Por Maurício Munhoz
Gosto de imaginar possibilidades sobre o futuro das coisas, e olhar para nossos momentos presentes, pensando em tudo o que estamos fazendo que nos possibilitará chegarmos àquelas possibilidades.
Olhando para as organizações com estes óculos, tenho tido a oportunidade de conversar com lideranças de empresas que muito mais do que terem como meta “permanecerem no mercado”, têm como meta virem a ser, ou a permanecerem sendo referências de imagem, de mensagem, de experiências proporcionadas, e dos serviços e produtos que oferecem.
Para conseguirem viver este futuro desejado, é mais do que falado e estudado que precisam navegar num mundo onde independentemente do setor ou do tamanho das empresas, estas têm o seu contexto de mercado / tecnologia / modelo de negócio / pessoas que passam, certamente, por mudanças cada vez mais impactantes. Mudanças sobre o seu modo de ver e de atuar como profissional, em relação as necessidades e expectativas de todo cliente e de cada stakeholder envolvido com sua empresa.
Isso representa uma série de desafios cotidianos que para serem superados, dependem de equipes que cada vez mais atuem de modo engajado, com um poder de resposta ágil e de qualidade.
Novamente: não é uma questão de “sobrevivermos” como empresas no mercado, mas sim em sermos referências no segmento em que atuamos, e mesmo para outros setores como benchmark de nossas gestões!
Se jogarmos para sobrevivermos, estaremos fora do jogo em pouquíssimo tempo.
E o RH com esse trem todo?
A resposta passa por uma frase que uso com certa frequência em minhas conversas: “A qualidade da empresa está na qualidade das pessoas que ali estão, e sobretudo na qualidade das relações que elas constroem entre si”.
Conexões empresa e pessoas da empresa
Tendo a oportunidade de caminhar e conhecer organizações de todos os segmentos, em seus mais variados tamanhos e estruturas, percebo que quanto melhores são as conexões entre as pessoas na empresa, mais facilmente aquele time supera os desafios que têm presença garantida na agenda, como também de modo mais intenso e participativo saboreia as suas conquistas.
Já a área de Recursos Humanos / de Pessoas / de Gente e, vou aqui tomar a liberdade de chamar de Área de Pessoas. Ela ocupa uma cadeira que possui a responsabilidade e o papel de sinalizar para seus pares da empresa questões sobre a importância em trazerem para o centro do seu cotidiano um olhar sobre as pessoas.
Agora, é fundamental que isso aconteça de modo conectado a todo o contexto presente e desejado das organizações, atuando tanto como agente que acolhe, como também aquele que participa da construção do caminho desejado.
Aqui torna-se essencial que a área de Pessoas esteja conectada com as demais áreas. Provocando assim, sobre como atuar de modo efetivo para que todos tenham resultados ótimos e melhores dentro daquele raciocínio: onde estamos, onde queremos chegar, por que queremos chegar lá, mais ou menos como faremos este percurso, e qual o papel e responsabilidade de cada um nisso tudo.
Os resultados das demais áreas, é resultado do RH também! E o do RH contribui de modo efetivo para o resultado das demais áreas!
Para mim, o tal “RH Estratégico” que tanto queremos ser, só o será deste modo.
Por isso me preocupa quando vejo uma pesquisa recente da equipe Futuro S/A, mostrada em seu “Raio X do RH – 2023”, que em determinado momento nos apresenta os Pontos Cegos do RH, onde há diferenças importantes entre “como:
- “O RH se observa” e,
- “Como as demais áreas da empresa observam o RH”
Não sei para você, mas para mim resultados como os abaixo são provocativos o suficiente:
- Inovação, Tendências e Novas Tecnologias: questionados sobre se o RH acompanha de perto as tendências e conhece o impacto das novas tecnologias em suas ações e no negócio, as equipes de RH se avaliaram com 63% das pessoas respondendo SIM, já as demais áreas deram o mesmo SIM em 21% das respostas.
