Por Rodolfo Pombo
Pense. De um lado há busca pela desconexão, do outro sua empresa pode querer te monitorar.
Recentemente li duas materiais que parecem falar de mundos e tempos totalmente opostos, mas que foram publicados pelo mesmo veículo, a revista Wired, em um intervalo de 2 meses e meio.
O futuro é analógico?
Nesse primeiro artigo, é debatido um tema frequente nos últimos anos relacionado ao vício digital. Eu, que irei chegar daqui a pouco tempo à marca dos 40 anos, cresci em um ambiente e mundo com menos conexões e tecnologia à disposição da população. A gente também era feliz, pode acreditar.
Minha geração pegou a transição entre a máquina de escrever (sim, eu tinha uma em casa) e os computadores domésticos que pareciam um microondas. A internet era discada, cara, ocupava a linha telefônica e era muito, mas muito lenta.
Os anos se passaram, as tecnologias evoluíram e a internet foi democratizada, apesar de ainda não estar presente em quase 6 milhões de lares no Brasil, segundo o IBGE.
Os smartphones se popularizaram a partir de 2010 e se tornaram uma extensão do nosso corpo.
É legal ter acesso a todas as informações que você precisar? Com certeza!
Mas há um desencantamento de diversos perfis de pessoas com a quantidade gigantesca de tecnologias e informações à disposição. Apesar do texto focar na Geração Z, eu gosto mais de tratar de perfis, principalmente porque acredito que a segmentação de pessoas de acordo apenas com o ano em que nasceram, traz uma limitação muito grande e deixa de fora aspectos muito mais importantes.
Esse perfil adere às tendências de consumir menos produtos, questionar instituições que sempre foram referência para outros perfis ou gerações (como políticos, veículos de notícias e as grandes empresas de tecnologia) e enxergar como prioridade o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Ou seja, querem um mundo muito diferente daquele que é entregue para a maioria como o cenário ideal.
Certamente, os questionadores desse “mundo atual não-ideal” devem ter ficado aliviados com as mudanças no trabalho que levaram à adoção do trabalho remoto.
Apesar de usar a tecnologia questionada por eles, o modelo pode ter proporcionado um maior equilíbrio na vida pessoal com a profissional.
Mas, há um grande movimento de retorno presencial aos escritórios. É aí que entra o segundo texto.
Sorria, você está sendo filmado :)
O material detalha o retorno às atividades presenciais nos Estados Unidos, o que também está sendo comum em diversas partes do mundo. Talvez futuramente você encontre seu escritório um pouco diferente e “mais inteligente”.
Tecnologias de monitoramento são até conhecidas, muito provavelmente você já tenha trabalhado ou estado em um escritório com câmeras.
É bem possível que já usou sua digital ou reconhecimento facial para acessar alguma sala específica. Nada de muito novo até aqui.
Agora, já pensou se um crachá inteligente consegue mapear em que local do escritório você esteve durante a jornada no trabalho ou quantas vezes foi à cozinha ou ao banheiro?
Existe e está sendo usado. E se houver um software que registra tudo o que você acessa nos sites, analise seus sentimentos com base na linguagem utilizada e produza relatório com seus “níveis de engajamento”?
Também existe e já está acontecendo.
Se por um lado há o discurso de eficiência e otimização do espaço, por outro, há a preocupação com privacidade, efeitos na saúde mental e desumanização das relações de trabalho. Confiança e cultura deveriam ser os pontos-chave para qualquer tipo de mudança.
Está claro que há um universo onde empresas querem ter mais controle e outro onde perfis de profissionais querem mais autonomia, equilíbrio e desacreditam em discursos que moldaram várias gerações.
Qual ponte conectará esses 2 mundos?
Com certeza não será uma babá eletrônica para adultos.
Rodolfo Pombo é mestre em Administração (UFF), pós-graduado em Gestão e Empreendedorismo (UFF) e pós-graduando em Foresight Estratégico e Design de Futuros (ESPM). Designer visual, designer de serviços e pesquisador, mentor de startups, atuando em tutorias e condução de projetos relacionados ao empreendedorismo e inovação para consultorias e empresas players. Colunista EA “Olhares Futuros”.
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