Por Rodofo Pombo
Informação e conhecimento são parecidos, mas podem nos levar para eternas surpresas
Participando de uma conversa
No fim do mês de abril, participei do Web Summit Rio e, dentre as muitas experiências e temas interessantes que tive o privilégio de acessar, quero trazer um em detalhes:
No palco estavam 2 pessoas.
A primeira era a jornalista Patrícia Campos Melo, que eu só havia tido contato em formas de palavras ao ler um livro de sua autoria e mais alguns textos soltos pela internet. Já a outra, era o advogado e especialista em tecnologia Ronaldo Lemos, o contato com ele também havia sido em uma tela e um pouco mais frequente, não me lembro se em alguns programas de televisão, entrevistas ou algo parecido.
Os dois estavam gravando ao vivo o primeiro episódio do podcast Neural (LINK https://podcasts.apple.com/br/podcast/neural/id1816752358). No início do bate-papo, Ronaldo trouxe uma pergunta na qual a resposta pegou todos de surpresa:
_ “Vocês sabem quais são os aplicativos com mais usuários no Brasil?”
Os palpites óbvios e corretos colocam duas redes sociais nos primeiros lugares. Mas sabe qual é o terceiro? Gov.br
Isso sim causou um espanto geral!
Mas não quero falar sobre um aplicativo para serviços públicos que é amplamente utilizado pela população. Apesar deste ser um bom tema e, no mesmo evento, eu ter assistido a um case do Governo da Estônia.
Aposta no conclave?
No meio da conversa Ronaldo Lemos falou sobre o Polymarket, que nada mais é do que um mercado de previsão em que os preços refletem a probabilidade coletiva de algo acontecer.
E esse algo é sobre as coisas mais aleatórias que estão em alta no mundo.
Parece uma bet, mas não é uma bet.
Nesse momento, havia poucos dias que o Papa Francisco havia morrido e os cardeais estavam chegando à Roma para a eleição do novo Papa. Ou seja, o conclave ainda não tinha sido iniciado.
A opinião coletiva mais compartilhada era de que alguns cardeais estavam à frente na disputa, entre eles 2 italianos, 1 indonésio e 1 franco-argelino. Todos davam a escolha entre um dos 4 cardeais como certa.
Até que, no meio da conversa, Ronaldo disse que havia se encontrado mais cedo com algum integrante da alta cúpula da PUC. Lembrando que o “P” de PUC vem de pontifícia e o “C” vem de católica, isso é bem importante no contexto. E, nessa conversa, a pessoa acreditava que havia grandes possibilidades do Cardeal Robert Prevost ser eleito.
Não é mentira, isso está gravado no podcast.
Mas ninguém falava do tal Prevost, ninguém sabia nem quem ele era. Eu mesmo, quando ouvi o seu nome, pesquisei e vi que suas possibilidades de eleição eram inferiores a 2%.
Mas fiquei com o Prevost na cabeça, mais um nome para decorar nessa vida.
Poucos dias depois do Web Summit Rio, estava em casa e, ao passar por alguns canais na TV, parei em uma entrevista sobre o conclave com outro especialista da PUC. No finalzinho da conversa ele deixou escapar que sua “aposta” não estava em nenhum dos cardeais favoritos. Não disse quem era, mas também fiquei com isso na cabeça.
A consagração de que não sabemos de nada
Poucos dias depois, estava em um ônibus a caminho do Rio. Ao pegar o celular e acessar um portal de notícias, leio o seguinte título: “Habemus papam”: fumaça branca sai da chaminé da Capela Sistina”.
Na mesma hora entrei no Polymarket e lá estava a probabilidade de 99% de chances do novo Papa ser o Cardeal italiano Pietro Parolin, um dos apontados como favoritos e braço direito do Papa Francisco.
É o óbvio e faz sentido.
Mas…
Não foi ele, como todos soubemos. Quase todos, menos os especialistas da PUC.
O gráfico abaixo não me deixa mentir:
Fonte: Polymarket
Ao ler que o Cardeal Prevost havia sido o escolhido e, pelo visto, com mais de 100 votos dentre os 133 totais, pensei na mesma hora no que tinha ouvido naquele palco do Web Summit há 10 dias. Pensei também, quando o então, Cardeal Bergoglio virou Papa Francisco em 2013 e surpreendeu 99,99% das pessoas.
Será que a gente dá o valor necessário para as opiniões e projeções de quem realmente conhece e está inserido em determinado tema?
Ou vamos com a maioria, com o óbvio, com a continuidade do hoje e somos surpreendidos dia após dia?Assista aqui este episódio do podcast Neural: https://www.instagram.com/reel/DJbkuucO-hG/
Rodolfo Pombo é mestre em Administração (UFF), pós-graduado em Gestão e Empreendedorismo (UFF) e pós-graduando em Foresight Estratégico e Design de Futuros (ESPM). Designer visual, designer de serviços e pesquisador, mentor de startups, atuando em tutorias e condução de projetos relacionados ao empreendedorismo e inovação para consultorias e empresas players. Colunista EA “Olhares Futuros”.
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