Por Jôsy Andrade

 

Esse artigo vai fazer apenas um recorte, das tantas possibilidades, de análise do que nos espera no futuro do mercado de trabalho. Sempre que leio acerca deste tema, vejo a tecnologia como protagonista, novas carreiras e profissões, mas pouco se fala da tragédia que teremos pela frente com a falta de qualificação das pessoas.

Esse tema tem me preocupado muito, pois vejo chover posts aqui no LinkedIn com relatos de profissionais que são sucessivamente reprovados em processos seletivos, outros tantos entrando em nível de desesperança pessoal por falta de oportunidade no concorrido mercado de trabalho. Eu não estou concluindo que a única questão é falta de qualificação, tampouco que todos os profissionais que estão sem trabalhar não tem qualificação. Meu ponto é justamente porque acredito que muitos profissionais qualificados já sofrem com a falta de oportunidade.

Ao longo da minha carreira como recrutadora, elaborei, juntamente com meu time, diversos cases e etapas de processo seletivo que visavam avaliar as competências mandatórias para ter sucesso na posição. Obviamente a complexidade das atividades previstas estavam relacionadas a complexidade e senioridade da posição.

Como premissa básica, toda vez que uma posição seria elegível a ter e-mail corporativo, a redação deveria ser checada. De assistentes a diretores, com diferentes propostas, avaliávamos a redação e, imaginem o resultado? Muitos profissionais que se destacavam nas entrevistas e em soft skills da empresa eram reprovados por apresentarem uma péssima redação. Erros de português, concordâncias (verbal e gramatical), além da incoerência com o tema proposto eram os principais pontos.

Dados alarmantes sobre os estudantes brasileiros

Dados do PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, mostram alguns dados muito preocupantes:

  • 49,9% percentual de quanto os alunos brasileiros conseguem interpretar e compreender um pequeno texto (na China o resultado é 94,9%)
  • 31,9% percentual de quanto os quanto alunos brasileiros conseguem realizar de operações matemáticas simples (na China o resaultado é 97,6%)
  • Dados do PISA mostram estagnação na evolução da educação no Brasil.

Vale contextualizar que o PISA é uma metodologia internacional que avalia os sistemas de ensino em todo o mundo. O objetivo do PISA é medir o nível educacional de jovens de 15 anos por meio de provas de leitura, matemática e ciências. O exame é realizado a cada três anos pela OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

Embora o PISA seja controverso e exista muita polêmica sobre ele, vale considerar que estamos aceitando que jovens profissionais enfrentarão muita dificuldade para entrar e se manter no mercado de trabalho.

Estamos aceitando porque não estamos fazendo nada!

Políticas de Inclusão não serão suficientes

De alguns anos para cá, acompanhamos empresas colocando vagas afirmativas para público menos favorecido. Isso é um avanço muito importante para, entre outras coisas, diversificar o pensamento no mundo corporativo.

Contudo sabemos que essa entrada forçada traz desafios de sustentação na posição e progressão na carreira.

Recentemente conheci um jovem que vou chamar de Gustavo, preservando a identidade original do profissional.

Gustavo estava em uma empresa dos sonhos: empresa grande com excelentes benefícios e que muita gente deseja entrar. Jovem oriundo da periferia de São Paulo, com família desestruturada e que terminou os estudos em escola pública. Com a bolsa do programa Jovem Aprendiz, pagava a faculdade de Administração pela noite. Ele era a primeira pessoa na família a ingressar em uma universidade. No trabalho, era querido pela equipe, muito disponível, com boa comunicação, organizado e colaborativo, mas cometia consistentemente pequenos erros nas entregas e passava boa parte do tempo em refação. Embora fosse muito bem quisto, em nenhuma reunião de talento que eu acompanhei haviam planos de evolução na carreira para ele, pois a “base é fraca”.

Gustavo recebia bons feedbacks e buscava se desenvolver, mas a verdade é que com uma formação base inconsistente, fica muito mais difícil reaprender a se expressar corretamente, por exemplo.

Gustavo entrou no mundo corporativo e lá se manteria com alguma dificuldade, mas sem perspectiva de evolução.