- Impacto do RH no Negócio: aqui a pergunta foi sobre a capacidade do RH criar estratégias e ações concretas para que o negócio tenha sucesso em seu mercado. No mesmo raciocínio, tivemos 65% das equipes de RH dando o SIM, e 27% das demais áreas com o mesmo SIM.
- Tendências e Sinais de Mudanças do Negócio: quando perguntados se o RH tem uma abordagem proativa para conhecer as tendências e os sinais, houve 57% de SIM dentro dos profissionais de RH, e 24% de resposta favorável dentro das demais áreas.
À medida que ia lendo estes dados, fui me perguntando o quanto os nossos RHs geram efetivamente valor para as organizações.
Bom, lá existe essa resposta: dentro do RH, essa percepção é positiva em 67% das pessoas, e para as demais áreas o SIM foi dado por 37%.
Provocativo, não?!
Ok….ok…. Evoluímos muito nas últimas décadas em termos de abrangência e importância dentro das organizações. Eu mesmo tive a oportunidade de conhecer profissionalmente contextos do antigo “Departamento Pessoal”, ou o DP como era conhecido.
Ao olharmos para o que fazemos como área de Pessoas atualmente, é importante sim nos apropriarmos e comemorarmos esta evolução! Passamos a jogar luz em temas como Cultura Organizacional, Experiência do Colaborador, Branding do Empregador, People Analytics, Diversidade e Inclusão, Saúde e bem-estar, e por aí vai nas últimas 2 ou 3 décadas.
RH como referência na empresa
Agora, usando uma visão empreendedora de mercado, se faz necessário olhar para dados provocativos como estes, olharmos para dentro de nossas casas, e refletirmos sobre o que precisamos fazer de diferente não apenas para sobrevivermos como área dentro das empresas, e sim para virarmos referência sobre nosso trabalho!
No meu ponto de vista, isso somente irá acontecer quando estivermos de fato conectados (vale repetir: te fato!!!) com as demais áreas, de modo integrado, mais do que escutando as dores e as expectativas dos demais, e sim trazendo estas mesmas dores e expectativas para o nosso colo como se fossem nossas, e buscando de modo conjunto com nossos pares as melhores soluções para os nossos contextos.
Confesso que ao recuperar na memória a expressão DP (Departamento Pessoal), acabou me surgindo um conceito lá das décadas de 70 e 80, e que cabe nesta reflexão/provocação:
O quanto nós adotamos práticas cotidianas de convívio e de gestão, que vem a construir um ambiente de colaboração mútua com toda a organização, minimizando os efeitos desta nossa “Janela de Johari”?
Me parece que quanto mais atuarmos de modo humilde, focado e interessado genuinamente pelos resultados das áreas parceiras, mais iremos minimizar os efeitos dessa janelinha que ressuscitei aqui.
Para aqueles que não haviam escutado essa expressão “Janela de Johari”, ainda, “vale um Google”. Mas vai uma explicação rápida por aqui:
É um método que nos mostra a relação entre o que percebemos/sabemos sobre nós, e a forma como os demais nos percebem.
Vamos adiante de modo conectado ao nosso entorno e a toda a empresa, exercitando na prática a visão de que o resultado da outra área é o meu também.
Falar de pessoas, é falar de negócios.
Bora!
Maurício Munhoz é sócio-proprietário da Human Connection Desenvolvimento Humano. Consultor Sênior com atuação em projetos e ações de Treinamento & Desenvolvimento, Transformação Cultural e Gestão de Mudanças Organizacionais. Se diz um curioso sobre coisas da vida. É adepto de uma vida simples, de viagens e de conhecimentos, sendo que como diz, seu maior patrimônio reside na sua relação com a sua esposa e a família. Tem como grande motivação deixar o mundo (pelo menos um pouquinho) melhor. É colunista EA “Cultura: E o RH com isso?”
https://www.linkedin.com/in/mauricio-munhoz/
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