Por Tércio Vitor

 

Você já parou para pensar em como as pessoas tomam decisões? Por que, muitas vezes, superestimamos a probabilidade de eventos improváveis e damos peso excessivo a esses eventos em nossas escolhas?

Entender esses fenômenos pode nos ajudar a fazer escolhas mais conscientes, tanto na vida pessoal quanto nos negócios.

A psicologia por trás das decisões

Quando nos deparamos com uma decisão, nosso cérebro utiliza mecanismos psicológicos para simplificar o processo. Três desses mecanismos são a atenção concentrada, o viés de confirmação e o conforto cognitivo. Juntos, eles podem nos levar a superestimar a importância de eventos raros e a tomar decisões baseadas em percepções distorcidas da realidade.

  1. Atenção concentrada

A atenção concentrada ocorre quando focamos intensamente em um detalhe específico, negligenciando outros aspectos importantes. Por exemplo, imagine um empreendedor que está considerando lançar um novo produto no mercado. Ele pode estar tão focado no sucesso de um concorrente que lançou um produto semelhante que ignora os desafios únicos do seu próprio mercado. Esse foco excessivo pode levá-lo a superestimar suas chances de sucesso, ignorando fatores como a falta de diferenciação ou o potencial de saturação do mercado.

Exemplo prático: Um estudo de caso que ilustra bem a atenção concentrada é o do lançamento do Segway, o veículo de transporte pessoal. Em 2001, o inventor Dean Kamen acreditava que o Segway revolucionaria o transporte urbano, mas ele estava tão focado na inovação tecnológica que subestimou a resistência cultural e os desafios de adaptação.

Resultado? As vendas foram muito inferiores às expectativas, demonstrando como a atenção concentrada em um único aspecto pode distorcer o julgamento.

  1. Viés de confirmação

O viés de confirmação é a tendência de buscar, interpretar e lembrar informações que confirmem nossas crenças pré-existentes. Esse viés pode nos levar a ignorar dados contraditórios e a dar peso excessivo a eventos improváveis que se alinham com o que já acreditamos.

Exemplo prático: Um investidor que acredita firmemente que uma empresa emergente será o próximo “unicórnio” pode ignorar sinais de alerta, como uma gestão inexperiente ou problemas de fluxo de caixa. Ele buscará apenas notícias positivas, fortalecendo sua convicção e aumentando o risco de uma decisão equivocada.

  1. Conforto cognitivo

O conforto cognitivo é a preferência por informações que são fáceis de processar e entender. Quando algo parece simples e claro, tendemos a confiar mais nessa informação, mesmo que ela seja menos precisa ou incompleta. Isso pode levar à superestimação de eventos improváveis, especialmente se a ideia for fácil de visualizar ou se estiver amplamente divulgada.

Exemplo prático: Considere o medo de voar. Estatisticamente, acidentes de avião são extremamente raros, mas como eles recebem ampla cobertura midiática e são fáceis de imaginar, muitas pessoas superestimam o risco e evitam voar. Esse mesmo princípio pode ser observado em decisões de negócios, onde o medo de uma crise econômica iminente pode fazer com que gestores tomem medidas preventivas excessivas, como cortes orçamentários profundos, mesmo que as probabilidades reais sejam baixas.

Aplicação no dia a dia e nos negócios

Esses mecanismos psicológicos não afetam apenas grandes decisões. Eles também estão presentes em nossas escolhas cotidianas. No trabalho, em casa e até mesmo nas interações sociais, estamos constantemente avaliando probabilidades e atribuindo pesos a eventos com base em percepções que podem estar distorcidas.

Decisões pessoais

Imagine alguém que sempre teve medo de cães por ter sido mordido na infância. Esse evento raro e improvável pode levar a uma superestimação dos riscos de estar perto de cães, influenciando decisões como evitar parques ou encontros com amigos que têm pets. Esse tipo de julgamento, embora compreensível, limita as experiências e impede o crescimento pessoal.

Decisões nos negócios

Nos negócios, a superestimação de eventos improváveis pode resultar em decisões estratégicas que, na prática, prejudicam a empresa. Uma startup, por exemplo, pode investir pesadamente em uma campanha de marketing baseada no sucesso viral de uma outra campanha similar, acreditando que o mesmo resultado será alcançado. No entanto, campanhas virais são exceções, não a regra, e esse excesso de confiança pode resultar em desperdício de recursos.

Como mitigar esses efeitos

Conhecer os mecanismos que influenciam nossas decisões é o primeiro passo para tomar decisões mais equilibradas. Aqui estão algumas estratégias práticas para evitar a superestimação de eventos improváveis e o peso excessivo que lhes damos:

  1. Diversificação da perspectiva: Busque ativamente opiniões e dados que desafiem suas crenças. Isso ajuda a balancear o viés de confirmação.
  2. Análise de cenários: Ao tomar decisões importantes, crie cenários baseados em diferentes probabilidades, incluindo os mais comuns e não apenas os extremos.
  3. Consultoria e feedback: Envolver consultores externos ou buscar feedback de colegas pode trazer novas perspectivas e reduzir o foco excessivo em detalhes específicos.
  4. Consciência emocional: Esteja atento ao impacto das emoções no processo decisório. Medo, entusiasmo e confiança excessiva podem distorcer a percepção da realidade.

Conclusão

Compreender como formamos julgamentos e atribuímos pesos de decisão é fundamental para evitar armadilhas cognitivas. Seja na vida pessoal ou nos negócios, a chave para tomar decisões melhores é equilibrar as percepções com uma análise racional e diversificada. Ao desenvolver essa habilidade, você estará mais preparado para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades com clareza e confiança.

Esses títulos capturam a essência do artigo, destacando o impacto das decisões e convidando o leitor a explorar como melhorar suas escolhas.

 

tercio vitor - O poder do julgamento: Desvendando os segredos por trás de decisões inteligentes

Tércio Vitor é Economista Comportamental. Especialista em Alta Performance e Gestão de Marketing. Professor. Palestrante. Escritor. Mentor e Coach. Há mais de três décadas estuda as disciplinas de Marketing e de Desenvolvimento Humano. Há vinte e um anos fundou e dirige a AA & T – Consultoria & Treinamentos. Durante essa jornada já impactou positivamente a vida de milhares de pessoas e centenas de organizações. Colunista EA “Vida & Negócios”.

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