O que podemos fazer para mudar esse cenário?

Todos nós podemos fazer algo para virar esse jogo.

Eu me preocupo com o futuro profissional que minhas filhas encontrarão. Elas estão sendo preparadas de todas as formas que eu consigo, mas eu sei que há uma massa de crianças e jovens sendo negligenciadas na educação.

Eu me incomodo com as perspectivas de desemprego, que se agravarão com a transformação digital. Posições mais operacionais serão substituídas por robôs, inteligência artificial e sistemas.

Nas Lojas Americanas, por exemplo, já é possível realizar uma compra em loja e realizar a transação de pagamento sem auxílio de nenhum funcionário, agências bancárias sendo fechadas, já que os bancos estão cada vez mais online, e por aí temos tantos outros exemplos.

Foi por isso que eu me juntei com o Instituto Alicerce.

Com objetivo de virar esse jogo para um grupo de 20 estudantes em situação de vulnerabilidade em Salvador, elaboramos um projeto que prevê uma sala de aula no contraturno escolar.

Muitos desses estudantes estão com tanta dificuldade de acompanhar os estudos, que consideram abandonar a escola. Outros não consideram abandonar para não perderem benefícios sociais para a família, já que alguns programas sociais têm como critério ter crianças e jovens matriculados em escolas públicas.

Quando eu fecho meus olhos não tenho nenhuma dificuldade em imaginar o abismo que se forma entre essas crianças e jovens para um futuro promissor.

Se isso também te incomoda, vem comigo nesta transformação!

O que você pode e deve fazer:

  1. Doação em dinheiro diretamente na conta do projeto: https://campaign.doare.org/campanha/235938/instituto-alicerce-josy-andrade/instituto-alicerce
  2. Divulgar essa iniciativa para seus amigos, seja através do compartilhamento do link da campanha de doação, compartilhamento deste artigo.
  3. Conhecer outros dados através da minha campanha no Instagram: https://www.secure.instagram.com/p/CjkuHHYpT3L/

Sobre o Instituto Alicerce

A metodologia do Instituto Alicerce é conhecida por:

  1. Aluno no centro do processo de aprendizagem: Atuação direta nas dificuldades individuais reduzindo a defasagem de conhecimento e personalizando a educação para cada um.
  2. Data driven: o planejamento da aula se faz com base em dados (os alunos são avaliados bimestralmente).
  3. Projeto de vida: aliado ao reforço escolar (português, matemática e ciências), habilidades sócio-emocionais, que chamamos de soft skills são trabalhados.
  4. Metodologia ativa: aulas baseadas em projetos, estações de aprendizagem e peer learning fazem parte da rotina.
  5. Alinhamento BNCC e PISA: objetivos de aprendizado e níveis alinhados a referências nacionais e internacionais.
  6. Vínculo e Intencionalidade: formação continuada, foco na relação aluno-instrutor.
  7. Gestão ágil: sprints pedagógicas a cada dois meses com monitoramento de aprendizagem.
  8. Tech enable: learning management system (LMS), teste adaptativo, narrativa gamificada.

Luana Araújo e Andrea Matsui obrigada por acreditarem que eu, juntamente com a minha rede, conseguiremos mudar esse pequeno pedaço da minha cidade.

 

Josi bio - O futuro do mercado de trabalho que eu não quero ver acontecer

Jôsy Andrade é consultora de Carreira. Psicóloga (Universidade Mackenzie) com especialização em Administração de RH (FGV-SP) e MBA-RH (FIA/USP). Psicoterapeuta Junguiana (IJBA – Instituto Junguiano da Bahia), coach certificada e em processo de acreditação (ICF – International Coaching Federation). Como executiva atuou por 20 anos em RH em empresas como a Saint-Gobain, Integration, Diageo, AES Brasil e XP. Fundou a Futuro da Carreira, que em dois anos, já realizou mais de 2.000 horas de consultoria para pessoas físicas e empresas, como CTN, Endeavor Brasil, Volcafe e Ardagh. Colunista EA “Carreiras do Futuro”.

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