Por Toni Carlos Dias
Dizem que tudo começa com uma pergunta simples: “E se…?”. Nesse instante, a realidade se expande e surge um universo de possibilidades. A lógica do “se” é a semente do movimento, a centelha que desperta nossa imaginação e nos faz explorar o mundo em busca de respostas — e, sobretudo, de novas perguntas. É nessa dança infinita entre curiosidade e ação que floresce o Movimento Multicinético.
O que é o Movimento Multicinético?
É um conceito que desenvolvi ao longo de 50 anos de existência, fruto de uma trajetória profissional marcada por constantes transições e descobertas. Ele representa a capacidade de transitar entre múltiplas áreas, unindo conhecimentos distintos em um fluxo único de criação e aprendizado.
O prefixo “multi” reforça a pluralidade de saberes, enquanto “cinetismo” salienta o movimento contínuo — pois não se trata apenas de acumular experiências, mas de fazer com que elas dialoguem, gerando uma energia transformadora.
Diferentemente de um profissional que segue um caminho linear e se concentra em um único nicho, o indivíduo “Multicinético” destaca-se por integrar diferentes perspectivas, encarando a curiosidade como motor de mudança. Isso significa que cada novo desafio, cada porta aberta e cada “E se?” respondido adiciona uma camada de riqueza ao repertório de
competências. Em vez de se limitar ao que já conhece, o Multicinético tece pontes entre áreas aparentemente díspares — como arte e tecnologia, ciência e espiritualidade, negócios e educação — alcançando soluções criativas e singulares.
A origem: 50 anos de trajetória e infinitas fronteiras
Minha própria história deu origem a esse conceito. Iniciei minha vida profissional ainda muito jovem, explorando diferentes setores: educação, indústria, comunicação, empreendedorismo, entre tantos outros. A cada novo passo, não apenas coletava saberes, mas descobria como conectá-los. Logo notei que essa postura curiosa gerava um efeito exponencial: quanto mais eu aprendia, mais portas de conhecimento se abriam.
Foi então que me deparei com a questão-chave: se cada experiência potencializa a próxima, por que não valorizar essa lógica do “se” como força central de crescimento?
Compreendi, portanto, que não se tratava apenas de uma soma de habilidades, mas de um estado de fluxo entre diferentes universos do saber — um movimento orquestrado pela curiosidade, pela vontade de experimentar e pela abertura ao novo. Assim nasceu o Movimento Multicinético: uma síntese de vivências em constante expansão.
A principal soft skill para o futuro
O cenário global avança rapidamente rumo à complexidade e à imprevisibilidade. Nesse contexto, já não basta dominar uma só disciplina ou ter um plano profissional rígido. A
capacidade de “espalhar” a criatividade por várias frentes, bem como adaptar-se às mudanças com agilidade, tornou-se indispensável. É aqui que o Movimento Multicinético surge como uma das soft skills mais promissoras, especialmente para a Geração Z.
Enquanto gerações anteriores valorizavam a especialização linear, os jovens de hoje dão cada vez mais importância a experiências transversais.
São nativos digitais, mas também buscam conexões em áreas como arte, sustentabilidade, negócios e empreendedorismo social. O profissional Multicinético domina essa “costura” de vertentes, tornando-se um agente de inovação. Ele identifica oportunidades onde a maioria vê apenas obstáculos, por compreender que cada ponto de contato entre diferentes áreas pode ser uma fonte inesgotável de inspiração.
Para quem atua em Recursos Humanos, o Movimento Multicinético indica uma tendência clara: valorizar profissionais que saibam navegar em múltiplos contextos e fomentar equipes multidisciplinares. É nessa cultura de aprendizagem contínua que surgem lideranças mais empáticas, solucionadores mais criativos e times mais resilientes.
A lógica do “Se” e o convite à descoberta
Na lógica formal, “Se A, então B” costuma indicar uma relação fixa de causa e consequência. Contudo, na prática, “E se…?” adquire tom de provocação, despertando nossa curiosidade. E se eu misturar ciência de dados com música? E se eu conectar sustentabilidade a modelos de negócio disruptivos? E se não houver fronteiras para meus interesses, até onde posso chegar?
É nesse entrelaçamento de hipóteses que o Movimento Multicinético se fortalece. Cada conexão aparentemente improvável estimula novas perspectivas; cada descoberta gera outras perguntas.
O ciclo se retroalimenta, impulsionando-nos a seguir em frente — e a mergulhar cada vez mais fundo na exploração de múltiplos territórios.
Um futuro sem fronteiras
Adotar o Movimento Multicinético é, sobretudo, reconhecer que somos eternos aprendizes em constante deslocamento. É dizer “sim” ao imprevisível, reconciliar-se com a incerteza e tomar a curiosidade como guia. Se a única certeza é a mudança, então precisamos de profissionais — e de equipes — capazes de construir pontes entre diferentes mundos, abraçando tanto o rigor analítico quanto a espontaneidade criativa.
Fica aqui o meu convite: faça do “Se” o ponto de partida para a ação. Interprete cada “E se…?” como uma oportunidade para explorar novos caminhos, aprender, colaborar e criar.
Se você aceitar essa lógica e se deixar conduzir pelo fluxo Multicinético, poderá descobrir que a verdadeira revolução acontece quando unimos o que, à primeira vista, parece incompatível. E quem sabe, nesse processo, tenhamos a chance de viver em um mundo onde a curiosidade não apenas move montanhas, mas redesenha todo o horizonte — inclusive o das organizações que buscamos construir.
Toni Carlos Dias é um Ser Humano formado em Administração de Empresas, MBA em Gestão de Pessoas e Ciências Políticas, defende uma nova lógica corporativa baseada na colaboração. Cineasta independente, produziu seis curtas-metragens exibidos em festivais brasileiros. Atualmente, é professor de pós-graduação na FIA, onde ministra Qualidade de Vida no Trabalho Virtual, além de ser Bolsista no Programa de Agente Local de Inovação (Sebrae-RJ). Atuou em grandes empresas como Eletronuclear, Siemens e Ambev. É colunista EA “Fronteiras Curiosas”.
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