Por Patrícia Milaré Bertão
O problema é sempre do outro? Será que sabemos olhar bem o que acontece no nosso quintal? Pois bem, para mim, a resposta é nem sempre! Dias atrás, entre uma agenda e outra, precisei participar de uma reunião dentro do carro. Meu celular estava com pouca bateria e fui carregando. Cheguei, estacionei, ajeitei o computador como deu, me conectei no wi-fi, tudo pronto e estava plena para participar da reunião.
A reunião começou transcorrendo normalmente e, na transição de um assunto para outro, comecei a ouvir uma música alta, um pagode, e fiquei incomodada com a falta de senso do carro do lado, ao qual imaginei que estivesse com o som ligado e com certa altura.
Mas, não tinha como sair da reunião, abrir o carro e gentilmente pedir que a pessoa abaixasse o som.
Resolvi deixar o microfone desligado, ligando somente quando necessário. Quando ligava, procurava falar o mais rápido possível para evitar aquele constrangimento. Confesso que não via o momento de a reunião finalizar, de tanto que o som estava perturbando. Que pessoa sem noção. É óbvio que ela não tinha a mínima ideia de que eu estava em uma agenda. Mas mesmo assim.
Enfim, a reunião terminou. Imediatamente, abri a porta do carro para falar com a pessoa e pedir para baixar o som.
Ela não precisava saber que a reunião havia acabado. E assim, se tocaria se acontecesse outra vez. Foi aí que tive uma grande surpresa.
Não havia ninguém no carro ao lado, nem do outro e muito menos com o som ligado. E a música ainda tocava. Fiquei intrigada, mas voltei para o carro e tive uma grande lição.
O som ligado era do meu carro e nem havia percebido.
Como estava carregando o celular, deixei a chave num ponto certo para isso. Durante a reunião, mexi no rádio e liguei o som sem querer e a pessoa sem noção era eu mesma.
Na hora, senti minha face emburrecer. Fiquei com sentimento de raiva de mim mesma. Estava sozinha e fiquei envergonhada.
Uma boa cutucada na soberania de “moça que faz as coisas certas”. Que erramos é fato, assim como qualquer pessoa. Não somos perfeitos. Precisamos apenas entender que também não acertamos sempre (ué, não é a mesma coisa??).
Isso não acontece apenas e tão somente no mundo corporativo, mas em nossa vida, em todas as suas áreas. Esquecemos, inclusive, que a verdade, a opinião e o ponto de vista sempre têm três lados, o meu, o seu e o verdadeiro.
Resolvi relatar esse fato e trazer essa reflexão sobre os julgamentos que muitas vezes podemos fazer sobre o outro sem ao menos olhar para o nosso próprio umbigo.
- Julguei sem nem pestanejar
- Esqueci de avaliar o meu terreno
- Me enchi de razão
Esse pequeno problema foi sem consequências, com apenas um personagem que criou uma narrativa que fazia sentido e que acomodava uma percepção. Mas poderia ter sido diferente e ter deixado marcas, muitas vezes fortes, que poderiam custar caro à reparação, o tempo e esforço perdidos.
Portanto, lição aprendida. Antes de julgar, avalie a si próprio. Talvez o telhado de vidro seja o seu.
Patrícia Milaré Bertão é casada e mãe de duas filhas. Formada em Secretária Executiva (USC), Administração de Empresa (UNIFAE) e MBA em Gestão Empresarial (FAE). É coordenadora sênior Account, TIM Brasil. Participa de um blog que trata sobre diversos temas e assuntos como Comportamento, Relacionamentos e Mundo Corporativo (@vem_que_a_gente_explica). Voluntária na Social Startup, sem fins lucrativos, com foco no desenvolvimento humano – Da Periferia para a Faria Lima. Tem um viés poético e tem três poesias classificadas e publicadas em livros, Poetize 2022 Seleção Poesia Brasileira, Poesia Livre 2022 e Poesia BR. Escrever é meu divã! Colunista EA “Mundo Organizacional”.
linkedin.com/in/patriciaszelpalmilarebertao
Fale com o editor