O ego faz parte do sucesso? | Patrícia Milaré Bertão

As redes sociais vendem sonhos. Linkedin é uma delas. Nasceu como “a profissional” e sem viés popular. O seu core, é negócio, relações profissionais e tudo que cerca esse tema. Mas ela mudou. Tá mais egocêntrica. Então, é preciso combinar o jogo e saber extrair as verdades verdadeiras ocultas nos perfis.

Funcionários ou como hoje são denominados, colaboradores, conseguem difundir mais suas falas, ideias e opiniões do que as marcas para qual eles trabalham. Parece que as empresas demoraram a entender que o Linkedin poderia ser muito maior do que apenas um local específico para divulgar vagas disponíveis e seus feitos.

As pessoas captaram mais rápido a ideia de que cada uma tem sua “própria marca”.

E são elas as responsáveis, por fazer essa marca ter peso e valor. Houve uma verdadeira avalanche para que os perfis fossem trabalhados e lapidados para colocá-los nas vitrines.

Observe o Linkedin. Os colaboradores são fora da curva, ganham prêmios e estão sempre atualizados. Visitam os perfis absortos com os feitos alheios e buscam o seu lugar ao sol. A maioria carrega o estereótipo de profissional culto, graduado em empatia com currículos impecáveis. Têm graduação, pós-graduação e pós, pós, pós-graduação. Vestem a camisa da empresa com maestria e propriedade. O orgulho de pertencer figura em vários perfis.

Os cargos, muitas vezes descritos no inglês, são majestosos! As fotos de perfil traduzem confiança, profissionalismo e sucesso.

A meu ver, mesmo atrasadas, as empresas correram atrás e hoje não são diferentes. Todas engajadas, promissoras, descoladas e modernas. Foram maquiadas para também serem mais expostas. Sem preconceitos e nem julgamentos. Frentes e braços abertos para acolher a todos. Escolhem alguns de seus colaboradores que figuram nas redes como seus embaixadores. São felizes, cultos, engajados, premiados.

Participam de projetos, mentorias e assim seguem a linha da inovação. A nata pinçada com cuidado. Mas são raros e estanques.

Tudo é real? Em nenhum dos lados, sabemos que não. Mas a essência da verdade está ali. Deixo claro que não estou dizendo que existe uma falta de veracidade em seu conteúdo. Apenas alertando para o caminho que se está apontando.

Observando o Linkedin com olhar de fora, vendo os colaboradores, as empresas, os desempregados, as vagas, os posts, os influenciadores, enfim, todo o ecossistema profissional que permeia essa rede, questiono: retoricamente:

Qual o intuito?
Será que precisamos lacrar?
Gerar exposição?
Estar na vitrine?
Isso não é um castelo de areia?
Errar não existe?

Falo com propriedade que me cabe porque eu pertenço a esse cenário e gosto de estar lá. Para onde estamos indo? Qual a estação que iremos descer?

Resposta também retórica. É claro que o erro faz parte de todo o sucesso. Afinal, para chegar até ele, houve tentativas e falhas, tanto de pessoas como empresas e instituições.  

Mas nenhum ser humano ou companhia gosta de expor suas mazelas e revezes. As caminhadas duras e as pedras que foram necessárias quebrar. O quanto houve de suor e transpiração para entregar o sorriso em forma de sucesso. As empresas também impregnaram seus ambientes com comunicação e foco no protagonismo individual. Cada um tem que buscar o seu lugar ao sol. A empresa não é mais responsável pelo crescimento do indivíduo. Cada um constrói sua trajetória profissional e as companhias são apenas gatilhos que proporcionam o desenvolvimento.

Mas vamos a vida real. O dia a dia, e a vida cotidiana dentro das empresas. Algumas vertentes devem ser observadas e avaliadas não de forma rasa, mas com a perspectiva de entender o que de fato acontece.

  • As empresas aproveitam o potencial de muitos de seus colaboradores que publicam conteúdos consistentes e verdadeiros e se tornam influentes em muitos campos e poderiam inclusive ampliar a cobertura da marca a qual trabalham? Ou para ela, “santo de casa não faz milagre”?
  • Será que elas conseguem observam o quanto podem absorver desses colaboradores e terem sucesso e aumentar a sinergia?
  • Por outro lado, essa ânsia das empresas de se mostrarem tão atuais, acontece na prática, dentro de suas estruturas e organogramas ou só está no papel?
  • Colaboradores que se mostram tão engajados com suas marcas, são mesmo ou trata apenas de vitrine para seu próprio portfólio de carreira?
  • O ego faz parte do sucesso?
  • O colaborador está em linha com a sua corporação e coloca toda a energia que demonstra nas redes para desempenhar o seu papel de forma eficiente e eficaz?

Perguntas que não possuem respostas prontas e que são muito particulares para ambos os lados.

Se as narrativas e agendas fossem mais densas e menos “espuma”, certamente haveria um ganho exponencial para empresas e colaboradores. Tirar as escritas do papel, colocar a mão na massa e fazer acontecer. Uma parceria forte e convincente. O verdadeiro ganha-ganha. Questões como liderança, engajamento, gestão, crescimento sustentável e outras tantas que figuram nas pautas das pequenas, medias e grandes corporações estariam em outro patamar e de maneira muito mais promissora.

O mundo mudou muito. Mas ainda existe um ranço incrustrado em empresas e colaboradores que agem de forma muito diferente do discurso que ecoam nas mídias. Existe, sem dúvida, um hiato, um descolamento.

Em resumo, campo vasto para qualquer discussão que vista terno e gravata.

Frases de efeito, inteligentes e que instigam o pensamento. Enquetes lacradoras. Os personagens ilustres descobertos por essa rede, são seguidos por milhares e eles se enchem de orgulho dos seus likes.

Premissas para avaliarmos. Para onde o mercado profissional está caminhando? Como as redes podem fazer parte efetiva desse tripé empresa/colaborador/rede social? Como ser inovador num campo com tantos elementos que remetem aos antigos formatos? A maioria das empresas aumentam cada vez mais a lista de qualificações a seus candidatos. Os candidatos, por sua vez, recheiam seus CVs de cursos, soft skills e conhecimento. Uma parte dos colaboradores das empresas acredita ser injustiçado e não valorizados. Empresas perdem muitos talentos e só se dão conta depois que eles a deixaram.

Do outro lado do plano cartesiano, as pessoas também só valorizam a empresa quando saem e percebem que a diferença deveriam ser eles e não empresa e que talvez tenham perdido uma excelente oportunidade. Tudo termina em “Linkedin”.

Conjecturas. Possibilidades. Teorias e ensaios. Não existe certo ou errado.

E você, em que momento profissional está vivendo na vida real x redes sociais?

 

bionovoa - O ego faz parte do sucesso?

Patrícia Milaré Bertão é casada e mãe de duas filhas. Formada em Secretária Executiva (USC), Administração de Empresa (UNIFAE) e MBA em Gestão Empresarial (FAE). É coordenadora sênior Account, TIM Brasil. Participa de um blog que trata sobre diversos temas e assuntos como Comportamento, Relacionamentos e Mundo Corporativo (@vem_que_a_gente_explica). Voluntária na Social Startup, sem fins lucrativos, com foco no desenvolvimento humano – Da Periferia para a Faria Lima. Tem um viés poético e tem três poesias classificadas e publicadas em livros, Poetize 2022 Seleção Poesia Brasileira, Poesia Livre 2022 e Poesia BR. Escrever é meu divã! Colunista EA “Mundo Corporativo”.

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