Por Thierry Cintra Marcondes

 

Março é um mês que ficará marcado por contrastes sonoros. O dia 3 de março foi o Dia Mundial da Audição. Precisamos falar sobre, porque as pessoas estão perdendo audição seja por velhice (que bom estamos envelhecendo), por uso excessivo de fones de ouvidos, isso em videoconferências ou escutando músicas, observe que não desconectamos nunca.

Eis o paradoxo: num mundo onde 86% das pessoas assistem vídeos sem som (Meta), por que ainda tratamos legendas como “adaptação para deficientes” e não como estratégia multimilionária de engajamento?

(Spoiler: empresas que acordaram para isso estão lucrando 30 vezes mais – e você vai descobrir como.)

O dia em que o cinema brasileiro me excluiu (e perdeu R$ 200 no processo)

Duas cenas:

Eu, surdo, acompanhava a celebração: o Oscar e seu vencedor brasileiro – que, ironicamente, não pude assistir por falta de legendas no cinema.

“Tem legenda?” – perguntou minha esposa ao comprar ingressos para o filme nacional premiado.

O atendente riu:

— “Ué, é em português, pra quê legenda?”

Resultado:

  • 4 ingressos não vendidos (R$ 200 a menos para o cinema – aproximadamente e depende do cinema)
  • 1 cliente frustrado (eu) e acho que todos, pois ninguém assistiu filme
  • 3 pessoas que nunca mais voltaram (família e amigos)

O tamanho do erro

  • Pessoas com deficiência movimentam R$ 52 bi/ano no Brasil (IBGE)
  • Cada real investido em acessibilidade gera R$ 4 em retorno (Accenture)
  • 72% dos consumidores boicotam marcas inacessíveis (Deloitte)

A revolução silenciosa das plataformas de streaming

Enquanto cinemas perdiam meu dinheiro, a Netflix descobriu um segredo: legendas.

Vídeos legendados têm:📈 30x mais engajamento (Facebook)
⏱️ 12% aumento no tempo de tela (YouTube)
💰 15% mais assinaturas em lares com deficientes auditivos (Comscore)

Cases que entenderam o jogo:

TikTok. Legendas automáticas aumentaram criadores surdos em 400%

Amazon Prime. Opção “Legendas Descritivas” reduziu churn em 7%

GloboPlay. Investimento em LIBRAS dobrou acessos na categoria “infantil”

Me conte: e seu negócio? Já calculou quanto está perdendo sem legendas? “_ Mas não é só colocar texto na tela!” – sim, fato, a ciência por trás das legendas que vendem

Por outro lado, uma legenda ruim é como um produto com embalagem falha: ninguém compra.

Eis o que transforma legendas em armas de engajamento:

Sons ambientais (“vidro quebrando”, “sussurro à esquerda”)
Identificação de falantes (“Joana, sarcástica”)
Descrição musical (“violinos tensionam”)

Impacto real:

  • Filmes com legendas descritivas têm 23% mais compartilhamentos (Vimeo)
  • Treinamentos corporativos legendados aumentam retenção em 40% (Harvard Business Review)
  • Anúncios com CC (Closed Caption) geram 2x mais conversões (Nielsen)

Do cinema ao RH: onde você está deixando dinheiro na mesa?

Bares e restaurantes

  • 64% dos surdos evitam locais sem cardápio digital (pesquisa própria)

Solução: QR Codes com descrição dos drinks (a LaStrasse fez e vendeu 30% mais)

E-learning

  • Cursos legendados têm 47% mais conclusão (Coursera)

Case: A Alura incluiu LIBRAS e aumentou receita em R$ 18 mi/ano

Eventos corporativos

  • Webinars com CC atraem 3x mais leads qualificados (HubSpot)

Dado: 61% dos ouvintes usam legendas para não atrapalhar colegas (MIT)

Conclusão: O som do dinheiro é visual

Enquanto você lê este artigo:

  • 000 vídeos estão sendo assistidos sem som no Brasil
  • 3 empresas perdendo vendas por falta de legendas
  • 1 concorrente seu lucrando com acessibilidade

Três ações para o amanhã que já começam hoje

  1. Audite seu conteúdo – quantos vídeos do seu site têm CC?
  2. Treine sua equipe – legendas descritivas são habilidade de vendas
  3. Monetize a inclusão – público surdo é 15% da população (OMS), não 1%

O mercado bilionário da acessibilidade chegou. A pergunta é: seu negócio vai ouvir (ou ler) essa oportunidade?

Box Redação

“Este artigo expõe dados pouco conhecidos sobre o impacto financeiro da legendagem, usando storytelling para engajar executivos. O formato pode ser replicado para outras deficiências, sempre conectando vivência a ROI mensurável.”

Fontes

Relatório “The Silent Stream” (Comscore, 2023)

Pesquisa “Consumer Habits of Deaf Population” (Gallaudet University)

Case Alura (disponível no portal Porvir)

 

Thierry - Por que legendas são o novo ouro dos negócios

Thierry Cintra Marcondes é especialista em inovação, acessibilidade e impacto, com experiência em futurismo, tendências e desenvolvimento de tecnologias. Professor convidado na Fundação Dom Cabral, atua em cursos para executivos com foco em ESG e Inovação. Conselheiro em empresas e ONGs, é engenheiro mecânico (Unicamp) e fundador das startups Evolucar e Ávitus. Liderou programas de Acessibilidade na Accenture e Indústria 4.0 na L’Oréal, com vasta experiência em lançar produtos e promover acessibilidade como estratégia de negócio. Defende a inclusão dos surdos como catalisadores de novas tecnologias. Colunista EA “Vida acessível”.

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