Por Daniel Rodrigues
Sabemos que temos diferentes motivos para empreender. Há os que empreendem pela oportunidade. Há aqueles que empreendem por mera necessidade de sobrevivência. Também há os que empreendem na segurança dos seus próprios empregos (intraempreendedorismo) contribuindo para novas unidades de negócios existirem. Enfim, não importa o motivo que nos leve a empreender, é sempre muito importante buscarmos conectar esse motivo com nosso propósito pessoal para que estejamos inteiros nesse processo empreendedor.
Como sabemos, empreender é uma atividade árdua, que exige muito empenho, dedicação, entrega, horas e horas a fio de trabalho para poder realizar um sonho.
E aqui não cabe medirmos sonhos, já que todo e qualquer sonho é uma grande realização pessoal e o propósito de realizá-lo pode nos mover de maneira muito intensa, sem que muitas vezes possamos nos dar conta disso, inclusive.
Quem empreende por necessidade e tem o sonho de conseguir colocar comida na mesa todos os dias para a família pode ter um reforço de resiliência necessária aos desafios diários que enfrenta na sua rotina.
Quem empreende por paixão pode ter no amor pela sua ideia e na vontade de vê-la, contribuindo para o mundo a energia necessária para superar todos os obstáculos que, na maioria das vezes, nos parecem intransponíveis.
Sei que muitos sonham em empreender. E muitos que dão esse passo acabam desistindo algum tempo depois.
Quer porque não se encontraram nesse processo.
Quer porque os custos não compensaram os benefícios.
Quer porque não conseguiu ter a energia necessária que o negócio demandava para poder engrenar e ir para frente.
Isso é comum não apenas no empreendedorismo, mas em qualquer atividade humana que exija esforço de longo prazo, incluindo os estudos também, que é minha área de especialidade. Basta ver quantos começam um curso de idiomas e quantos de verdade concluem com a proficiência que desejavam.
Meu convite para qualquer profissional que queira empreender é, antes mesmo de desenhar o plano ou o canvas do negócio, fazer um mergulho profundo de autoconhecimento para que possa se conectar com seu verdadeiro propósito de vida. Entender seus pontos fortes e seus pontos fracos, ter consciência dos valores que são inegociáveis para si, para que com todo esse autoconhecimento possa fazer com que o propósito seja o alicerce que dará base e estrutura para seu empreendimento.
Hoje é muito comum falarmos de negócios com propósito.
E muitos empreendedores caem na cilada de olhar para um negócio como se ele pudesse nascer apenas das palavras que são colocadas no papel no planejamento. Fica lindo no papel, mas pode esquecer! O propósito de qualquer negócio virá, na verdade, da conexão do propósito do seu fundador com o próprio negócio.
O fundador desdobrará seu DNA para o negócio, transbordando seus pontos fortes para potencializar o negócio.
Mas ao mesmo tempo, também levando consigo seus pontos fracos que se não tiver consciência e prestar atenção poderão contribuir para o insucesso simplesmente pela falta de autoconhecimento.
Quando temos como fundadores, um ponto fraco, que não pode ser um ponto fraco para o negócio, a melhor solução é sempre buscar a complementariedade. Um sócio ou um colaborador que tenha esse ponto forte que o negócio precisa para que tenhamos mais chances de sucesso na empreitada.
Sem o autoconhecimento, não conseguimos perceber que muitas das dificuldades que enfrentamos podem estar justamente no fato de que o que o negócio demanda são nossos pontos fracos.
Para evitar entrar numa fria dessas, precisamos fazer sempre o inverso, como mencionei acima.
Primeiro me conheço para depois me lançar a um negócio que estará ancorado nos meus pontos fortes para que esse transbordamento do meu DNA para o negócio potencialize incrivelmente os resultados.
Se conectar com o propósito
Quando nos conectamos profundamente com a força do nosso propósito, é uma energia tão forte, que o sentimento é o de que é algo pelo qual vale a pena até morrermos por ele já que, sem ele em nossa vida, nossa vida perderia todo o sentido. E veja que estamos falando de propósito de vida mesmo e não de uma atividade no negócio.
As atividades mudam com a mudança do mundo.
O propósito é muito mais profundo, conectado com nossa alma e tende a ser mais estável e dar força para todas as demais mudanças necessárias para nossa sobrevivência e para a sobrevivência do negócio.
Ancorar o sentido da nossa vida num propósito claro e verdadeiro, nos permitirá sobreviver aos fracassos que, inevitavelmente, serão parte da jornada de qualquer empreendedor. Eu não conheço nenhum empreendedor de sucesso que não colecione fracassos na sua jornada.
