recomeço.

Trata-se de uma oportunidade ímpar de se reeditar, ampliando assim o seu nível de empreendedorismo, empregabilidade e satisfação pessoal.

Até breve…

 

FOTO BIO - Sentir-se “descartável”, por que não?

Luiz Fernando Mora é formado em Administração de Empresas com MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 38 anos de carreira no Sistema Financeiro atuando em Engenharia de Processos, Planejamento Estratégico e Gestão de Pessoas. Aos 50 anos, diagnosticado com câncer (linfoma de Hodgkin) passou por um processo de cura que o fez enxergar a vida em novas dimensões. Hoje, aos 54 anos, está em processo de remissão da doença e somou na sua carreira, os papéis de palestrante e escritor. É também mentor pela MBB Mentoring Behavioral Balanced. A experiência em lidar com a doença lhe ensinou novos valores, em especial, que lhe proporcionaram ser um ser humano diferente no âmbito pessoal, social e profissional, sempre buscando o equilíbrio entre corpo, mente e alma. É Colunista EA “Elixir da Vida”.

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