Por Geliane Mostaço

 

Falar sobre dinheiro é ainda um tema muito sensível e restrito nas conversas entre família, colegas de trabalho, amigos e relacionamentos afetivos.

Problemas com dinheiro impactam nossa saúde física, emocional e nas relações do nosso dia a dia. Além de ainda ser um tabu, falar sobre a renda familiar e admitir estar endividado, é ainda mais constrangedor.

A preocupação financeira é uma das principais fontes de estresse. A incerteza se terá dinheiro para honrar os compromissos no mês, gera um estado constante de ansiedade que, se não for buscar ajuda, pode levar a situações crônicas na saúde emocional, física e na própria saúde financeira.

Em geral, as pessoas que estão com dificuldades financeiras, quase sempre não compreendem a atual situação, não sabem como chegaram no descontrole, por vezes não conseguem somar o montante da dívida e nem o caminho para sair delas.

Sabemos que o consumismo exagerado de que, precisamos comprar para ter ou para provar para o outro que somos capazes, é provocado pelo mercado de bens e consumo e, muitas pessoas são envolvidas por esse consumo exagerado, por não conseguirem lidar bem com suas frustrações e questões emocionais.

Acabam descontando as emoções no consumo, de forma inconsciente.

A causa, na maioria das vezes, é emocional e o descontrole financeiro é a consequência.

As consequências dessas questões de consumo descontrolado são desastrosas para o indivíduo, pois afetam várias áreas de sua vida:

  • Relacionamento afetivo. A tensão causada por dificuldades financeiras pode resultar em brigas, falta de comunicação e, em casos extremos, separação ou divórcio. Esses conflitos adicionam uma camada extra de estresse emocional e podem afetar negativamente toda a família.
  • Relações no trabalho. Além de afetar a produtividade, desempenho, criatividade, pode resultar em conflitos de relacionamento interpessoal e, casos extremos, em demissão ou, se tiver uma empresa, na falência.
  • Baixa autoestima. Frequentemente experimentam uma queda na autoestima, na confiança em suas próprias habilidades e capacidade. A sensação de fracasso em gerir as próprias finanças pode levar a um ciclo negativo de autocrítica e desvalorização.
  • Saúde Física. Preocupações financeiras podem levar à insônia, distúrbios emocionais como ansiedade que pode desencadear num desequilíbrio alimentar tanto para a compulsão alimentar quanto para um emagrecimento extremo pela falta de apetite causada pelo estresse.
  • Isolamento Social. A pessoa com dificuldades financeiras se sente envergonhada ou constrangida, isolando-se socialmente.
  • Comportamento de Risco. Para lidar com o estresse financeiro, a pessoa pode não ter suporte emocional para apoio, podendo desencadear um comportamento de risco extremo à sua saúde e bem-estar, como abuso de álcool, drogas ou jogos de azar;
  • Impacto Intergeracional na Família. Os pais que não conseguem lidar com as questões financeiras, podem ter menos capacidade emocional e inclusive financeira, comprometendo a educação de seus filhos e desencadear problemas emocionais e de comportamento nas crianças.

No Brasil, a situação de endividamento das famílias é um tema de grande preocupação.

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) realizada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, dados de maio/24, 78,8% das famílias brasileiras estavam endividadas e destas, em torno de 12% não terão condições de pagar as contas. Esses dados seguem numa curva constante e de crescimento. As projeções apontam que o nível de endividamento deve crescer nos próximos meses, chegando a 79,9% em dezembro/24. Já a proporção de famílias inadimplentes deve manter trajetória de queda, fechando o ano em 27,3%.

Os principais tipos de dívidas são:

  • Cartão de crédito: Este é o tipo de dívida mais comum entre os brasileiros, representando a maior parte do endividamento.
  • Crédito pessoal e consignado: Outra forma significativa de endividamento.
  • Financiamento de veículos e imóveis: Embora sejam dívidas de longo prazo, também compõem uma parte relevante do endividamento das famílias.
  • Cheques especiais e outros empréstimos: Contribuem para o quadro geral, embora em menor proporção

Quanto ao perfil dos endividados:

  • Renda: Famílias de baixa e média renda são as mais afetadas, muitas vezes devido à falta de planejamento financeiro e à necessidade de recorrer a crédito para despesas essenciais.
  • Idade: Adultos jovens e de meia-idade tendem a ter maiores níveis de dívida, principalmente devido a compromissos com educação, moradia e consumo.
  • Gênero: As mulheres seguem mais endividadas com 78,8% ante 77,2% dos homens. A proporção de renda comprometida com dívidas entre as mulheres é cerca de 30,6%, isso porque as mulheres assumem a responsabilidade pela gestão das finanças domésticas, podendo levar ao uso excessivo de crédito para equilibrar o orçamento familiar.

Em resumo, os problemas financeiros têm impacto profundo e muito abrangentes na saúde das pessoas, não apenas na saúde emocional provocado pelo estresse e ansiedade, mas também na saúde física desencadeando doenças crônicas com impactos que podem ser profundos.

Reconhecer a conexão entre saúde financeira e a saúde integral é crucial para desenvolver estratégias que promovam o bem-estar geral.

A educação financeira e o acesso aos recursos de apoio como psicoterapias, que venham ajudar nas questões emocionais, podem desempenhar um papel vital na mitigação desses efeitos e na promoção de uma vida mais saudável e equilibrada.

Programas de educação financeira são fundamentais para ajudar as pessoas a gerirem melhor seus recursos, evitarem o endividamento excessivo e planejarem seu futuro financeiro.

A chave para uma vida saudável, é o equilíbrio em todos os pilares da vida, e o financeiro é um dos principais deles.

 

Geliane

Geliane Mostaço é administradora de empresas, experiência de mais de 30 anos no mercado financeiro, MBAs em Gestão por Processos (FIA); Gestão Empresarial (FGV), Investimentos em Private Banking (IBMEC); Pós-graduação em Educação Financeira (Instituto Soaper). Proprietária da Geliane Mostaço Consultora de Finanças e Negócios especializada em Finanças Pessoas e Empresarias para Mulheres. Embaixadora Master do Clube de Mulheres de Negócios em Língua Portuguesa. Membro do G100 Global Networking Wing. Atua no mercado como consultora, palestrante, escritora e educadora financeira. Colunista EA “Educação Financeira”.

LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/geliane-mostaco/

 

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