Por Luciel Henrique de Oliveira

 

Os Jogos Olímpicos terminaram recentemente e ficam inúmeras reflexões e ensinamentos desse principal evento esportivo internacional, que desempenha papel vital na promoção de agendas globais de sustentabilidade, governança ética e inclusão social.

Integrar os princípios ESG (ambiental, social e de governança) nos Jogos é essencial para criar um modelo de excelência esportiva sustentável. Neste artigo, exploramos os principais tópicos ESG fundamentais que os Jogos Olímpicos estão abordam, ilustrados com exemplos de empresas e casos conhecidos, tanto internacionais quanto brasileiras.

  1. Sustentabilidade ambiental na infraestrutura

A construção de locais olímpicos oferece uma oportunidade única para liderar práticas de construção sustentável. Nos Jogos de Tóquio 2020, por exemplo, os estádios foram construídos com madeira de florestas geridas de forma sustentável. No Brasil, a Natura é um exemplo notável, utilizando materiais renováveis e investindo em arquitetura verde para suas instalações, demonstrando que é possível alinhar construção e sustentabilidade.

  1. Mitigação das mudanças climáticas

Os Jogos Olímpicos geram emissões de carbono significativas, desde viagens internacionais até a construção de locais. Estratégias como compensação de carbono, promoção de fontes locais e uso de energias renováveis são essenciais para alcançar a neutralidade de carbono.       A Microsoft comprometeu-se a ser carbono negativo até 2030, e no Brasil, o Boticário está investindo em energia solar para reduzir suas emissões, estabelecendo padrões que os Jogos de Paris 2024 também estão adotando.

  1. Conservação da água

A gestão da água é essencial devido ao uso extensivo nos Jogos. Tecnologias de economia de água, processos de reciclagem e escolha de locais que não sobrecarreguem os recursos hídricos locais são medidas essenciais. A Coca-Cola tem programas de reabastecimento de água, devolvendo mais água à natureza do que consome. No Brasil, a Ambev implementa práticas de gestão eficiente da água em suas fábricas, servindo como exemplo de conservação hídrica.

  1. Redução e gestão de resíduos

A gestão eficaz de resíduos é essencial para lidar com o aumento de resíduos durante os Jogos. Iniciativas de reciclagem, compostagem e políticas de desperdício zero são exemplos de liderança na redução de resíduos. A Unilever comprometeu-se a reduzir pela metade o desperdício associado ao descarte de seus produtos até 2025. No Brasil, a empresa de cosméticos Granado tem políticas rigorosas de reciclagem e gestão de resíduos, destacando-se como líder no setor.

  1. Biodiversidade e conservação

Proteger os ecossistemas locais durante a construção e realização dos Jogos é fundamental.    A integração da conservação da biodiversidade no planejamento e nos projetos de legado ajuda a promover a saúde ecológica a longo prazo. A Patagonia é conhecida por suas iniciativas de conservação ambiental, incluindo a doação de 1% de suas vendas anuais para projetos ambientais. No Brasil, o Instituto Terra, fundado por Sebastião Salgado, é um exemplo brilhante de conservação e recuperação de ecossistemas.

  1. Direitos Humanos e padrões trabalhistas

Os Jogos Olímpicos são uma plataforma poderosa para promover os direitos humanos e padrões trabalhistas, garantindo práticas de trabalho justas, combatendo a discriminação e promovendo a diversidade e inclusão. A Apple tem políticas rigorosas para garantir condições de trabalho justas e seguras em toda a sua cadeia de suprimentos. No Brasil, a Embraer é reconhecida por suas práticas de inclusão e respeito aos direitos trabalhistas.

  1. Envolvimento comunitário e legado

O verdadeiro valor dos Jogos reside no seu legado, que inclui a criação de oportunidades de emprego sustentáveis, a melhoria da infraestrutura local e o fomento à participação juvenil nos esportes. O projeto de regeneração urbana em East London após os Jogos Olímpicos de 2012 transformou a área em um centro vibrante de negócios e lazer. No Brasil, a revitalização da Zona Portuária do Rio de Janeiro, impulsionada pelos Jogos Olímpicos de 2016, trouxe benefícios duradouros à comunidade local.

