Por Luciel Henrique de Oliveira

 

A busca por práticas empresariais mais éticas e sustentáveis não é apenas uma tendência, mas uma necessidade imperativa no contexto atual. Movimentos globais que pressionam por critérios ESG (Ambientais, Sociais e de Governança) têm desafiado empresas a reconsiderarem seus modelos de negócio, equilibrando desempenho financeiro e impacto socioambiental. Este artigo explora como práticas baseadas em ESG estão transformando organizações.

ESG como pilar estratégico

As empresas que integram práticas ESG em sua governança alcançam melhor desempenho financeiro e constroem relações mais sólidas com stakeholders. Empresas que se alinham a esses critérios têm atraído maior volume de investimentos e obtido uma valorização mais significativa de suas marcas. Além disso, o impacto positivo dessas práticas vai além do mercado financeiro, promovendo inovação, eficiência operacional e retenção de talentos.

A Natura, ilustra bem essa integração. Reconhecida globalmente por suas práticas sustentáveis, a empresa incorporou ESG em sua cadeia produtiva, com destaque para o uso de ingredientes da biodiversidade amazônica, parceria com comunidades locais e programas de reciclagem de embalagens. Esses esforços não apenas consolidaram sua posição no mercado, mas também inspiraram outras empresas a adotar caminhos similares.

Exemplos e impactos setoriais

O impacto de práticas ESG não se restringe a um setor específico. No setor de alimentos e bebidas, a Ambev implementou iniciativas de economia circular, como reaproveitamento de resíduos na produção de cervejas. Já no segmento de tecnologia, a Apple comprometeu-se a tornar suas operações neutras em carbono até 2030, investindo em energia renovável e reciclagem de componentes eletrônicos.

Os estudos citados no fim deste texto chamam atenção para o papel das pequenas e médias empresas, que frequentemente enfrentam desafios financeiros e estruturais para adotar critérios ESG. No entanto, exemplos práticos demonstram que, mesmo com recursos limitados, é possível implementar mudanças significativas. Startups no setor de moda sustentável, por exemplo, têm mostrado como o uso de materiais reciclados e modelos de produção sob demanda podem atender às expectativas de consumidores conscientes.

Desdobramentos e aplicações práticas

A transposição de práticas ESG para diferentes setores é um caminho promissor, mas requer planejamento estratégico. Algumas direções práticas incluem:

  • Incorporação da rastreabilidade: Ferramentas como blockchain podem ser aplicadas para garantir transparência em cadeias de suprimento, reduzindo irregularidades e aumentando a confiança do consumidor.
  • Educação corporativa: Capacitar colaboradores e fornecedores sobre os benefícios de práticas ESG cria uma cultura organizacional que valoriza a sustentabilidade.
  • Adoção de métricas claras: Indicadores como pegada de carbono, consumo de água e inclusão de diversidade nos quadros corporativos ajudam a medir e comunicar avanços.

Barreiras e oportunidades

Embora os benefícios sejam claros, a implementação de ESG apresenta desafios significativos. Destacam-se a resistência cultural e os custos iniciais elevados como os principais obstáculos. No entanto, empresas que se comprometem a longo prazo frequentemente relatam economias operacionais e maior atração de talentos, além de benefícios reputacionais.

Considerações finais

As discussões sobre sustentabilidade evidenciam que o conceito não é estático, mas sim uma construção dinâmica, permeada por influências culturais, sociais e econômicas. As organizações enfrentam um desafio duplo: atender às demandas regulatórias e sociais enquanto equilibram os objetivos financeiros.

Essa realidade exige uma abordagem estratégica que integre sustentabilidade como valor central, indo além do cumprimento simbólico e promovendo ações concretas que impactem positivamente a sociedade e o meio ambiente.

Gestores devem refletir sobre como suas decisões estão alinhadas aos valores que desejam transmitir ao mercado e aos stakeholders. A sustentabilidade, quando tratada de forma genuína, pode ser uma poderosa ferramenta para a criação de valor e longevidade organizacional. No entanto, isso exige o enfrentamento de questões fundamentais: sua organização está disposta a transformar discursos em práticas reais?

Quais barreiras precisam ser superadas para que a sustentabilidade seja uma força motriz, e não apenas uma resposta a pressões externas?

Por fim, deixo uma questão para reflexão: sua empresa está preparada para liderar uma mudança autêntica ou continuará a seguir modelos que não garantem impacto real? A resposta a essa questão pode definir o futuro do negócio no contexto de um mercado cada vez mais exigente e interconectado.

Para saber mais:

  • LUZ, E. H. da; BELLI, R. F.; SANTOS, R. C. dos. Administração verde: o caminho sem volta da sustentabilidade nas organizações. Journal of Urban Technology and Sustainability, v. 6, n. 1, e48, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.47842/juts.v6i1.48. Acesso em: 02 jan. 2025.
  • MORAES, Stânia. Transparência e sustentabilidade: o caminho para o valor empresarial além do lucro. Valor Econômico, São Paulo, 12 dez. 2024. Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/esg/artigo/transparencia-e-sustentabilidade-o-caminho-para-o-valor-empresarial-alem-do-lucro.ghtml. Acesso em: 03 jan. 2025.
  • SANTOS, Fábio Coelho Netto et al. Sustentabilidade empresarial e ESG: uma distinção imperativa. Revista de Gestão e Secretariado, v. 14, n. 1, p. 247-258, 2023.
  • ZANONI, Beatriz Lima; OLIVEIRA, Samir Adamoglu de. Reflexões sobre o sentido de sustentabilidade em organizações. Revista de Administração de Empresas, v. 63, n. 2, p. e2022-0028, 2023.

 

Luciel H de Oliveira 1 - Sustentabilidade como estratégia: Você está preparado para o futuro dos negócios?

  • Luciel Henrique de Oliveiraé engenheiro Agrônomo e doutor em Administração (FGV), pós-doutorado em Inovação, dedicado à academia como professor e pesquisador desde 1990 (FACAMP; UNIFAE; PUC-MG). Com vasta experiência em Gestão de Operações e Logística, destacam-se seus estudos e pesquisas em temas como Inovação & IA, Agronegócios, Gestão de Serviços, Sustentabilidade/ESG, Economia Circular e Responsabilidade Social Empresarial. Comprometido com o impacto social, acredita no poder transformador da educação, na importância da colaboração em rede e no empreendedorismo para gerar mudanças positivas na sociedade mediante soluções inovadoras. Colunista EA “ESG & Vida Sustentável”.

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