Por Tércio Vitor

  

Descubra como quebrar o preconceito silencioso contra a idade, se manter relevante no mercado e transformar décadas de experiência em vantagem competitiva. 

Você já reparou que, no mundo profissional, a idade parece ter um “prazo de validade invisível”? É como se, em algum momento, seu currículo passasse de “experiente” para “antigo” sem que você tivesse feito nada para isso. Esse fenômeno tem nome, história e consequências: etarismo. 

Hoje, mais do que nunca, falar sobre ele não é apenas um convite à reflexão — é um chamado para ação. Especialmente em um momento em que a experiência pode ser o diferencial competitivo mais subestimado do mercado. 

O que é, afinal, o etarismo? 

O termo “etarismo” vem do inglês ageism, criado nos anos 1960 pelo gerontólogo Robert Butler. Ele observou que, assim como existia discriminação por raça ou gênero, havia também um preconceito silencioso contra pessoas com base em sua idade – em especial contra as mais velhas. 

No mundo do trabalho, isso se manifesta em frases como: 

  • “Estamos buscando alguém mais jovem e com energia”.
    Traduzindo: como se energia tivesse data de validade. 
  • “Você está muito qualificado.”
     Traduzindo: você tem mais experiência do que queremos pagar. 
  • “O mercado está mudando rápido demais para quem já tem mais de 50.”
    Traduzindo: mentira disfarçada de conselho.
     

É o tipo de viés que não aparece no papel, mas que pesa na decisão de contratação, promoção ou até mesmo no relacionamento dentro da equipe.                                                         

O contexto atual: um paradoxo histórico 

Nunca vivemos tanto, e nunca tivemos tantas pessoas ativas acima dos 50 anos.
Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), até 2030, um em cada cinco trabalhadores no mundo terá mais de 55 anos. No Brasil, já passamos de 33 milhões de pessoas nessa faixa etária – e boa parte delas está empreendendo ou buscando recolocação. 

O paradoxo é que, enquanto a expectativa de vida cresce, muitos profissionais maduros sentem que o mercado tenta “aposentá-los” antes do tempo. Essa desconexão é uma bomba-relógio para empresas e para a economia. Ignorar a experiência é abrir mão de um estoque gigantesco de conhecimento, visão estratégica e resiliência. 

Os desafios enfrentados pela geração 50+ no trabalho 

  1. Recolocação mais lenta
    Profissionais com mais de 50 anos levam, em média, o dobro do tempo para conseguir uma nova vaga em comparação com colegas mais jovens. 
  1. Estereótipos nocivos
    A crença de que “gente mais velha não se adapta à tecnologia” ainda é um mito muito difundido – e perigoso. 
  1. Redução de oportunidades de crescimento
    Muitas empresas preferem investir em profissionais no início da carreira, supondo que terão mais “tempo útil” na organização. 
  1. Autoimagem e autoconfiança
    O preconceito externo muitas vezes se transforma em uma voz interna dizendo: “talvez eu realmente esteja velho demais para isso”. 

Mas nem tudo é sombra: tendências que jogam a favor 

O mercado está mudando – e a boa notícia é que algumas tendências estão abrindo espaço para uma valorização real da experiência: 

  • Economia prateada (silver economy): é o nome dado ao mercado voltado para consumidores maduros, que movimenta trilhões de dólares no mundo. Empresas que querem falar com esse público precisam de profissionais que o conheçam por dentro. 
  • Lifelong learning: a educação continuada deixou de ser um “plus” e se tornou essencial. Quem aprende sempre, independente da idade, mostra adaptabilidade e mantém relevância. 
  • Trabalho remoto e híbrido: reduz a pressão por presença física e favorece profissionais que têm mais experiência, mas valorizam flexibilidade. 
  • Diversidade geracional: cada vez mais empresas percebem que equipes com idades diferentes geram mais inovação. 

Como a geração 50+ pode se preparar para vencer o etarismo: 

  1. Atualize-se constantemente
    Invista em cursos, certificações e novas habilidades — especialmente digitais. Mostrar que você domina ferramentas modernas quebra um dos principais estereótipos. 
  1. Construa sua presença digital
    Ter um perfil ativo no LinkedIn, compartilhar conteúdos e participar de discussões mostra que você está conectado ao presente e não preso ao passado. 
  1. Reforce sua marca pessoal
    Destaque não só sua experiência, mas como ela resolve problemas de hoje. Experiência sem contexto é currículo; experiência aplicada é valor. 
  1. Networking sem idade
    Relacionar-se com pessoas de diferentes gerações abre portas e derruba barreiras. Participe de eventos presenciais e virtuais. 
  1. Empreenda com propósito
    Muitos 50+ têm encontrado no empreendedorismo uma forma de aplicar seus conhecimentos e continuar ativos economicamente. 

