Por Mauro Pacanowski

 

Neste meu primeiro artigo para a coluna Relatos Corporativos da EA Magazine, a qual tenho o privilégio em colaborar, relato uma passagem da minha vida profissional, que foi um divisor em minha jornada como executivo líder no mercado.

Era um dia de junho de 1992, às 14 horas, de um dia cheio de reuniões, quando o telefone de meu escritório tocou. Do outro lado, uma voz com sotaque forte, pedindo uma reunião para aquele mesmo dia, e meu interlocutor parecia estar bem ansioso. Naquela época, eu estava bem empregado, com bom salário e posição, administrando um grupo com 35 pessoas e liderando o departamento mais lucrativo da empresa, com bela verba para marketing e grande visibilidade.

Gentilmente atendi e solicitei para agendar para o dia seguinte. Marcamos às 9 horas, no escritório daquela voz forte e intrigante. Pontualmente lá estava eu, pronto e curioso para saber qual assunto, o porquê do chamado e efetivamente o que seria discutido.

Naquela manhã ao chegar ao local, me deparei com uma empresa alemã, instalada num prédio de três andares. Na recepção, fui prontamente atendido e acompanhado até o último andar e após percorrer um corredor de pelo menos seis salas, cheguei a uma antesala onde não havia ninguém, entretanto, à frente havia uma porta aberta me aguardava. Do lado de dentro uma enorme sala muito bem decorada, apresentava as primeiras impressões da pessoa, a qual, me receberia. Alguns quadros com belas imagens de natureza, pequenos animais empalhados, uma mesa com muitos papéis.

Aquele sotaque ao telefone no dia anterior, era de um senhor, alto, com um enorme bigode, trajando colete de camurça, camisa branca com mangas bufantes e calça jeans.

Uma figura de impacto. Ele era o presidente de um laboratório player farmacêutico alemão.           

O senhor pediu para entrar e sentar. Por quase uma hora, ele falou sem interrupção, de forma vibrante e com brilho nos olhos. Fiquei ali sentado, impactado pelo que ouvia, confesso, sem entender o significado do encontro. Ao acabar, perguntou o que eu achava do projeto. Que projeto? Me pareceu um devaneio, pois até aquele momento não conseguia conectar o que ele falava, com minha presença ali. Eu estava confuso, porque na verdade, não entendi o porquê do convite, já que não entendia nada do assunto a que ele se referiu, como um sonho.

Eu disse: acho que não sou a pessoa certa. Ele disse: pesquisei tudo sobre você, e se não fosse, a pessoa certa, não receberia aquele convite. Assim, na lata.

Lembro que meus olhos arregalaram, parei, respirei e pensei: É sou eu mesmo. O cheque mate veio quando ele falou: Você não quer viver e entrar no meu sonho? Que tal repartimos uma história nova, original e inédita?

Meus Deus, cadê a ficha que não caia?

Depois de alguns segundos, pensei, balancei e disse: Por que não? Naquele momento, eu estava arriscando tudo que tinha. Reputação, cargo, salário, “zona de conforto”. Aquele senhor era muito persuasivo e tinha um propósito muito forte e estava convicto que o projeto seria bem sucedido. Claro, pedi um tempo para pensar, conversar com a família. Ele simplesmente olhou e falou: sem problemas, amanhã a noite às 20 horas, esteja em minha casa, e não esquece traga a sua esposa.

Aquele convite mudaria totalmente minha vida. Em primeiro lugar teria que ficar longe de casa, para viajar e conhecer como funcionava o mercado em outros países, participação em congressos e seminários, visita a diversos executivos internacionais, enfim uma imersão para entender afinal do que se tratava aquele sonho.

Para que você, leitor, tenha uma ideia no Brasil, aquele assunto não era nem conhecido nem ventilado no mercado, apenas três ou quatro pessoas conheciam ao potencial extraordinário do que poderia acontecer em nosso país.

Assim, começou um projeto pioneiro, que há anos, oferece a sociedade brasileira, uma melhor qualidade de vida. A introdução e lançamento da primeira linha de genéricos do Brasil.

E eu estava sendo convidado para ser o primeiro executivo a desenhar, planejar, desenvolver, administrar todo o projeto. Aquele senhor visionário ao buscar no mercado um executivo para tocar o “projeto ou “sonho”, foi atrás de alguém que não conhecia nada, leigo, sem vícios e acreditou.

Imagina quanto tempo e investimento financeiro dispendeu este projeto, de seu estudo de viabilidade a ele chegar a mim?

Imagina o que estava em jogo. Imagina o impacto deste convite em minha vida profissional?

Ao trazer a cultura da inovação e delegar um “sonho”, aquele líder, demonstrou coragem, ousadia e garra, não só para mim, mas para toda empresa que já tinha quase 500 colaboradores envolvidos em outros produtos e projetos.

Agora pergunto: Você aceitaria o convite mesmo, sem dominar ou mesmo conhecer sobre o assunto?

Você sairia da zona de conforto, salário e posição, e arriscaria seu futuro?

Você aceitaria realizar um sonho que não era seu?

 

foto Mauro Pacanowski - A cultura alemã na essência

Mauro Pacanowski atuou como executivo por mais de 25 anos, hoje é consultor, mentor, escritor. Foi pioneiro na introdução dos medicamentos genéricos e liderou a formação da primeira equipe feminina na área comercial e propaganda médica da indústria farmacêutica brasileira. Especialista no ecossistema da Saúde foi assessor do Ministério da Saúde. Atuou em empresas como Roche, Merck, Knoll Amil e Gilette. Estrategista de inteligência de mercado, expert em inovação com foco em gestão e produto. Líder de equipes comerciais e de alta performance. Foi jurado do prêmio ABERJE. Arquiteto de alianças estratégicas, além de docente na FGV, na UNINASSAU e Universidade Mackenzie. Autor do livro “Marketing de Varejo”, que até a quinta edição vendeu 30 mil exemplares. Colunista EA “Relatos corporativos”.

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