Mas muitos empreendedores desistem justamente por não darem conta de suportar o próprio fracasso quando acontece. Por falta de autoconhecimento, muitos se misturam com os fatos e se tornam os fatos que levaram ao fracasso em vez de poderem ter consciência de que há fatos sobre os quais não temos nenhum controle e há nossa consciência, nossas atitudes e nossas emoções sobre as quais podemos sempre agir.
Gênio é aquele que faz o óbvio.
E ao agirmos nesse nível podemos manter sempre forte a conexão do propósito ao empreender para que na longa jornada de empreendedorismo possamos acolher nossos fracassos entendendo o quanto podem nos fortalecer para nos impulsionar para todo o sucesso que merecemos.
Desde o início da minha jornada empreendedora era visível a conexão do meu propósito de vida com minha própria atuação profissional como professor de idiomas. Então para mim foi um pouco mais fácil já que desde muito jovem já atuava como professor e já atendia a esse meu propósito de me conectar com pessoas para poder contribuir para transformar a vida de cada uma delas a partir da nossa interação com nossos conhecimentos. Ao empreender, segui na área de educação e pude cultivar esse mesmo propósito intensificando-o como proposta de valor ou diferencial competitivo do meu negócio. Parece óbvio. E realmente é. Mas como costumo dizer, gênio é aquele que faz o óbvio.
É óbvio que os clientes gostam de ser bem atendidos. Mas poucas são as empresas que dão conta de atender realmente bem os seus clientes. E mais de 65% dos clientes reclamam dos atendimentos que tiveram. Provavelmente pela falta de conexão de quem atende com o propósito do negócio, que muitas vezes vem da inexistência dessa conexão com o próprio fundador da empresa.
Vitórias, prêmios e derrotas
Durante essa longa jornada, colecionei muitas vitórias, vários prêmios, muito sucesso e inúmeros fracassos. Hoje olhando para traz, vejo o quanto a superação dos fracassos se tornou marcos de evolução da minha jornada como empreendedor.
Como vamos aprendendo ao longo da caminhada, faz bem menos tempo que passei a entender a importância de disseminar o propósito continuamente pela empresa todo dia, dando o exemplo para todos. E, para isso, precisamos cultivar nossa própria conexão com nosso propósito diariamente para que todos sintam que o que fazemos corresponde ao que falamos, gerando coerência e integridade, fortalecendo a cultura e o próprio negócio, portanto.
E é justamente nos fracassos que essas evidências se tornam mais fortes, pois é sempre o propósito, no meu caso pelo menos, que me dá forças para erguer a cabeça e seguir em frente e arriscar de novo para chegar lá. Hoje tenho um ritual diário em que cultivo logo cedo minha conexão com meu propósito interior para que possa ir para o mundo fortalecido e conectado com ele o máximo possível.
E essa força nos levou a fazermos um novo marco aos 20 anos da empresa. Lançamos recentemente, um novo Day 1 de uma Nova CCLi que se tornava ainda mais ágil, mais inovadora, mais tecnológica e mais digital do que nunca. Aproveitamos todos os aprendizados dos 20 anos de existência, mas se permitindo mudar para um novo formato de trabalho totalmente remoto ampliando a visão de nossa empresa para uma EdTech de Idiomas Global. Fortalecemos assim, o próprio propósito com esse movimento. Abraçando todos os desafios que surgem quando nos obrigamos a sair da zona de conforto.
Quem cultiva diariamente essa conexão com o próprio propósito ganha de presente esse convite de continuamente avançar sobre a zona de conforto já que muitas vezes ela não garante que o propósito seja atendido.
E agora façamos uma reflexão. E você? Você conhece a fundo seu propósito? Seus valores? Consegue colocá-lo a serviço do seu sucesso profissional ou do seu sucesso empreendedor?
Daniel Rodrigues é apaixonado por Educação, Inovação e Empreendedorismo. Fundou a CCLi Consultoria Linguística em 2003. Desde então, deixou sua carreira acadêmica e começou sua jornada empreendedora tendo conquistado por esta empresa premiações importantes como o MPE Brasil-SP, o selo GPTW das melhores empresas para se trabalhar no estado de SP e o Prêmio Nacional de Inovação. É investidor-anjo, sócio e mentor estratégico de empresas no segmento educacional e autor do livro “Cultura Inovadora Humanizada”. Colunista EA “Empreender”.
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