Cases de quem venceu o preconceito 

📌 Case internacionalVera Wang
A renomada estilista começou sua carreira na moda aos 40 anos e só lançou sua primeira coleção de noivas aos 50. Hoje, é um ícone mundial e prova viva de que inovação não tem idade. 

📌 Case nacionalLulu Santos
O cantor e compositor brasileiro se reinventou diversas vezes ao longo da carreira, colaborando com artistas mais jovens e explorando novos estilos musicais. Aos 70+, continua ativo, relevante e com público diversificado. 

📌 Case de negóciosHarland Sanders (Coronel Sanders)
Fundador do KFC, abriu seu primeiro restaurante de franquia aos 65 anos, depois de receber dezenas de “nãos” de investidores. Transformou sua receita de frango em um império global. 

Exemplo prático para aplicar hoje 

Imagine que você tem 55 anos, trabalhou 30 anos na área comercial e agora enfrenta dificuldade para se recolocar. Em vez de apenas enviar currículos, você pode: 

  • Criar uma série de posts no LinkedIn com dicas de vendas baseadas em situações reais que viveu. 
  • Oferecer mentorias individuais ou para pequenas equipes. 
  • Participar de eventos de networking online, usando plataformas como Meetup. 
  • Gravar pequenos vídeos compartilhando “histórias de bastidores” do mercado, que atraem atenção e geram autoridade. 

Esse movimento não só reforça sua relevância como também coloca você no radar de quem contrata ou indica. 

O que as empresas ganham ao abraçar a diversidade etária 

  • Visão estratégica: profissionais maduros enxergam o “quadro completo” e ajudam a evitar erros caros. 
  • Resiliência e equilíbrio: já enfrentaram crises e sabem manter a calma. 
  • Mentoria natural: transmitem conhecimento para equipes mais jovens, acelerando o aprendizado interno. 
  • Reputação positiva: empresas que valorizam a diversidade geracional são vistas como mais éticas e inovadoras. 

Quebrando mitos sobre o 50+ 

Mito: “Não aprendem coisas novas.”
Realidade: O cérebro mantém a capacidade de aprender ao longo da vida, especialmente quando estimulado. 

Mito: “São resistentes a mudanças.”
Realidade: Muitos já se reinventaram várias vezes na carreira. 

Mito: “Não entendem de tecnologia.”
Realidade: Dominar novas ferramentas é questão de treino, não de idade. 

O poder de transformar a própria narrativa 

O etarismo é, sim, um desafio real — mas também é uma oportunidade de mostrar ao mundo que experiência é ouro. O segredo está em não esperar que o mercado mude sozinho, e sim em se posicionar como protagonista da própria trajetória. 

Se o tempo é inevitável, que ele seja o seu diferencial, não a sua barreira.

Se o mercado fecha portas, construa janelas.

Se alguém disser “você já passou da idade”, responda: “Passei, sim… e levei comigo tudo que aprendi no caminho”. 

O chamado para quem quer ir além 

O futuro do trabalho não pertence a uma faixa etária — pertence a quem está preparado, conectado e disposto a aprender sempre.
E se você está lendo este texto, já deu o primeiro passo. 

Agora, eu quero te convidar para o próximo:
Siga minha coluna, compartilhe este artigo e vamos juntos criar um mercado em que idade seja sinônimo de potência, não de limite.
Quanto mais pessoas falarem sobre isso, mais rápido quebraremos esse preconceito silencioso. 

Afinal, o etarismo só sobrevive no silêncio. E nós, juntos, temos muito a dizer. 

 

tercio vitor - Etarismo no mundo do trabalho: Como a geração 50+ está virando o jogo e provando que experiência é inovação

Tércio Vitor é Economista Comportamental. Especialista em Alta Performance e Gestão de Marketing. Professor. Palestrante. Escritor. Mentor e Coach. Há mais de três décadas estuda as disciplinas de Marketing e de Desenvolvimento Humano. Há vinte e um anos fundou e dirige a AA & T – Consultoria & Treinamentos. Durante essa jornada já impactou positivamente a vida de milhares de pessoas e centenas de organizações. Colunista EA “Vida & Negócios”. 

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