Por Patrícia Milaré Bertão
Nos últimos anos tivemos uma mudança significativa na relação que os profissionais têm com a sua carreira. Antigamente, ao escolher uma profissão, tinha-se em mente como ponto principal, o ganho financeiro e a estabilidade. Em segundo plano as aptidões e paixões. Pais orientavam seus filhos nesse sentido. Acredito que o maior receio deles era que seus filhos não conseguissem se sustentar. Para eles era obrigação mostrar o caminho que julgavam correto.
Não discordo, mas hoje tenho um olhar diferente e orientei minhas filhas a escolherem uma profissão que traga satisfação a elas. Penso que trabalhar no que se gosta é uma dádiva. Tema para outro fórum.
Nunca passei por um processo de transição de carreira. Mas esse assunto está no meu radar, mesmo eu trabalhando, hoje, com o que gosto. Quem sabe num futuro próximo isso aconteça. Na minha cabeça, fazer esse tipo de movimento funciona de maneira diferente para as profissionais. Cada um tem o seu momento, a sua razão, com muita gente que nunca nem pensou nisso. Trata-se de uma questão de escolha. Porém, muitas vezes, a vida se encarrega de acelerar esse processo, seja ele por uma demissão, uma mudança de cidade necessária ou qualquer outra situação que fuja de um planejamento prévio.
Existem muitas pessoas que ainda associam o trabalho como algo enfadonho, pesado e que não traz satisfação. Apenas se trata do seu meio de subsistência. Mas, não se pode culpar ninguém por esse sentimento. Ele é cultural e trafega pelos séculos. Se procurar a origem da palavra trabalho descobre-se que ela “vem do latim tripalium, termo utilizado para designar instrumento de tortura…” (https://origemdapalavra.com.br› palavras › trabalho).
Esse conceito está cada vez mais obsoleto. Hoje, buscar contentamento, prazer e alegria no trabalho é algo perfeitamente possível. Se você tem a opção de escolha, faça.
Ninguém merece trabalhar numa profissão ou lugar que não traz satisfação, motivação e realização. Entra como protagonista nessas estórias, a transição de carreira. Ela sempre existiu, mas agora com mais holofotes e propriedade. Acredito que a vivência que todos tivemos nesses dois últimos anos, acelerou os processos de transição de carreira para muitos profissionais que não viam mais sentido em suas profissões.
A vida pessoal e profissional tem que fazer sentido
A consciência sobre não saber o que acontecerá, de fato, no amanhã trouxe a necessidade do aqui e agora. É óbvio que ninguém sairá por aí agindo irresponsavelmente e jogando tudo para o alto. Talvez para quem tenha respaldo financeiro, isso faça sentido. Para outros, é preciso pensar em como suprir as necessidades básicas (alimentação, moradia, vestuário) e para isso o dinheiro é essencial.
Mas podendo escolher e antes de tomar qualquer ação, reflita sobre sua vida profissional atual e o que almeja para seu futuro. Pesquise a sua nova área de atuação e veja se ela se adequa ao seu estilo de vida ou se você terá de fazer pequenos ajustes. Planeje! E, se necessário, peça ajuda de profissionais para entender se você se encaixa ou se está romantizando a mudança.
Terremotos internos
Não deve ser fácil fazer uma transição de carreira. Mas se a decisão for tomada, colocar foco e energia é primordial. Problemas vão acontecer. Mas permanecendo onde está hoje, insatisfeito, mais cedo ou mais tarde você também terá problemas. Pense na transição de carreira como uma chacoalhada fundamental na sua vida profissional. Você sairá da sua zona de conforto, mesmo indo para algo que goste muito de fazer. Esses terremotos internos tendem a promover mudanças positivas.
Para ilustrar, trouxe um caso real, num bate-papo informal, sobre uma transição de carreira de muito sucesso. Acredito que hoje, a nossa entrevistada tem sua profissão alinhada a seus interesses e propósito de vida.
