Por Marcelo Ítalo Virgillito
A saúde no Brasil é marcada por desigualdades e especificidades que demandam uma análise aprofundada das diferenças entre homens e mulheres.
Essas distinções, enraizadas em fatores biológicos, psicológicos e sociais, refletem-se nos padrões de adoecimento, acesso a serviços e respostas terapêuticas, exigindo estratégias distintas de cuidado.
Este artigo examina tais diferenças com base em evidências científicas nacionais, explorando como o contexto brasileiro molda a saúde de cada gênero e por que as abordagens médicas devem ser adaptadas para promover equidade e eficácia no sistema de saúde pública e privado.
Diferenças biológicas
As diferenças biológicas entre homens e mulheres no Brasil são evidentes nos perfis de morbimortalidade, que é a combinação de morbidade (doenças que afetam as pessoas) e mortalidade (mortes por essas causas).
É uma medida do impacto total de um problema de saúde na população.
Mulheres enfrentam desafios reprodutivos como complicações gestacionais, responsáveis por cerca de 1.700 mortes maternas anuais, segundo o Ministério da Saúde (2022), e câncer de colo do útero, com 16.590 casos estimados em 2023 pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Já os homens lidam com alta incidência de câncer de próstata, projetada em 65.840 casos no mesmo ano, e maior risco de doenças cardiovasculares, que causam 40% a 50% mais mortes masculinas que femininas.
Os hormônios desempenham papéis cruciais: o estrogênio protege as mulheres de eventos cardíacos até a menopausa, mas o risco se equipara após essa fase; a testosterona, em homens, eleva a massa muscular e a produção de glóbulos vermelhos, mas aumenta a vulnerabilidade a infartos e acidentes vasculares cerebrais.
Geneticamente, a presença de dois cromossomos X nas mulheres reduz a incidência de doenças ligadas ao X, como daltonismo (8% dos homens vs. menos de 1% das mulheres), enquanto elas têm maior predisposição a doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico, que afeta 90% mais mulheres, conforme estudos brasileiros.
Diferenças Psicológicas e Sociais
No âmbito psicológico, os dados nacionais revelam contrastes significativos.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, IBGE, 2019) indica que 10,2% das mulheres reportam depressão, contra 3,4% dos homens, além de maior prevalência de ansiedade e transtornos alimentares entre elas.
Homens, por outro lado, apresentam taxas mais altas de transtornos por uso de álcool, 17,9% vs. 7,1% em mulheres, e uma incidência de suicídio quatro vezes superior (14,4 por 100.000 vs. 3,6 em mulheres), até porque as mulheres sofrem mais violência doméstica.
Esses padrões refletem influências culturais e emocionais distintas: mulheres tendem a expressar mais suas emoções, enquanto homens, pressionados por normas de masculinidade, reprimem-nas, o que pode agravar problemas de saúde mental.
Socialmente, a adesão aos serviços de saúde diverge: 82,5% das mulheres consultaram médicos no último ano, contra 69,8% dos homens (PNS, 2019), sendo que apenas 33% deles frequentam unidades básicas regularmente.
Mulheres, frequentemente no papel de cuidadoras, priorizam a família, enquanto homens evitam cuidados preventivos, influenciados por estigmas culturais.
O Vigitel (2020) aponta maior prevalência de tabagismo entre homens (12,8% vs. 9,1% em mulheres), evidenciando comportamentos de risco diferenciados.
Por que as abordagens diferem
As abordagens terapêuticas e preventivas no Brasil devem considerar variações fisiológicas e contextuais.
Mulheres apresentam maior sensibilidade a medicamentos como analgésicos opioides e ansiolíticos, o que exige ajustes posológicos para evitar reações adversas, conforme diretrizes do Conselho Federal de Medicina.
Homens, por sua vez, requerem atenção especial a doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão (25,4% vs. 21,1% em mulheres, Vigitel 2020) e diabetes, que demandam monitoramento precoce.
O Sistema Único de Saúde (SUS) implementa a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), focada em rastreios como o PSA, e o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM), que prioriza mamografias e exames ginecológicos.
Essas iniciativas reconhecem que mulheres vivem, em média, 7,1 anos mais que homens (IBGE, 2020), mas enfrentam maior carga de morbidades crônicas, como osteoporose e artrite, enquanto homens têm maior mortalidade precoce por causas externas (34% das mortes masculinas entre 20-59 anos, Datasus 2021).
Essa dicotomia justifica estratégias direcionadas para reduzir disparidades e melhorar a qualidade de vida de ambos os gêneros.
Conclusão
No Brasil, compreender as diferenças biológicas, psicológicas e sociais entre homens e mulheres é essencial para uma prática médica eficaz e equitativa.
Políticas como PNAISH e PAISM avançam na personalização do cuidado, mas persistem desafios, como a baixa adesão masculina aos serviços e o manejo das morbidades femininas na velhice.
A medicina baseada em evidências locais, aliada a uma abordagem holística, pode otimizar os desfechos de saúde, reduzindo desigualdades e promovendo bem-estar em um país de diversidade cultural e sanitária tão marcante.
Homem e mulher são seres muito importantes para Deus. Instituídos na criação do mundo.
Certos disso, é fundamental honrar essa criação por meio do autocuidado, do respeito mútuo, do companheirismo e da busca por uma vida de plenitude e felicidade. Lembre-se, amar ao próximo como a si mesmo é mandamento! Gratidão por me acompanhar até aqui.
Referências:
- Instituto Nacional do Câncer (INCA). Estimativa 2023: Incidência de Câncer no Brasil. https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/estimativa-2023-incidencia-de-cancer-no-brasil
- Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2021-2022: Mortalidade por Doenças Crônicas Não Transmissíveis. https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/publicacoes-svs/doencas-cronicas-nao-transmissiveis-dcnt
- Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019: Saúde Mental e Utilização de Serviços. https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/saude/9160-pesquisa-nacional-de-saude.html?edicao=29222&t=resultados
- Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2020: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas. https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/publicacoes-svs/vigitel/
- Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), 2008. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_saude_homem.pdf
- Ministério da Saúde. Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM), 1983. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-da-mulher/pnaism
- SciELO Brasil. “Gênero e Saúde no Brasil: Considerações a partir da PNS” https://www.scielo.br/j/rsp/a/HPnV6BDtXnP8S9FpRpRYfGf/?lang=pt
- Conselho Federal de Medicina. Demografia Médica no Brasil 2020. https://portal.cfm.org.br/noticias/aumento-recorde-no-total-de-medicos-no-pais-pode-ser-cenario-de-risco-para-a-assistencia-avalia-conselho-federal-de-medicina
Marcelo Ítalo Virgillito é analista de sistemas com mais de 30 anos de experiência em TI. Nos últimos anos, tem se dedicado à saúde integral, desenvolvendo expertise em naturopatia, nutrição e mudança de hábitos. Como mentor nutricional, busca integrar conhecimentos técnicos com práticas saudáveis para promover o bem-estar. Seu foco é guiar indivíduos na adoção de hábitos alimentares e comportamentais que favoreçam a regeneração física e mental, por meio da nutrição holística e de mudanças sustentáveis no estilo de vida. Colunista EA “Saúde integral”.
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