Por Luciana Belenton

 

Hoje quero falar com você sobre algo que já deve ter passado pela sua cabeça: como as mulheres enfrentam desafios únicos no mercado de trabalho. Você já ouviu falar sobre a “Síndrome do Degrau Quebrado”? Ela é uma metáfora perfeita para esse obstáculo inesperado – aquele degrau na escada da carreira que nos impede de avançar para o próximo nível. Seja no começo da carreira ou no topo da liderança, esses degraus fragilizados que muitas mulheres pisam podem ser tanto práticas ultrapassadas no ambiente profissional quanto sentimentos internos de insegurança.

Vamos juntas explorar formas de transformar esses obstáculos em degraus sólidos para seguir em frente.

Mas, afinal, o que é a Síndrome do Degrau Quebrado?

Vamos imaginar nossa carreira como uma escada repleta de oportunidades, onde cada degrau representa uma conquista ou a superação de um desafio. A “Síndrome do Degrau Quebrado” ocorre quando se percebe que um desses degraus enfraqueceu – seja por causa da falta de reconhecimento, de apoio no trabalho ou devido às normas sociais antiquadas que ainda existem, principalmente, sobre as mães que trabalham.

É incrível como, às vezes, parece que tudo ao nosso redor comunica que não conseguimos dar conta de tudo – ou é assim que muitas pessoas que olham de fora interpretam.

Para visualizar esse fenômeno, podemos pensar numa mulher que volta ao mercado de trabalho após a licença maternidade. Essa etapa deveria ser um salto para frente, mas muitas vezes, sem suporte apropriado, ela se vê em um ciclo de justificativas e revalidações. Este ciclo se revela um quebra-cabeça diário quando queremos apenas conquistar os avanços para os quais nos preparamos ao longo da nossa carreira sem olhares de dúvida à nossa volta – e é isso que precisamos mudar.

Ao olharmos para a história das mulheres no ambiente de trabalho, percebemos que muitos desafios atuais são reflexos de padrões antigos e estruturais.

A Síndrome do Degrau Quebrado pode ser entendida nesse contexto como uma metáfora para barreiras históricas que ainda se fazem presentes.

Historicamente, as mulheres tiveram acesso restrito à educação e ao trabalho formal, o que criou um atraso em participação e liderança em áreas dominadas por homens. Além disso, durante séculos, papéis claramente definidos mantinham as mulheres ao espaço privado, dentro de casa, enquanto os homens dominavam o público e profissional.

As normas sociais e culturais trazem expectativas de que as mulheres sejam as únicas cuidadoras, o que limita a capacidade de muitas mulheres de se dedicarem livremente a carreiras de alto nível. A pressão da sociedade e dentro das próprias famílias para se conformar a esses papéis tem impactado decisões de carreira e disponibilidade para oportunidades que exigem completa dedicação.

Quando olhamos para dentro das empresas, as políticas organizacionais nem sempre acompanham as necessidades das profissionais de hoje. Como por exemplo, mães criando lacunas nos modelos de licença-maternidade e suporte real para o retorno ao trabalho. Mesmo quando as leis começam a mudar, suas implementações práticas nem sempre garantem a equidade de oportunidades.

E, somado a isso, temos os mitos e preconceitos relacionados aos padrões preconcebidos sobre a competência e habilidade das mulheres em liderar ou resolver situações de crise, o que têm sido uma grande barreira. Essas percepções afetam a progressão de carreira, tendo muitos gestores escolhendo homens independente das qualificações iguais ou superiores de mulheres.

Equilibrando pratos: Carreira, maternidade e o que mais aparecer

Você já sentiu como se estivesse equilibrando pratos que estão sempre girando? Aqui entra uma reflexão interessante através da filosofia Yin-Yang, que enfatiza o equilíbrio dinâmico. Enquanto lidamos com múltiplas funções, focar nesta ideia ajuda a garantir que, mesmo entre altos e baixos, há espaço para suavidade e harmonia entre a carreira e a família.

Por exemplo, pode ser uma boa prática criar um ritual diário que te ajude a se reconectar com ambos os mundos – sejam alguns minutos de meditação antes de começar o dia ou uma pausa para almoçar com seus filhos sem distrações externas. Além disso, refletir sobre o “essencialismo” pode ajudar; concentre-se em atividades que realmente importam e que impactam diretamente o seu bem-estar e crescimento, tanto pessoal quanto profissional.

Essa prática, inspirada no equilíbrio entre opostos, pode transpor barreiras e revitalizar suas energias. Afinal, o equilíbrio se mantém quando estamos em movimento – e não estáticas, achando que nada pode mudar.

Alguns pratos vão cair – só garanta que não sejam os de alto valor para você.

Autoconhecimento é importante para conseguir fazer escolhas melhores.

Derrubando barreiras juntas

Existe uma força poderosa em saber que não estamos sozinhas nessa jornada. Encarar preconceitos ainda presentes no ambiente de trabalho demanda coragem, mas imagine a força amplificada em companhia de outras mulheres. Essa é a essência da “sororidade”, uma forma de nos sustentarmos apoiando umas às outras.

Nós, mulheres, temos a oportunidade de criar redes poderosas de suporte e a sororidade nos lembra de que nossa subida não precisa ser solitária.

Práticas simples podem ser implementadas, como iniciar grupos de suporte em seu local de trabalho ou participar de comunidades online, onde mulheres podem se conectar e compartilhar experiências, são passos concretos para promover mudanças. Pequenas atitudes tomadas juntas levam a grandes transformações.

Então, ao perceber uma ação preconceituosa dentro da empresa contra outra mulher, faça algo a respeito, como por exemplo, defender mulheres em reuniões ou apoiar projetos das colegas.

Finalizando

Para terminar essa conversa, eu gostaria que ela fosse uma luz inspiradora no caminho de muitas mulheres que enfrentam e desafiam clichês e barreiras – talvez essa mulher seja você. À medida que reunimos todo esse conhecimento e aplicamos na prática o que aprendemos, estamos pavimentando um caminho não apenas para o nosso próprio sucesso, mas também para as gerações que virão.

E lembre-se, a escada para o sucesso não precisa ser solitária ou armada de forma grosseira e sem cuidado. Juntas, solidificamos degraus, desvendamos preconceitos e tecemos redes de apoio que fazem a diferença, sem abrir mão dos nossos sonhos. Insista, inspire e nunca duvide do seu poder de brilhar intensamente.

Você merece todo sucesso no mundo.

Bora fortalecer e subir esses degraus! Bora lá!

 

LUCIANA - Construindo novos caminhos: uma jornada contra a Síndrome do Degrau Quebrado

Luciana Belenton é mentora dedicada a apoiar mulheres na busca do autoconhecimento, por equilíbrio entre carreira e vida pessoal. Graduada em Medicina Veterinária (UNESP), tem especialização em Gestão Agroindustrial (UFLA) e MBA em Gestão de Agronegócios (FGV), certificada Green Belt (Yokoten) e Terapeuta de Saberes Femininos (Isa School), pós-graduação em Terapia Cognitivo Comportamental (Faculdades Metropolitanas). Por 25 anos atuou como executiva no setor alimentício, em empresas como Seara Alimentos, Marfrig, Keystone e Cargill. Com uma década de experiência na China, sua última posição foi como diretora de Agropecuária para Ásia e Europa. Redirecionou sua carreira e expertise de gestão e liderança para atuar no empoderamento feminino. Colunista EA “Ecos de empoderamento”.

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