Por Luciana Belenton
Um dos motivos que me levou a aceitar o convite de estar aqui na EA Magazine foi ter mais um espaço para poder conversar com as mulheres. Eu gosto de falar sobre o protagonismo feminino e a importância de sermos as autoras da nossa própria história, mas, para isso, é essencial conhecermos quem somos.
Sei que temos homens lendo aqui a plataforma e essa coluna, mas hoje eu quero falar diretamente e, especialmente com você, mulher.
Ao longo dos tempos, a mulher teve a importância do seu papel negligenciado e limitado aos serviços domésticos. Não digo que eles não sejam importantes, mas não deveríamos nos contentar só com isso, afinal, temos tanto mais a oferecer aos que estão ao nosso redor e aos mais distantes também.
Há alguns anos, tive o prazer de ler o livro “Mulheres que correm com os lobos”, de Clarissa Pinkola Estés. Ele fala sobre a natureza feminina. Não aquela que a sociedade nos rotulou ao longo do tempo, mas aquela que foi escondida de nós, mas que dentro de nós sabemos, almejamos conhecer.
Há um mundo dentro de você – e dentro de cada mulher – que, talvez, há muito tempo tenha sido ignorado, silenciado ou escondido sob os papéis que você desempenha todos os dias.
Esse mundo interior, tão poderoso quanto misterioso, pertence à sua essência mais primitiva – àquilo que a autora desse livro chama de “Mulher Selvagem”. Se você já sentiu, em algum momento, uma inquietação, um desejo profundo de voltar a algo mais verdadeiro e autêntico, saiba que essa é a voz dessa mulher.
O perfil da Mulher Selvagem
Sei que o dia a dia nos consome. Acordamos, trabalhamos, cuidamos da casa, da família, das questões do trabalho e de outras pessoas, e muitas vezes esquecemos de cuidar de nós mesmas.
Mas hoje, convido você a fazer uma pausa.
Feche os olhos por um segundo. Respire fundo. Sinta a presença da sua alma, porque hoje vamos falar sobre você. Sobre quem você realmente é, por trás de todas as expectativas.
A Mulher Selvagem, como Clarissa descreve, não é um conceito mítico distante. Ela está dentro de você, esperando para ser redescoberta. Ela não se preocupa em agradar ou em se moldar ao que esperam dela. Ela é livre, criativa, intuitiva. Ela tem o poder de se regenerar, de ouvir a sua própria sabedoria interna e de guiar seus passos por um caminho mais autêntico.
Mas como despertar essa mulher em um mundo que muitas vezes nos sufoca?
Talvez, assim como eu, você tenha crescido ouvindo que deveria ser mais controlada, mais conformada, mais ‘boazinha’. Talvez tenha aprendido a suprimir sua voz e a aceitar papéis que foram impostos a você. Isso não é culpa sua. É o reflexo de uma sociedade que por muito tempo tentou apagar o nosso lado instintivo.
Eu sei como é isso. Por muito tempo, também tentei me encaixar, cumprir todos os papéis que me diziam serem os “certos”. Até que comecei a sentir uma desconexão crescente, um vazio que não era preenchido por nenhum sucesso externo. Foi quando percebi que havia perdido o contato com a minha verdadeira natureza. A minha natureza instintiva estava sendo calada.
E talvez, assim como eu, você tenha se desconectado da sua também. Mas a boa notícia é que ela está sempre ali, esperando o momento certo para ser chamada de volta. E a maneira de reencontrá-la começa com pequenos passos, que você pode dar a partir de hoje.
Vamos fazer isso juntas?
Primeiro, permita-se ouvir seus instintos.
Sei que parece simples, mas quantas vezes ignoramos aquela vozinha interna que nos alerta sobre algo? Quer seja sobre uma decisão no trabalho ou na vida pessoal, comece a prestar atenção na sua intuição. Ela é o primeiro sussurro da Mulher Selvagem.
Depois, reconecte-se com a sua criatividade.
A Mulher Selvagem adora criar, seja um projeto, uma arte ou uma ideia. O processo criativo a alimenta e a fortalece. Não precisa ser algo grandioso – comece pequeno. Que tal reservar um tempo na sua semana para fazer algo que você ama, sem cobrança, sem pressão?
E, por último, cuide de si mesma.
Isso não é egoísmo, é necessidade. Lembre-se de que a Mulher Selvagem floresce quando está em contato com sua própria alma. Tire um tempo para se ouvir, para estar sozinha, para refletir sobre seus desejos mais profundos.
Pergunte a si mesma: “O que eu quero realmente para a minha vida?”. E escute a resposta.
Lembre-se, amada, de que despertar a Mulher Selvagem não significa rebelar-se contra o mundo de maneira destrutiva. Pelo contrário, significa encontrar seu caminho de volta à sua verdadeira essência, àquela parte de você que é livre e não teme ser autêntica. Ao fazer isso, você encontrará uma força imensa dentro de si, uma força que não pode ser abalada pelos desafios da vida.
Sei que o caminho para reencontrar essa mulher pode parecer assustador. Mas lembre-se, você não está sozinha. Eu estou aqui, outras mulheres estão aqui, todas nós em busca dessa reconexão. Juntas, podemos criar um espaço onde a nossa natureza selvagem é celebrada e respeitada.
Que esse seja o começo da sua jornada. Uma jornada de volta para si mesma. Eu estarei aqui, torcendo por você, em cada passo que você der.
Bora lá?
Luciana Belenton é mentora dedicada a apoiar mulheres na busca do autoconhecimento, por equilíbrio entre carreira e vida pessoal. Graduada em Medicina Veterinária (UNESP), tem especialização em Gestão Agroindustrial (UFLA) e MBA em Gestão de Agronegócios (FGV), certificada Green Belt (Yokoten) e Terapeuta de Saberes Femininos (Isa School), pós-graduação em Terapia Cognitivo Comportamental (Faculdades Metropolitanas). Por 25 anos atuou como executiva no setor alimentício, em empresas como Seara Alimentos, Marfrig, Keystone e Cargill. Com uma década de experiência na China, sua última posição foi como diretora de Agropecuária para Ásia e Europa. Redirecionou sua carreira e expertise de gestão e liderança para atuar no empoderamento feminino. Colunista EA “Ecos de empoderamento”.
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