Eliza, do corporativo para a yogateria
Eliza Marochi Benato é formada em Farmácia pelo UFPR com especialização em indústria e foco em cosmética. Fez especialização em Óleos Essenciais, Marketing e MBA em Gestão Empresarial. Trabalhou por 15 anos no grupo Boticário nas áreas de Pesquisa e Inovação, Marketing, Gerência de Produtos e Projetos. Na sequência desenvolveu um trabalho na multinacional francesa, Mane, durante 9 anos como Executiva de Vendas no escopo comercial e projetos. Quando decidiu efetuar a transição de carreira, atendeu ao chamado da vida para voltar para a área da saúde. Se formou em Kundalini Yoga, Terapias Naturais Integrativas (PICS), Curso de Biomagnetismo e TFT (Thought Field Therapy). Atua como Instrutora de Yoga e Terapeuta há 4 anos.
- O que fez você perceber que, que era hora de efetuar uma transição na sua carreira?
Resp.: O primeiro sinal foi não me sentir feliz no dia a dia. Questionava internamente se aquilo que trabalhava trazia valor para o mundo, para mim. Comecei a enxergar falsidade nos colegas que por trás o relacionamento não era bom e nas festas, eventos parecia amor (brindes, abraços, beijos) faltava sinceridade, verdade, tudo em nome da estratégia de negócio ou oportunismo. - O que foi mais difícil nesse processo?
Resp.: Separar de amigos. Ter fé que algo novo viria (pedi para sair das duas empresas que trabalhei por longos anos, sem ter algo novo em vista). Não ter salário no fim do mês. - Você se planejou para a transição ou o processo foi parar e depois se organizar?
Resp.: Houve um planejamento emocional. Na primeira transição, 2 anos de terapia e na segunda vez 6 meses de yogaterapia. Não planejei nada profissional antes. Trabalhei focada, entregando resultado até as últimas semanas do trabalho. Acredito em fechar o ciclo primeiro, depois o novo vem. - Você sente falta de alguma coisa da sua vida corporativa?
Resp.: Não sinto falta de nada. - Você se sente realizada? O que mais te traz satisfação?
Resp.: Sim. Ver o resultado do trabalho, as pessoas saindo melhor, mais leves e sorrindo do consultório. - Em algum momento você se arrependeu?
Resp.: Nunca. - O que mudou na sua vida?
Resp.: Adequação financeira (hoje recebo menos da metade). Tenho mais tempo, faço mais coisas para mim e minha família. - Qual conselho você pode dar para alguém que esteja ponderando fazer esse processo de transição?
Resp.: Se está pensando, é porque não está bom. Se joga, tenha fé. Tem muita coisa linda e boa fora deste mundo corporativo.
Eliza, te desejo sucesso e sucesso sempre. Fã da sua coragem, paixão e resiliência. Você seguiu seu coração com afinco e muita verdade. Sucesso sempre.
Confesso que conheço vários casos de transição de carreira que foram bem sucedidos e nenhum que deu errado. Talvez pela paixão e garra que todos colocaram em suas novas profissões. Invista sempre em você e em seus sonhos! Faça suas escolhas com consciência e siga sorrindo, mesmo nos dias mais cinza!
Patrícia Milaré Bertão é casada e mãe de duas filhas. Formada em Secretária Executiva (USC), Administração de Empresa (UNIFAE) e MBA em Gestão Empresarial (FAE). É coordenadora sênior Account, TIM Brasil. Participa de um blog que trata sobre diversos temas e assuntos como Comportamento, Relacionamentos e Mundo Corporativo (@vem_que_a_gente_explica). Voluntária na Social Startup, sem fins lucrativos, com foco no desenvolvimento humano – Da Periferia para a Faria Lima. Tem um viés poético, tem três poesias classificadas e publicadas em livros, Poetize 2022 Seleção Poesia Brasileira, Poesia Livre 2022 e Poesia BR. Escrever é meu divã! Colunista EA “Mundo Corporativo”.
linkedin.com/in/patriciaszelpalmilarebertao
Fale com o editor: