Por Judá Nunes

 

A inclusão efetiva de pessoas trans e travestis desempenha um papel crucial no avanço da igualdade no mercado de trabalho e nas organizações modernas. Em um mundo cada vez mais diversificado, a valorização da singularidade dos indivíduos não apenas promove a justiça social como, também, enriquece as dinâmicas laborais. Isso reflete não somente um compromisso ético, mas se traduz em benefícios tangíveis para o sucesso organizacional.

A trajetória de uma pessoa trans ou travesti – ao transitar pelo processo de desvinculação da identidade de gênero atribuída ao nascimento e na construção de uma nova identidade –, envolve uma autodescoberta profunda e um exercício do direito fundamental à autodeterminação de gênero. Isso abarca o direito de definir a própria identidade e de pleitear o respeito da sociedade, sem o receio de enfrentar discriminação ou violência, ao mesmo tempo em que se destaca pela inventividade e inovação no campo do gênero.

Contrariando o senso comum, ser uma travesti representa a construção de uma identidade real, social e política. Sobretudo, é uma identidade que reivindica e se manifesta como parte do gênero feminino, e, portanto, deve ser sempre tratada com pronomes femininos. Nossa abordagem política harmoniza de maneira equilibrada o descontentamento necessário para impulsionar mudanças e a proatividade crucial para edificar futuros mais inovadores.

Ao longo da história, as pessoas trans, especialmente as travestis, foram marginalizadas, normalizando práticas violentas e estruturando a exclusão social como um exercício didático e familiar. Isso categoricamente restringiu o acesso das pessoas transgêneras a espaços familiares de afeto, educação formal e trabalho.

Dinâmicas sociais e a diversidade humana

Compreender as dinâmicas sociais de poder e a diversidade humana nos auxilia a desvendar o processo de formação das culturas organizacionais que determinam quem pode ou não acessar livremente esses espaços e quem deve ou não ter a força de trabalho reconhecida, valorizada e bem remunerada. Entretanto, justificar a ausência de determinados públicos devido à falta de pessoas diversas capacitadas para exercer funções e contribuir para o desenvolvimento da cultura da empresa é uma abordagem ultrapassada.

Vivemos em uma era onde as fronteiras entre trabalho e aprendizado estão se tornando cada vez mais difusas – e a separação rígida entre esses dois domínios está se mostrando obsoleta.

Em vez de manter espaços distintos para o labor profissional e o aprimoramento pessoal, surge a necessidade de integrar essas esferas. Nesse contexto, as empresas têm um papel crucial a desempenhar, transformando-se em ambientes que não apenas demandam a execução de tarefas, mas também incentivam e propiciam a constante busca por conhecimento.

Ao adotar essa abordagem, o discurso de que “não há pessoas qualificadas” perde a força. Em vez de esperar que os profissionais cheguem à empresa totalmente equipados com todas as habilidades necessárias, as organizações assumem a responsabilidade de cultivar e desenvolver talentos internamente. Na prática, criando uma dinâmica em que os profissionais e as empresas são corresponsáveis por essa transformação no ambiente corporativo.

Aprendizagem colaborativa

Uma forma de fazer isso é por meio da aprendizagem colaborativa, que é uma metodologia pedagógica na qual se aprende por meio da colaboração e da participação ativa. Nessa abordagem, as pessoas envolvidas são incentivadas a realizar tarefas ou solucionar problemas de maneira conjunta, como em uma mentoria cruzada: as pessoas irão trocar conhecimentos e desenvolver habilidades técnicas e/ou humanas de forma prática e interdependente.

Isso também constrói equipes mais resilientes e adaptáveis, dispostas e preparadas para conviver com a diversidade e prontas para enfrentar os desafios em constante evolução do ambiente de trabalho.

Assim a gente constrói um caminho, reduzindo as barreiras de inclusão e eliminando os vieses destrutivos, tornando o discurso sobre a falta de pessoas qualificadas uma preocupação do passado.

 

Juda Nunes (Colunista)

Judá Nunes é inovadora social, licenciada em Teatro pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Especialista em Educação para Inclusão da Diversidade, analista de ESG e reconhecida como LinkedIn Top Voices Orgulho. Tem atuado como educadora, gestora de projetos, comunicadora, escritora, palestrante e consultora; se destaca como mentora de um novo tempo, oferecendo insights sobre a dinâmica da diversidade no século XXI. Desde 2016, seus estudos em Gênero, Educação, Movimentos Sociais, Trabalho e Transformação Humana culminaram no desenvolvimento de uma metodologia exclusiva e crítico-analítica para a formação de executivos na educação corporativa e para a gestão de projetos de impacto social, com foco em DEI. Sua paixão pela promoção da inclusão reflete-se em sua missão de comunicar e impactar positivamente, eliminando barreiras e conscientizando sobre vieses. Colunista EA “Letramentos em Futuro”.

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