Por José Gonçales Junior

 

Recentemente o famoso cineasta James Camerondeu uma entrevista falando sobre seus medos sobre a AI (Inteligência Artificial), dando alertas de que a inteligência artificial dificilmente irá substituir os excelentes roteiros para Hollywood, e a de que ela poderá desencadear guerras nucleares no futuro.

Outro alerta dado por Cameron é a de que a AI poderá ser usada pelos mais poderosos e ricos do planeta para manipularem pessoas e mercados. Sendo assim, o seu uso por meio do marketing, por exemplo, poderá rumar para um nível de manipulação da mente humana contemplado por poucos visionários, romancistas, historiadores como George Orwell, Chomski, ou os irmãos Wachowski (Matrix).

Porém, um dos maiores medos do cineasta, é que as tecnologias de informação acabem por tomar os comandos dos centros controladores da geopolítica mundial. Estejam eles no Pentágono, em Beijing ou no Kremlin. E em casos eventuais de dissidências ou até mesmo erros de interpretação e compreensão do quadro real da geopolítica, guerras possam ser deflagradas por comandos digitais distantes do olhar e do controle humano.

Cenários Apocalípticos e a humanidade

Cenários apocalípticos são contemplados por diversos outros pensadores ao redor do mundo e, não se tornam invalidados. Aliás, são significantes e reais para todos, porém cenários menores e não tão midiáticos também surgem no horizonte, trazendo preocupações a homens e mulheres “mortais” ao redor de todo o planeta, e que acabam se tornando temas inquietantes e controversos a bilhões de pessoas.

image1

Entre os principais estão:

  • Empregos. Como ficarão os empregos diante do intenso debate sobre: a AI e a automação tirarão milhões de frentes de trabalho humanas.
  • Direitos autorais. Como serão os direitos autorais diante de sistemas que armazenam trilhões de ideias a respeito de tudo e que mesclam bancos de dados e textos para fornecem “novas” informações, construídas por seres humanos.
  • Trabalho “intelectual”. Produzido por máquinas que aprendem por deeplearning levarão em conta questões morais, éticas e culturais típicas de mentes humanas?
  • “A facilitação”. A promessa de “agilidade”proveniente das várias plataformas de Chat inteligente não poderão criar uma geração de humanos que não mais pesquisarão nos livros e outras fontes científicas de dados, e que se tornarão dependentes de pesquisas rápidas lançadas nos ChatGPT?
  • Algoritmos. Os cada vez mais complexos algoritmos de máquina substituirão atividades ditas “repetitivas”, mas que hoje são feitas por milhões e milhões de seres humanos. Mas quais as “funções criativas” e somativas que esses milhões de desempregados poderão exercer como atividades remuneradoras? Tais funções são genericamente citadas, mas, pessoas precisam de dados e informações claras sobre quais são, correndo o risco de caírem no ostracismo e no mar do esquecimento do mercado de trabalho.
  • Velocidade. Na qual estão sendo implantadas as novas tecnologias estão sendo acompanhadas de adaptações e mudanças nos sistemas educacionais mundiais? A resposta é um óbvio NÃO.
  • Salários. Como ficará o gap de salários entre os novos setores de altíssima tecnologia provenientes dessa explosão da AI, da internet, da “indústria 5.0”, considerando  trabalhadores dos serviços que ainda irão demorar para agregar tal modernização como a mineração ou agricultura?
  • Dados. O intenso uso de dados, informações e da necessidade de interpretação e entendimento das milhares de variáveis no trabalho não gerarásobrecarga perigosa para o cérebro humano?
  • Home Office. Este modelo online de trabalho irá resolver questões ainda não resolvidas como as reuniões fora do horário de trabalho, os mails e comunicações a altas horas da noite e da madrugada, a pressão por respostas rápidas mesmo nos fins de semana? A empresa continuará entrando nos lares pela via digital nos horários que eram reservados à pessoa e sua família?
  • Vida. A vida será ditada pelo culto e subserviência irrestrita às novas tecnologias, ou será respeitada as necessidades e dilemas humanos?
  • Empatia. Relacionamentos e comunidades serão submetidos a procedimentos e padrões definidos por AI? Cada vez mais grupos serão reforçados por pareceres e ideias que reforçam as idiossincrasias grupais? As fakenews serão reforçadas por produtores de notícias cada vez mais instrumentalizados pela AI?
  • Inteligência artificial. Ela agregará valor e impulsionará o potencial de quais grupos humanos? De acordo com estudo da ONU (2021) 37% da humanidade ainda não tem acesso a internet, totalizando 2,9 bilhões de pessoas.
  • Leis. Os marcos legais e normativas estão acompanhando a evolução da AI? A resposta é obviamente um NÃO.

A lista sob este contexto de reflexão seguirá ad infinitum, muito além das preocupações válidas de James Cameron.

image 2

Acredito ser importante, que independente dos milhares de debates que virão e que deverão obrigatoriamente ocorrer, é fundamental termos em mente que uma parte considerável da humanidade e dos brasileiros não está preparada para enfrentar tais mudanças no mundo do trabalho e na vida cotidiana.

Muito mais do que receberem uma renda mínima, ou de subsistência, ou uma renda universal (conforme apregoada pelo ilustre Elon Musk) é básico e necessário que governos, empresas e a sociedade civil busquem instrumentos de educação e formação para preparar a todos para a vida nessa nova tecno esfera que está se formando.

Seres humanos não nascem necessitando apenas de meios para comprar coisas e subsistência. Mas vem a este mundo com vocação, missão e funções. Somos destinados a dar sentido à vida, muito além do que uma “cidadania de mercado” determinada por uma renda mínima. Afinal, os detentores das tecnologias de ponta não desejam tal renda, nem tal vida para os seus pares e aqueles que lhe custam caro, tão pouco deveriam desejar às vidas que por hora lhes são alheias.

Se isto não for levado em conta, corremos o risco não somente de um “Titanic” afundar, e sim de bilhões de barquinhos, ficarem a deriva com bilhões de pessoas que não terão direito nem a um lugar no bote salva-vidas.

 

Série de artigos: Equilíbrio entre a indústria 4.0 e o bem-estar humano
Artigo 1. O dilema do indivíduo e o coletivo. Acesse aqui

 

 

Polish 20220330 154506338

José Gonçales Junior é geógrafo pela USP, MBA em Sustentabilidade (EAESP-FGV), pós-graduado em Neurociência Comportamental (PUC-RS), consultor em ESG e Bem-estar no mercado corporativo. Lecionou 15 anos em cursos de pós-graduação (SENAC, INPG, Faculdades Metropolitanas de Campinas, Ibmec Campinas), palestrante, mentor de mudança de carreira e implantação de parâmetros de bem-estar, estudioso apaixonado pelos temas Neurociência, Mudanças de Comportamento e Futuro do Trabalho. Mora com a família em um silencioso sítio em Vargem Grande Paulista, interior de São Paulo, onde dedica-se a família, a mentorias, consultorias, pesquisas e a escrever. É colunista EA “Carreira e Bem-estar”.

https://www.linkedin.com/in/josegjunior/

 

Fale com o editor:

eamagazine@eamagazine.com.br