Por Patrícia Milaré Bertão
O mundo corporativo não é fácil. Isso é um fato. Se adaptar a cultura da empresa e tudo que ela carrega no seu DNA e ecossistema exige muito do colaborador. Existem pessoas das mais diversas faces e comportamentos e com visões diferentes ou não. Isso não depende do tamanho da empresa e a sua estrutura. Não importa se ela é familiar, multinacional, de grande ou pequeno porte, uma startup ou até uma associação.
O que se pode constatar em todas elas é que existem os personagens corporativos. Alguns clássicos, mas que não tem mais lugar nesse novo mundo corporativo dos últimos anos. Não tem espaço para ranço e a cooperação permeia as organizações.
As relações de trabalho mudaram. As qualidades e qualificações dos profissionais também mudou e muito. Qualidades antes tidas como imprescindíveis hoje, passam como mero detalhe. Muito se fala em soft skills. Desenvolver pessoais e profissionais. Enfim, ser dono da sua própria carreira e evolução.
Mas voltando aos nossos personagens corporativos.
Será que em algum momento haverá um choque de realidade e a percepção do que fazem? Ou atuam com consciência? Talvez essa seja uma pergunta de muitas respostas. Importante salientar que eles não têm sexo, idade, cor, raça, religião, ideologia de gênero, nível de escolaridade, cargo e nem ao menos tempo de empresa como padrão. Podem estar em qualquer lugar!
Escolhi três personagens para falarmos.
Aqui os que considero mais difíceis de se conviver, principalmente porque normalmente são dissimulados e percebê-los não é tarefa das mais fáceis. Temos o puxa-saco, o que tem a necessidade de se sentir e se fazer indispensável e os que crescem no ponto fraco do outro. A narrativa de todos estabelece um roteiro. Cada um dentro de seu “gênero”.
O puxa saco chega a ser lendário. Esse, normalmente é fácil identificar porque ele demonstra o que é através de suas atitudes e elas são explícitas, talvez para quem esteja sendo bajulado não, mas para as pessoas ao redor sim. Pode ser apenas caricata, mas nem sempre é tão inofensivo como parece. Portanto, pode estar disfarçado entre facetas num grupo e trabalhar nos bastidores e em silêncio. Descoberto, merece atenção redobrada. Carrega em seu DNA dissimulação como um tempero principal e pode até se fazer de vítima da situação.
Qualquer profissional passa por momentos bons e nem tão bons assim em sua trajetória profissional.
Em épocas de baixa e principalmente se ocupam cargo de gestão, é preciso cuidar a carência e o ego. Podem ser facilmente abduzidos pelas lindas palavras de um puxa-saco oportunista. Ele tem um quê de sedutor na sua maneira de conduzir o relacionamento profissional. Nada sexual, mas sim de acolhimento. Nem sempre é de forma direta para com seu chefe. Mas, com quem ele identifique potencial para lhe dar algo em troca, que não necessariamente precisa ser material. Prestígio e status são ótimos exemplos.
Se forem dissecados, serão encontradas muitas variantes de puxa-sacos, cada um com uma característica marcante. Se for avaliado no detalhe, eles têm medo, pouca confiança em si mesmo e em seu trabalho e são inseguros. Dessa forma utilizam a puxa-saquismo como proteção. Esse viés é pouco observado. Alerta. Alguns podem agir de forma tão inadequada que podem utilizar a máxima: “os fins justificam os meios” (Maquiavel).
Outro personagem que vem perdendo muito espaço e voz é aquele que tem a incrível necessidade de se fazer indispensável, sem ser. Na realidade ninguém é insubstituível.
O “indispensável” dificulta processos e depois aparece como um salvador da pátria. Aquele que se apresenta e se mostra como o parceiro que ajuda, mas que na prática não é bem assim! Não consegue perceber que as pessoas o veem de forma contrária. Ele gera estresse nas relações com seus clientes internos. Conhecido pelos corredores como aquele que atrapalha, o que complica.
Mas porque age assim? De novo o medo se apresenta como uma possível causa para esse tipo de atitude. Não assimilam que a colaboração, a troca e a real parceria é que poderiam lhe tornar “indispensável”.
