Por Patrícia Milaré Bertão

 

O mundo está carente de comunicação! Fato. Mas, todo mundo se comunica! A dúvida está na qualidade dessa comunicação, será que ela está sendo feita de forma clara e objetiva? Não podemos esquecer o óbvio precisa ser dito. E posso garantir que de um modo geral, pesando os prós e, a comunicação é falha.

Quem foi que disse que a complexidade das palavras é sinal de profundidade e inteligência? Que emaranhar termos robustos que fogem do cotidiano traduzem conhecimento? Onde está escrito que é preciso trabalhar a língua na sua absoluta imponência? Tem pessoas que associam a qualidade da informação com a escrita altiva e mais elaborada. Acredito que isso é um grande mito.

A boa comunicação está na ponte construída entre quem fala e quem recebe a informação.

A clareza da mensagem, a absorção de sua essência e conteúdo são a chave da comunicação eficaz.

Temos oportunidade de aprendizado com tudo que nos acontece, de bom ou de ruim. Basta saber aproveitar e extrair o que a vida está querendo nos ensinar. Bora, que lá vem estória!

Fiz estágio em uma grande empresa que me trouxe alguns choques de realidade sobre conhecimento, inteligência e gestão. Isso aconteceu no final da década de 80, onde as culturas organizacionais traziam em sua estrutura uma gestão mandatória, impositiva e principalmente hierárquica. Pouco se dispunha a ensinar, a ter paciência e tão pouco a inteligência emocional que tanto nos é cobrada hoje. A hierarquia se traduzia no “obedece quem tem juízo”. Vale aqui a ressalva que nem todos os gestores eram assim.

Nessa empresa, passei por várias gerências e uma delas um dia me chamou e me entregou uma folha com aproximadamente umas 20 palavras em português, pouco usadas em nosso dia a dia. Posso dizer que algumas tive que recorrer ao dicionário para aprender o que significavam. Voltando ao fato, não entendi o motivo de me mostrar aquela lista. Ele me olhou e disse que usava essas palavras de forma aleatória e combinadas para parecer mais inteligente (eu traduziria como inacessível) e confundir quem conversava com ele.

Assim, as pessoas ficavam com vergonha de dizer que não haviam entendido a mensagem e ele, soberbo em sua cadeira pomposa de gerência, saia como o culto!

E ainda, como se estivesse ensinando algo excepcional a uma estagiária, me sugeriu que eu tivesse uma cópia comigo para usar em minha vida.

A arte do simplicar

Confesso que fiquei parada, sem reação, e senti meu rosto esquentar e eu devia estar muito vermelha. Estava com vergonha do que acabará de ouvir. Fiquei decepcionada com ele. Eu acreditava que ele era um excelente profissional e muito bem cotado na empresa. Ledo engano o meu. Mas, como já disse, em tudo podemos tirar conhecimento. Até de situações como essa. Só nesse episódio aprendi sobre gestão, comunicação, disponibilidade e generosidade. Porém, se eu olhar pelo lado dele, ele estava feliz por ter me “ensinado”.

Sempre achei as palavras uma obra de arte, prontas para nos levar a tantas viagens longas, curtas e a destinos incríveis! Palavras podem trazer alento, paixão, doçura, conhecimento. São tantos os vieses que num artigo não caberiam.

Naquele dia eu aprendi que a comunicação é uma poderosa ferramenta para qualquer um. E que sua eficácia não está nas palavras difíceis e rebuscada, mas sim, na sua clareza.

Saber usar as palavras e se expressar é sem dúvida uma arte.

A comunicação não poder ser associada ao poder de hierarquia.  Ela não pode ser uma guerra de egos e sinal de superioridade. Elas foram concedias para esclarecer e não confundir as pessoas.

Adoro usar a linguagem coloquial como meu prato principal. Ela é natural e fluida! Talvez não traga a sofisticação que muitas acreditam ser necessário para um texto de peso. Mas acredito que a transparência pode trazer um requinte em sua simplicidade. O menos que pode ser mais.

Nossa língua é rica e expressiva

Por que não ter uma eloquência verbal despretensiosa e desembaraçada? A importância deveria estar no núcleo central, na ideia que quer ser transmitida.

Voltando ao mercado corporativo, quantas e quantas empresas se preocupam com tantas coisas e acabam relegando a comunicação a segundo plano? Pense:

Quantas confusões são geradas pela falta de entendimento em uma mensagem ou instrução? Basta fazer o teste e enviar uma mensagem a 20 pessoas e depois pedir que elas resumam de forma suscinta o que entenderam. Garanto que haverá muito mais que um único entendimento.

Sem dúvida, trabalhar a comunicação hoje pode trazer um futuro mais fácil para as corporações e seus funcionários. E-mails rebuscados, longos e cheios de informação que parecem percorrer um labirinto não têm mais espaço. “Chover no molhado” está fora de cogitação.

Acredito fortemente que cada vez mais a comunicação será uma das soft skills mais procuradas e valorizadas dentro das empresas. Transparência, clareza e fluidez.

Fica a provocação para todos nós que temos “lápis e papel” nas mãos: Será que estamos preocupados em passar a mensagem ou deixar claro o nosso conhecimento no uso da linguagem?

 

Patricia Milaré Bertão (Colunista)

Patrícia Milaré Bertão é casada e mãe de duas filhas. Formada em Secretária Executiva (USC), Administração de Empresa (UNIFAE) e MBA em Gestão Empresarial (FAE). É coordenadora sênior Account, TIM Brasil. Participa de um blog que trata sobre diversos temas e assuntos como Comportamento, Relacionamentos e Mundo Corporativo (@vem_que_a_gente_explica). Voluntária na Social Startup, sem fins lucrativos, com foco no desenvolvimento humano – Da Periferia para a Faria Lima. Tem um viés poético e tem três poesias classificadas e publicadas em livros, Poetize 2022 Seleção Poesia Brasileira, Poesia Livre 2022 e Poesia BR. Escrever é meu divã! Colunista EA “Mundo Organizacional”.

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