Por Mauricio Munhoz

 

Como costumo dizer: “Lá em Paris deve existir uma empresa…”

Neste texto complemento a frase acima: “… que valoriza apenas os indicadores que estão no vermelho, não dando espaço para as celebrações das conquistas diárias”.

Mau, como assim…?

Pois sim. Eu conheço organizações que possuem uma cultura organizacional onde se prioriza a experiência de práticas que jogam sempre luz nos indicadores que estão “no vermelho”.

Isso pode ser feito de modo muito bem estruturado através de reuniões onde só entram em pauta os gaps, discutindo apenas “aquilo que não deu certo”.

É reunião de staff com gestão para discutindo motivos e soluções para os tais indicadores em vermelho.

Depois há reunião da liderança com seu executivo, trazendo os mesmos pontos. E para finalizar, sim: outra reunião, agora entre os executivos e a posição mais alta, abordando todos os temas em vermelho.Para não ficarem só nisso, ainda pode haver lugar para uma reunião geral, onde a alta liderança passa todos os pontos em vermelho para todos os colaboradores da empresa, numa plenária para lá de esperada por todos (fui piadista, aqui).

Mas isso, só lá em Paris…

E para aquele outro universo que contem tudo o que deu certo? Bom, aqui pode-se dar espaço para frases como “o melhor será o próximo” e suas variações.

Antes de trazer minha visão sobre isso, se faz importante anotar aqui: olharmos para o que podemos fazer diferente é fundamental. Abraçarmos nossos problemas, nossos erros com desejo de aprender e superá-los de modo consistente é essencial seja para melhorarmos nosso patamar de atendimento, seja para mantê-lo nas alturas.

Não discuto isso. É fato.

Agora, o ponto que trago aqui é: o de que se faz igualmente fundamental para o sucesso das organizações. Que a liderança invista seu tempo para olhar e valorizar o que é bem feito, sabendo celebrar, reconhecer e valorizar as pessoas de modo igualmente consistente!

E não venham com afirmações como “ah, mas aqui fazemos festa junina, celebramos os aniversários, damos day off” etc e tal, por que tudo isso é outra coisa.

Como curiosidade, veja o que a Gallup trouxe para nós como pesquisa, na metade de 2023 sobre engajamento das pessoas:

  • 70% do engajamento das pessoas passa necessariamente por práticas da liderança
  • colaboradores que confiam fortemente em sua liderança, são 4x mais propensos a se sentirem engajados
  • 73% menos colaboradores têm burnout quando concordam fortemente que sua liderança se comunica de modo eficiente com outras áreas da empresa
  • 7,5 x mais colaboradores se sentem conectados com a cultura organizacional quando sua liderança os auxilia a verem/compreenderem os impactos das mudanças atuais no futuro da empresa

Ah, Mau, mas aqui não vi dicas práticas sobre como efetivamente se pode atuar nesse engajamento.

Ok. Na mesma pesquisa temos que 80% dos colaboradores que afirmam terem passado por “conversas significativas” nos últimos 7 dias, se sentem totalmente engajados no seu trabalho.

Repito, pois vale o tempo: 80% dos colaboradores que afirmam terem passado por “conversas significativas” nos últimos 7 dias, se sentem totalmente engajados no seu trabalho.

A pergunta que deve surgir naturalmente na sequência é: mas afinal de contas, o que seriam essas conversas significativas?

Já adianto que não são sobre indicadores no vermelho, e muito menos envolve ciência de foguetes.

São simplesmente momentos de encontro, virtual ou online, em que a liderança propõe:

  1. Reconhecimento ou apreciação por um trabalho recente.
  2. Construção de colaboração e conexão entre as pessoas. Líderes possuem um papel chave em conectar as pessoas certas nos times, entre os times.
  3. Clareza nos objetivos e prioridades sobre as atividades do trabalho. Papeis e responsabilidades são claros entre todos.
  4. Reforço sobre forças, competências dos colaboradores, ou coisas que eles fazem bem
  5. Duração da conversa pode ser perfeitamente algo entre 15 e 30 minutos. Este tempo é mais que suficiente para termos conversas significativas, desde que aconteçam de modo regular.

Resumindo: engajamento passa necessariamente por práticas simples e importantes da liderança, onde esta é capaz de comunicar de modo claro o que deve ser feito (e o motivo disso), por quem deve ser feito e porque.

Esta mesma liderança se coloca no papel de facilitador das tarefas, conectando as pessoas, e sabe observar e reconhecer/agradecer o trabalho bem feito pelas pessoas da equipe!

15 minutinhos a cada semana (máximo 10 dias) servem!

Trago isso tudo sem nem mencionar o quão gostoso é, como líder, reconhecer e celebrar com a pessoa o seu bom trabalho!

Compartilho que como líder, na minha caminhada, eu já me vi em momentos em que era craque em fazer gestão de indicadores com a equipe, mas negligenciava a liderança e o desenvolvimento das pessoas.

O preço?

Turnover maior, mais afastamentos médicos, maior índice de erros repetidos e por aí foi.

Por isso, atualmente gosto de me provocar com duas perguntas, as mesmas que faço para você, agora:

  • Quando foi a última reunião que você fez para discutir os indicadores da área?
  • Quando foi seu último momento para refletir sobre sua liderança e sobre o desenvolvimento da sua equipe?

Se for mais difícil dar a resposta para a segunda pergunta, vale ler novamente esse artigo.

Engajar as pessoas é fundamental para o sucesso e sustentabilidade dos resultados da organização, para a saúde mental e bem-estar da equipe, é gostoso (muito!), e está em nossas mãos, queridos líderes.

Bora adiante.

 

MAuricio MUNHOZ 150x150

Maurício Munhoz é sócio-proprietário da Human Connection Desenvolvimento Humano. Consultor Sênior com atuação em projetos e ações de Treinamento & Desenvolvimento, Transformação Cultural e Gestão de Mudanças Organizacionais. Se diz um curioso sobre coisas da vida. É adepto de uma vida simples, de viagens e de conhecimentos, sendo que como diz, seu maior patrimônio reside na sua relação com a sua esposa e a família. Tem como grande motivação deixar o mundo (pelo menos um pouquinho) melhor. É colunista EA “Cultura: E o RH com isso?”

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