Por Luciel Henrique de Oliveira

 

Os “ratings de sustentabilidade” são avaliações feitas por entidades como agências de classificação de crédito, organizações sem fins lucrativos, ou empresas especializadas, que analisam e atribuem uma pontuação ou classificação a empresas, investimentos ou produtos com base em critérios ambientais, sociais e de governança (ESG).

Um rating de sustentabilidade é uma classificação concedida a empresas com base em sua performance em questões ESG. Essas classificações são atribuídas por organizações especializadas, como o CDP (Carbon Disclosure Project), com base em uma série de critérios predefinidos.

O CDP é uma organização sem fins lucrativos que opera o maior sistema global de divulgação de informações ambientais e desempenha um papel essencial na promoção da transparência e responsabilidade ambiental.

Ela ajudando a orientar empresas, governos e investidores em direção a uma economia mais sustentável e resiliente às mudanças climáticas.

Após a análise, as empresas recebem feedback detalhado sobre seu desempenho, juntamente com uma classificação que varia de A à D. Essas classificações são divulgadas publicamente em relatórios anuais da CDP e em seu banco de dados online. O rating de sustentabilidade da CDP é muito respeitado e amplamente utilizado por investidores, empresas e outras partes interessadas como uma medida do desempenho ambiental e da transparência corporativa.

As classificações A e A- são consideradas indicativas de práticas sólidas de gestão ambiental e uma abordagem proativa em relação aos desafios climáticos.

Para alcançar um rating de sustentabilidade A, uma empresa precisa demonstrar um compromisso sólido e comprovado com práticas que visam minimizar seu impacto ambiental, promover a responsabilidade social e adotar boas práticas de governança corporativa. Os critérios para a obtenção de um rating A podem variar dependendo da organização avaliadora, mas geralmente incluem aspectos como:

  1. Redução de emissões de gases de efeito estufa;
  2. Gestão sustentável de recursos naturais;
  3. Responsabilidade social;
  4. Governança corporativa sólida.

Empresas que recebem um “rating A” de sustentabilidade são reconhecidas como líderes em seu setor e podem desfrutar de benefícios como maior atratividade para investidores ESG, preferência de consumidores conscientes, acesso facilitado a financiamento sustentável e uma vantagem competitiva no mercado.

O recente rating de A- em sustentabilidade concedido à JBS tem provocado um intenso debate sobre os sistemas de avaliação ambiental e de governança social.

Em meio a acusações de desmatamento na Amazônia e subnotificação de emissões, o caso da JBS serve como um alerta sobre os desafios e perigos associados à confiabilidade dos critérios de avaliação utilizados. Atualmente a sustentabilidade não é mais apenas uma tendência, mas uma exigência para empresas em todo o mundo, ressaltando a importância da transparência e responsabilidade corporativa, além da necessidade de avaliações rigorosas e independentes.

A JBS, embora tenha sido associada anteriormente ao desmatamento na Amazônia, recebeu um aumento significativo em sua pontuação de sustentabilidade no último relatório sobre Mudanças Climáticas do CDP, passando de B para A-. Isso, apesar das preocupações levantadas por vinte grupos da sociedade civil, que argumentam que a empresa está se engajando em práticas de “greenwashing” e enganando investidores, supermercados e consumidores.

Um dos principais pontos de crítica é a falta de transparência em relação às emissões de gases de efeito estufa da empresa. Enquanto a JBS afirma ter o objetivo de alcançar emissões líquidas zero até 2040 e eliminar o desmatamento de sua cadeia de suprimentos até 2035, a falta de divulgação de dados precisos e verificados gera dúvidas sobre a seriedade desses compromissos.

A questão do desmatamento na Amazônia continua sendo uma preocupação central.

Embora a JBS tenha prometido erradicar o desmatamento ilegal de sua cadeia de suprimentos até 2025, a inclusão desse compromisso na avaliação positiva da empresa levanta questionamentos sobre os critérios utilizados pelo CDP.

Este caso tem implicações não só para a JBS, mas também para outras empresas e setores. A confiança nas avaliações de sustentabilidade é fundamental para a integridade do mercado e a tomada de decisões informadas por parte dos investidores e consumidores. A revisão em andamento do CDP de seus critérios de classificação destaca a necessidade urgente de uma abordagem mais transparente e baseada em evidências.

Empresas em todos os setores podem aprender com essa controvérsia.

A integridade ambiental e social não pode ser alcançada apenas por meio de autodeclarações e promessas vagas. A responsabilidade corporativa requer compromissos tangíveis, medidas verificáveis e transparência total. Isso significa adotar abordagens holísticas para a sustentabilidade, que vão além das métricas de curto prazo e consideram o impacto total das operações em comunidades, ecossistemas e no clima global.

Cultura de responsabilidade

Como exemplo, empresas líderes em sustentabilidade, como Patagônia, Natura e a Unilever, têm demonstrado que é possível combinar sucesso comercial com práticas responsáveis.

Investir em cadeias de suprimentos sustentáveis, reduzir emissões de carbono e promover a transparência são estratégias que não apenas melhoram a reputação da empresa, mas também geram valor a longo prazo para todas as partes interessadas.

À medida que o escrutínio sobre as práticas empresariais aumenta, a JBS e outras empresas enfrentam uma escolha clara: abraçar uma cultura de responsabilidade e transparência ou enfrentar as consequências de práticas insustentáveis e avaliações duvidosas.

Críticos apontam que o processo de avaliação da CDP é baseado em divulgações voluntárias das empresas, o que pode resultar em informações parciais ou incompletas. Além disso, as classificações da CDP não levam em consideração fatores como o histórico de desempenho ambiental da empresa ou seu impacto social. Apesar dessas limitações, o rating de sustentabilidade da CDP continua sendo uma ferramenta valiosa para incentivar a prestação de contas ambiental e promover a transparência corporativa em todo o mundo.

Esta controvérsia é um lembrete importante de que a verdadeira sustentabilidade não pode ser alcançada através de classificações superficiais ou autopromoção enganosa. É hora de as empresas adotarem uma abordagem mais rigorosa e autêntica para enfrentar os desafios ambientais e sociais de nosso tempo.

Para saber mais:

 

 

Luciel H de Oliveira 1

Luciel Henrique de Oliveira é engenheiro Agrônomo e doutor em Administração (FGV), pós-doutorado em Inovação, dedicado à academia como professor e pesquisador desde 1990 (FACAMP; UNIFAE; PUC-MG). Com vasta experiência em Gestão de Operações e Logística, destacam-se seus estudos e pesquisas em temas como Inovação & IA, Agronegócios, Gestão de Serviços, Sustentabilidade/ESG, Economia Circular e Responsabilidade Social Empresarial. Comprometido com o impacto social, acredita no poder transformador da educação, na importância da colaboração em rede e no empreendedorismo para gerar mudanças positivas na sociedade mediante soluções inovadoras. Colunista EA “ESG & Vida Sustentável”.

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