Por Demetrio Teodorov

 

O assunto está em todo o lugar, inclusive enraizado em nossas vidas, mas como será o impacto desta tecnologia em nosso comportamento? 

Existe um debate exagerado na Sociedade sobre segurança do uso de IA.

Atualmente há um grande debate na sociedade questionando profundamente sobre o poder negativo e a massificação do uso da Inteligência Artificial e sua incorporação de forma desmedida em nossas rotinas. Este debate traz de certa forma o mesmo sensacionalismo e urgência com que eram tratados o celular e o forno micro-ondas nos anos 90, quando ao serem comercializados pela primeira vez, especulava-se se essas novas tecnologias seriam de alguma forma um potencial acelerador do câncer em pessoas. 

Com o passar do tempo e a familiarização com as funcionalidades dos aparelhos, as duas tecnologias foram aperfeiçoadas continuamente pela indústria e nada do que se especulava foi comprovado ao longo das últimas décadas.

Cultura POP construiu uma imagem negativa, porém o conceito de IA evoluiu.

Mas hoje, a teoria da conspiração é outra: especula-se que poderíamos ser sumariamente eliminados da face da terra pela Inteligência Artificial, alavancada pela ultra automação, transformação digital e a indústria 4.0!

Também não dá para culpar o inconsciente coletivo, afinal durante a nossa vida tivemos nosso imaginário construídos por vários exemplos trazidos pela cultura pop: formas de inteligência tecnológica que inicialmente apresenta-se como uma fiel aliada, mas que acabam se revelando grandes vilãs traiçoeiras, nos aniquilando ou nos subtraindo algum tipo de liberdade. 

Esse fio condutor da narrativa dos maus robôs foi amplamente badalado em filmes como O Exterminador do Futuro* e 2001, Uma Odisseia no Espaço*, e nos livros de Blake Crouch , Philip K. Dick e Ian McEwan*.

A origem do termo

Muito embora os mecanismos que reproduziam fórmulas matemáticas, como a Máquina de Turing, existissem desde a década de 30, foi só no final dos anos 50 que o termo inteligência artificial foi cunhado e registrado pela primeira vez. De lá para cá, o termo Inteligência Artificial abrange não apenas a robótica, mas sistemas de dados digitais complexos, as chamadas redes neurais artificiais que simulam a cognição e o pensamento humano a partir da interconexão de bancos de dados, informações acumuladas na internet e outros repositórios não públicos. 

IA é uma evolução sem volta, estamos numa sociedade de dados, nossa relação com tecnologia digital já está indissociável.

Polêmicas e incertezas a parte, a ideia de um caminho sem volta se torna mais evidente quando olhamos ao nosso redor e constatamos que temos mais aparelhos conectados a internet do que seres humanos vivendo no planeta terra. 

Se considerarmos um pouco mais, fica evidente que toda a “tatuagem digital” que deixamos individualmente como rastros está sendo armazenada na forma de dados, onde o acesso está cada vez mais rápido e mais barato e sendo processada para servir os desejos dos novos algoritmos e das análises preditivas.

Agora coloque uma camada de reconhecimento de linguagem natural humana e pronto, está feito o nosso primeiro grande passo para a popularização da Inteligência Artificial na nossa geração, como visto recentemente no início de 2023.

Se nos abrirmos a entender mais sobre IA, teremos a chance de descobrir inúmeros usos positivos.

A IA pode abrir os nossos horizontes e repertório criativo nos apresentando novos modelos e implementando melhorias em conjunto, quase como um bate bola criativo, onde diversidade já estaria implementada como default – olha só que grande passo automatizado para a erradicação do viés inconsciente. 

Com a funcionalidade Regenerativa, grande hit desta tecnologia – onde ela vai melhorando (aprendendo) exponencialmente a cada resposta conforme o nosso feedback. Neste processo continuo a regeneração veloz processando texto e imagem, imagine então, a possibilidade do poder preditivo no auxílio da prevenção de catástrofes ambientais e demais problemas sociais.

Este modelo de tecnologia invisível e discreto como as ondas de Wi-fi, é real, e já está entre nós. Nas recomendações automáticas de livros e filmes, no app GPS apontando a melhor rota, nas assistentes virtuais e em quase todo device conectado.

Olhando para o lado mais prático, a massificação do uso está na popularização de exemplos de uso como estes:

  • Bengala WeWalk, para pessoas com limitações visuais que usa de IA para reconhecer obstáculos e descrevê-los para o portador. 
  • Aparelho auditivo StarKey, com inteligência de adaptabilidade aos ambientes tem demonstrado maior conforto e segurança aos usuários.

Precisamos de legislação e controle, mas sem esse passo, não teremos um futuro melhor.

Sem legislação suficiente e citação de fontes ainda capenga – estamos tateando lentamente em alinhar estas questões na contramão da profusão aplicações de uso em carros, drones, atendimento, geração de imagens, roteiros e, por fim, tudo o que pode ser processado em nuvem.

Com tantas oportunidades, adversidades e polêmicas no uso desta “tech trend”, às vezes fico com a sensação de usar o micro-ondas apenas para esquentar água – e estamos apenas no início.  

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Para amplificar o repertório recomento os seguintes livros e filmes:

Filmes 

  • 2001, Um Odisseia no Espaço, Stanley Kubrick, 1968
  • Exterminador do Futuro, James Cameron, 1984
  • Ela, Spike Jonze, 2013
  • Ex Machina, Alex Garland, 2014

Livros

  • Máquinas como Eu, Ian McEwan – Cia das Letras
  • Forward, Blake Crouch e outros autores – Intrínseca
  • Realidades Adaptadas, Philip K. Dick – Aleph

Demetrio Teodorov (Colunista)

Demetrio Teodorov é futurista, palestrante e executivo no mercado. Tem como propósito construir o futuro no presente, estudando novos comportamentos e tecnologias emergentes, tais como: comportamento de consumo (CX e UX), tendências de futuro, mobilidade, novo varejo, banco digital, futuro do trabalho, moda, inteligência artificial e foodtech. Como executivo de Inovação tem passagens pela Riachuelo, Midway, Alelo, Ultragaz, BASD, BRF (Sadia, Perdigão e Qualy) e PwC, onde atuou em projetos globais de P&D e digital. Estudou na Disney Institute, INSEAD, Perestroika, CESAR School, Hyper Island, Harvard, MIT e Singularity, direcionando o pensamento para o conceito da exponencialidade e das ciências cognitivas. Em 2016 implantou um chip NFC na mão direita para testes de interação com devices. É colunista EA “Futuro no Presente”.

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