  1. Transparência e anticorrupção

Com investimentos financeiros significativos, os Jogos devem manter os mais altos padrões de transparência e governança, com processos de contratação claros, medidas rigorosas de combate à corrupção e robustos mecanismos de monitoramento. A Siemens, após um grande escândalo de corrupção, implementou um programa de compliance robusto que serve de modelo para muitas outras empresas. No Brasil, a Petrobras tem trabalhado para restabelecer sua imagem e confiança pública através de rigorosos programas de governança e transparência.

  1. Inclusão e acessibilidade

Os Jogos Olímpicos têm a capacidade única de promover a inclusão, garantindo acessibilidade para todos, incluindo pessoas com deficiências, e promovendo a igualdade de gênero e a participação em todos os níveis do movimento olímpico. A Nike, com sua linha de produtos acessíveis e iniciativas como a campanha “Dream Crazier”, promove a inclusão e a igualdade no esporte. No Brasil, o Banco Itaú tem diversas iniciativas voltadas para a inclusão de pessoas com deficiência em seu ambiente de trabalho.

  1. Inovação e sustentabilidade

A inovação desempenha um papel fundamental na promoção da sustentabilidade nos Jogos Olímpicos. O uso de tecnologia para monitorar o consumo de energia, gerenciar resíduos e otimizar recursos naturais pode transformar a forma como eventos de grande escala são realizados. Nos Jogos de Inverno de Pequim 2022, drones foram usados para monitorar a qualidade do ar e garantir um ambiente saudável para os atletas. No Brasil, na Argentina, no Chile e na Colômbia, a startup Tembici está revolucionando a mobilidade urbana com suas bicicletas elétricas compartilhadas, promovendo um meio de transporte sustentável e eficiente nas grandes cidades.

Conclusão

Integrar princípios ESG nos Jogos Olímpicos é essencial para a sustentabilidade e integridade ética do evento. Ao abordar esses nove tópicos, os Jogos podem servir como um modelo de prática sustentável e governança responsável, inspirando iniciativas semelhantes em outros eventos globais. Além disso, o mais importante dos Jogos Olímpicos é seu legado. A verdadeira marca deixada pelos Jogos não está apenas nos recordes quebrados e nas medalhas conquistadas, mas nas transformações positivas e duradouras que promovem nas cidades-sede e nas comunidades ao redor do mundo. Projetos de infraestrutura, melhorias sociais e econômicas, e a promoção de valores como inclusão, igualdade e respeito são as heranças que fazem dos Jogos Olímpicos um catalisador para um futuro melhor e mais sustentável.

Questões para reflexão:

  • Como sua empresa ou comunidade pode implementar práticas sustentáveis semelhantes às dos Jogos Olímpicos?
  • Que medidas estão sendo tomadas em sua organização para garantir transparência e combater a corrupção?
  • Como podemos promover maior inclusão e acessibilidade em nossos ambientes de trabalho e eventos comunitários?

Ao refletirmos sobre essas questões, podemos nos inspirar nos Jogos Olímpicos para criar um futuro mais sustentável e inclusivo em nossas próprias comunidades e organizações.

Para saber mais:

 

Luciel H de Oliveira 1 - Fatores ESG nos Jogos Olímpicos: Iniciativas de sustentabilidade que inspiram empresas e comunidades

Luciel Henrique de Oliveira é engenheiro Agrônomo e doutor em Administração (FGV), pós-doutorado em Inovação, dedicado à academia como professor e pesquisador desde 1990 (FACAMP; UNIFAE; PUC-MG). Com vasta experiência em Gestão de Operações e Logística, destacam-se seus estudos e pesquisas em temas como Inovação & IA, Agronegócios, Gestão de Serviços, Sustentabilidade/ESG, Economia Circular e Responsabilidade Social Empresarial. Comprometido com o impacto social, acredita no poder transformador da educação, na importância da colaboração em rede e no empreendedorismo para gerar mudanças positivas na sociedade mediante soluções inovadoras. Colunista EA “ESG & Vida Sustentável”.

www.linkedin.com/in/lucieloliveira

 

Fale com o editor:

eamagazine@eamagazine.com.br