Por Toni Carlos Dias

 

Em 1994, Francisco de Assis França, conhecido como Chico Science, fundou a banda alternativa Chico Science & Nação Zumbi, e lançou o álbum “Da Lama ao Caos”, que segundo a lista dos 100 melhores discos da música brasileira elaborada pela revista Rolling Stone, ficou na 13⁠ª posição.

Chico Science & Nação Zumbi misturaram o tambor do maracatu com guitarras pesadas e influências de rock, funk e hip-hop.

Essa alquimia musical projetou o Movimento Manguebeat, um movimento cultural que despontou vários artistas e produtores culturais e que colocou Recife no mapa da cultura pop mundial e influenciou uma geração de pensadores, como Eu!

Manifesto ‘Caranguejos com Cérebro’

Chico Science também propagou o Manifesto ‘Caranguejos com Cérebro’, uma metáfora para a conexão entre a vida no mangue e a criatividade inovadora que emergia em diversos locais no mundo.

O Manifesto foi criado por Fred Zero Quatro em 1992, líder da banda Mundo Livre S/A, que teve um papel importante na construção da inteligência coletiva que conseguiu propagar o conceito e chegaram as mais diversas “parabólicas” antenadas e que estavam disponíveis e animadas para captar novas influências.

Ao trazer elementos da cultura popular nordestina e reforçar a importância de manter viva a essência cultural local enquanto se conectava com influências globais.

Esse contexto de transformação cultural e tecnológica culminou em uma música do álbum Da Lama ao Caos, Computadores fazem arte, que me chamou atenção pela mensagem profética que trazia:

“Computadores fazem arte

Artistas fazem dinheiro

Computadores avançam

Artistas pegam carona

Cientistas criam o novo

Artistas levam a fama”

Composta numa época em que os computadores pessoais estavam apenas começando a entrar nas casas e empresas no Brasil, muito antes de sonharmos com a conexão pela internet.

A letra mostrava uma visão profunda sobre o impacto que a tecnologia teria na criação artística.

Hoje, 30 anos depois, vejo como Chico Science antecipou algo que se tornou realidade: computadores criando arte.

As inteligências artificiais generativas estão moldando nossa produção, e eu mesmo me inventei a produzir um filme de curta-metragem utilizando diversos aplicativos de inteligência artificial, chamado “O Futuro do Presente do Trabalho”, que está disponível no YouTube.

A visão de Chico Science, com suas “parabólicas manguezais” captando as ondas de transformação, evidenciava o poder da curiosidade, que o possibilitou estar à frente de seu tempo. Como contemporâneo de Chico Science, percebi que ele não aceitava simplesmente as tendências; ele as absorvia e as transformava, conectando o local ao global, o tradicional ao moderno.

Lembro bem da primeira vez que ouvi Computadores fazem Arte, uma letra tão intensa e profunda, com um arranjo transgressor e muito potente.

Mesmo sem compreender a letra naquele momento, essa canção é uma grande referência sonora que molda minha curiosidade, que permanece viva, especialmente diante das possibilidades que a tecnologia proporciona.

Relevâncias na inovação

No universo corporativo atual, a mensagem de Chico Science é relevante. A tecnologia está aqui para abrir novos caminhos e cabe a sermos os exploradores dela.

Assim como ele misturou o tambor e a guitarra, podemos unir ferramentas digitais e a criatividade humana para criar algo autêntico. No contexto atual, em que inteligências artificiais e transformações tecnológicas estão redefinindo as regras, ser curioso é o que nos faz avançar e inovar.

No fim das contas, é a curiosidade — essa faísca que Chico Science sempre defendeu — que move o mundo, seja na música, na arte ou nos negócios.

Ser curioso é, muitas vezes, estar na vanguarda.

A curiosidade nos leva a explorar, a aprender por conta própria e a enxergar além do óbvio. Quem está na vanguarda colhe os frutos da inovação, pois quem chega primeiro, ousa abrir caminhos para os outros seguirem. Essa atitude traz inúmeros benefícios: impulsiona carreiras, estimula a criatividade e gera soluções inovadoras.

Quando o curioso encontra um Condutor que o incentiva, aprende e o orienta a transformar toda energia potencial em energia cinética, ele consegue aguçar sua curiosidade, validar suas ideias e expandir seus horizontes.

Por isso, devemos valorizar e incentivar a vanguarda, a qual é a essência da arte, da inovação e do progresso humano, e não podemos deixá-la de lado.

Agora, se os computadores estão fazendo arte, que tal o dinheiro ficar com a sociedade?

Viva Chico! Viva Recife!

 

toni carlos - Computadores fazem arte?

Toni Carlos Dias é um Ser Humano formado em Administração de Empresas, MBA em Gestão de Pessoas e Ciências Políticas, defende uma nova lógica corporativa baseada na colaboração. Cineasta independente, produziu seis curtas-metragens exibidos em festivais brasileiros. Atualmente, é professor de pós-graduação na FIA, onde ministra Qualidade de Vida no Trabalho Virtual, além de ser Bolsista no Programa de Agente Local de Inovação (Sebrae-RJ). Atuou em grandes empresas como Eletronuclear, Siemens e Ambev. É colunista EA “Fronteiras Curiosas”.

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