Quem não gosta de trabalhar com profissionais assim? Mas a falsa sensação de poder que esse tipo de profissional pode sentir, traz segurança. Ele segura informação. Se empodera. Faz jogo. E aos 45 minutos do segundo tempo de jogo, diz sim! É claro que tem que levar em conta suas atribuições e realmente o que se faz necessário segurar. Ele pode ser um excelente técnico. Mas talvez falte a habilidade em conduzir relacionamentos internos, externos e negociações. Isso só traria ganho às corporações com ambiente mais produtivos e eficientes. Leveza sem perder o profissionalismo.
Mas, provavelmente não tem a noção que esse tipo de atitude não faz bem a ele e nem a ninguém a sua volta. Se percebesse seu comportamento poderia ser outro, o da verdadeira cooperação.
E por último e, igualmente dispensável nos dias de hoje em qualquer companhia, se apresenta o profissional que cresce no ponto fraco do outro ao invés de trabalhar o que tem de melhor.
Existem muitos profissionais que ultrapassam o senso da boa convivência e usam outros como escadas para sua subida ao topo. Fazem sem o menor pudor e/ou constrangimento. Para eles vale apenas o seu sucesso, independente de quem precisam retirar do caminho. Esses são fáceis de identificar e ter distância. Mas temos um outro modelo que se disfarça na multidão. Esses são sorrateiros, dissimulados e pagam de “bom moço”. Mas vale a dica, mantenha os olhos bem abertos.
Ele não é uma má pessoa e talvez nem perceba que faz algo não muito louvável. Pode acreditar que é engraçado, descolado e assim, perde a linha. O fato é que ele se preocupa demasiadamente em crescer no ponto fraco do outro, ao invés de enfatizar suas próprias qualidades. Geralmente, esse tipo de profissional se sabota a longo prazo! Mas faz isso em doses homeopáticas e demora a ser percebido pelo grupo. Mas quando é notado, cai no descrédito.
Nesse perfil, podemos observar atitudes muito claras e até repetitivas:
- Ele adora fazer comentários em cima de qualquer explanação de seus colegas quando estão em reuniões de equipe
- Coloca o dedinho bem na “gaguejada” do companheiro, no intuito de “ajudar”
- Cresce no discurso quando se trata de apontar o erro alheio
- Não perde oportunidade de aparecer
- Observa o ouve tudo à sua volta atentamente
- Repetitivo, sempre com as mesmas “brincadeiras”
- Sabe sobre tudo e o “EU” é forte
- Não percebe que age assim!
O que deveria ser o mais importante é observar os seus pontos de melhoria. Intensificar seus pontos fortes. Trabalhar por sua eficiência! Planejar o seu crescimento. Ter consciência de suas limitações. Usar a inteligência e a transpiração a seu favor! Valorizar conquistas dos outros e as suas também. Mas a sua preocupação é crescer em cima dos outros.
Lições que se pode aprender com esses três personagens. No mercado atual, eles estão obsoletos. O que se busca hoje é cooperação, transparência, comunicação, flexibilidade, resiliência, proatividade, pensamento crítico e atitude positiva. Não existe espaço para egos e medos infundados. Acreditar em você e na sua capacidade de realizar e fazer acontecer faz toda a diferença. Não se faça de necessário, seja incrivelmente indispensável por suas atitudes e ações!!!!!
Faça uma pergunta a você mesmo:
Se você fosse seu próprio chefe, você seria promovido ou estaria em recuperação ou estagnado no seu cargo? Quer uma dica de ouro? Seja aquele profissional que você gostaria de encontrar no seu dia a dia!
Peças originais são muito mais valiosas em qualquer mercado, capite???
Patrícia Milaré Bertão é casada e mãe de duas filhas. Formada em Secretária Executiva (USC), Administração de Empresa (UNIFAE) e MBA em Gestão Empresarial (FAE). É coordenadora sênior Account, TIM Brasil. Participa de um blog que trata sobre diversos temas e assuntos como Comportamento, Relacionamentos e Mundo Corporativo (@vem_que_a_gente_explica). Voluntária na Social Startup, sem fins lucrativos, com foco no desenvolvimento humano – Da Periferia para a Faria Lima. Tem um viés poético, tem três poesias classificadas e publicadas em livros, Poetize 2022 Seleção Poesia Brasileira, Poesia Livre 2022 e Poesia BR. Escrever é meu divã! Colunista EA “Mundo Corporativo”.
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