Por Sueli Yngaunis

 

Escrever sobre Organizações é escrever sobre pessoas. Pessoas que convivem juntas para que a Organização onde trabalham, possa alcançar seus objetivos. Mas pessoas não são iguais (ainda bem, senão o mundo seria monótono demais), suas diferenças estão presentes na sua constituição física, em seus aspectos psíquicos, nos seus sentimentos, nos seus comportamentos, entre tantas outras características que definem uma pessoa. Cada uma é produto de sua história de vida, cada uma é “moldada” pelas experiências que viveram.

Cada uma carrega marcas, que a torna única. Não tem outra igual.

A diversidade é a principal característica da sociedade: somos todos diversos, porque somos todos únicos. Assim posto, vamos refletir e tentar entender os movimentos de resistência à legitimação da diversidade, não só nas organizações, como também nas diferentes esferas da sociedade.

Antes de prosseguir, vamos nos refletir sobre o nome desta coluna, Patchwork Inclusivo. O nome nos remete às lindas peças feitas com retalhos, que quando costurados formam uma peça maior. Patchwork é uma técnica que foi usada no passado para reaproveitar restos de tecidos, e cada retalho é diferente, tem suas cores, suas estampas, tecidos diferentes, mas que quando unidos se tornam peças lindas, com uma beleza única.

Um simples retalho ganha uma participação especial para formar essas peças.

Se considerarmos uma pessoa como um retalho, que com suas características únicas somadas e “em interação” com as características de seus pares, podemos pensar a nossa sociedade ou mesmo a Organização onde trabalhamos como uma peça de patchwork. Só que com uma diferença: é um “patchwork vivo”, cuja dinâmica é definida pelas crenças e hábitos de cada um, que foram formados ao longo de suas vidas.

E quando essas crenças estão apoiadas em julgamentos capacitistas, essa peça pode rasgar, ter pontas soltas, linhas arrebentadas, até que alguns retalhos podem esgarçar.

E não é difícil ver os esforços de muitas consultorias ou departamentos responsáveis pelas áreas de DEI para “cerzir” os retalhos para recompor ou formar uma nova peça.

Não abordarei sobre a crise pela qual as áreas de DEI estão passando, em meio às perspectivas de ter essas áreas desativadas em algumas Organizações.

Mas considero relevante mencionar o trabalho de um grupo de consultores e especialistas, que já estão empenhando esforços para mostrar como esse atitude pode representar um retrocesso, que desenvolveram um guia prático para lideranças de negócios no Brasil, que é um material orientativo do ecossistema de consultorias de Diversidade, Equidade, Inclusão e Pertencimento (DEIP) no país (Guia_DEIP não vai acabar guia prático para lideranças de negócio do Brasil_vf.pdf – Google Drive).

Mas, é importante apontar aqui, que o problema não está nos projetos de DEI, pois temos consultores e especialistas com legitimidade e conhecimento para implantar esses projetos.

Mas existe sim, uma variável importante que não podemos negligenciar, que são as bases sobre as quais cada indivíduo construiu a sua rede de valores e crenças, e modificá-las demanda tempo e cuidado. Pois pense, a reação normal desse indivíduo será o de recuar, e desenvolver resistências, pois significa mexer com tudo aquilo que ele considerou como verdade durante toda a sua vida.  E tudo o que é diferente, ele provavelmente vai querer evitar.

Por isso, é preciso cuidado e sabedoria para lidar com essa barreira, que poderíamos classificar como atitudinal, mas sugiro pensar em algo como “barreira intrapessoal ou interpessoal”, pois está enraizada na forma como a pessoa constituiu sua rede de valores e interage com o ambiente ao seu redor.

Uma Organização não é a soma das partes que a compõem, mas sim a interação entre essas partes.

Somente reconhecendo-a como um sistema dinâmico, conseguiremos fazer dessa Organização uma peça de patchwork bonita e encantadora.

Mas precisamos cuidar de cada uma dessas partes, compreendê-las, e “costurá-las”, respeitando a sua individualidade e fornecendo suporte para que mudanças na sua base de valores e crenças possam acontecer. Esse é o papel do verdadeiro líder.

 

Sueli Yngaunis 3 - A Organização como uma peça de Patchwork

Sueli Yngaunis é professora doutora em Ciências, pelo programa de pós-graduação Humanidades, Direitos e outras Legitimidades (Diversitas/FFLCH-USP). Especialista em Propaganda e Marketing (Cásper Líbero) e em docência no ensino superior (UNICID) e bacharel em Relações Públicas (FAAP). Atuou como professora universitária por mais de 20 anos, sendo coordenadora universitária do Núcleo de Acessibilidade onde desenvolveu atividades para inclusão de alunos com deficiência (UNICID). Atualmente dedica-se ao estudo e divulgação de conteúdos relacionados à temática inclusão de pessoas com deficiência. É colunista EA “Patchwork inclusivo”.

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