Por Luciel Henrique de Oliveira
O desmatamento da Amazônia representa um desafio crítico para a sustentabilidade global. O relatório de junho de 2024 da Stand.earth e da COICA (Greenwashing the Amazon) revela que algumas das maiores instituições financeiras globais estão financiando indústrias que destroem essa região vital.
Este artigo examina as implicações desse financiamento e como práticas sustentáveis podem ser aplicadas em diversos setores.
Bancos e Greenwashing
Os bancos Citibank, JPMorgan Chase, Itaú Unibanco, Santander e Bank of America são destacados como principais financiadores de projetos de petróleo e gás na Amazônia. Apesar de afirmarem seguir diretrizes ambientais, a realidade mostra que 71% da floresta não está efetivamente protegida por suas políticas.
O HSBC, por outro lado, implementou uma política de exclusão completa para a Amazônia, destacando-se como um exemplo positivo. Essa decisão demonstra que as instituições financeiras podem adotar práticas responsáveis.
Exemplos de práticas sustentáveis
Nos últimos anos, empresas de diferentes setores têm adotado práticas sustentáveis para minimizar seu impacto ambiental e responder à demanda crescente por responsabilidade ecológica. Essas iniciativas não apenas ajudam a preservar o meio ambiente, mas também criam valor a longo prazo para as empresas e seus consumidores. Vamos explorar alguns exemplos notáveis de como diferentes indústrias estão se adaptando para criar um futuro mais sustentável.
Moda sustentável: No setor de moda, marcas como Patagonia e Stella McCartney estão na vanguarda da sustentabilidade. A Patagonia, por exemplo, tem um programa de reciclagem que incentiva os clientes a devolverem roupas usadas para serem recicladas, reduzindo o desperdício e promovendo a reutilização de materiais. Stella McCartney, por outro lado, é conhecida pelo uso de tecidos ecológicos e práticas de produção ética, evitando o uso de couro e peles animais em suas coleções.
Além dessas marcas, a H&M tem investido em iniciativas como a coleção Conscious, que utiliza materiais sustentáveis e reciclados. A empresa também lançou um programa de coleta de roupas, permitindo que os consumidores doem peças usadas em troca de descontos, incentivando o ciclo de reutilização.
Alimentação sustentável: Na indústria alimentícia, a Unilever se comprometeu a eliminar o desmatamento em suas cadeias de suprimentos até 2025. Isso inclui o uso de óleo de palma certificado e outras matérias-primas sustentáveis. A empresa também tem investido em agricultura regenerativa, que visa melhorar a saúde do solo e a biodiversidade nas áreas agrícolas.
Outra empresa que se destaca é a Nestlé, que está trabalhando para tornar suas operações neutras em carbono até 2050, incluindo a implementação de práticas agrícolas sustentáveis e a redução do uso de plásticos em suas embalagens.
Tecnologia verde: O setor de tecnologia também tem avançado em direção à sustentabilidade. A Apple, por exemplo, investe em energia renovável para abastecer seus centros de dados e tem o compromisso de utilizar apenas materiais reciclados em seus produtos futuros. A empresa já atingiu a neutralidade de carbono em suas operações corporativas e está trabalhando para expandir isso a toda a sua cadeia de suprimentos.
A Google também é um exemplo de liderança em tecnologia verde, sendo uma das maiores compradoras corporativas de energia renovável do mundo. A empresa investe em projetos de energia solar e eólica para abastecer suas operações, buscando zerar sua pegada de carbono.
Indústria automobilística: A Tesla e a BYD são exemplos de inovação em sustentabilidade, focando exclusivamente na produção de veículos elétricos, que não emitem gases poluentes durante o uso. A empresa também investe em tecnologia de baterias mais eficientes e recicláveis, reduzindo o impacto ambiental ao longo do ciclo de vida de seus veículos.
Outra marca pioneira é a Toyota, que popularizou a tecnologia híbrida com o modelo Prius. A empresa também está explorando o uso de hidrogênio como combustível, desenvolvendo carros movidos a células de combustível, que emitem apenas vapor d’água.
Além disso, a BMW está comprometida com a produção de veículos com materiais reciclados, como o uso de plástico reciclado nos interiores dos carros. A empresa também está investindo em tecnologia para criar processos de produção mais sustentáveis e menos dependentes de combustíveis fósseis.
Esses exemplos demonstram como a sustentabilidade pode ser incorporada em diferentes setores, mostrando que é possível alinhar práticas empresariais a objetivos ecológicos.
À medida que mais empresas adotam essas estratégias, a expectativa é que o impacto ambiental negativo das operações corporativas diminua, promovendo um futuro mais sustentável para todos.
Implicações e desdobramentos
Os bancos têm a oportunidade de liderar a transição para práticas mais sustentáveis. A adoção de políticas de exclusão geográfica para o financiamento de petróleo e gás na Amazônia é um passo crucial. Além disso, podem influenciar positivamente outras indústrias, incentivando práticas de negócios que respeitem o meio ambiente.
O setor bancário pode desempenhar um papel central na promoção da sustentabilidade, alinhando-se a iniciativas como o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
A implementação de políticas rigorosas de ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) pode ajudar a mitigar os impactos ambientais e sociais adversos.
O relatório sugere que os bancos implementem uma política de exclusão geográfica abrangente para todas as transações ligadas ao petróleo e gás na Amazônia.
Essa abordagem se assemelha às restrições aplicadas ao Ártico em 2020, visando proteger valores ambientais e sociais importantes. Essa política é considerada essencial para preservar os 80% remanescentes da Amazônia, prevenindo a perda de biodiversidade, mitigando mudanças climáticas e protegendo os direitos dos povos indígenas. Além disso, o relatório recomenda que os bancos avancem suas políticas, adotando estratégias mais proativas que considerem os verdadeiros custos dos impactos ambientais.
Conclusão
A revelação do envolvimento dos bancos na destruição da Amazônia sublinha a importância da responsabilidade corporativa e do engajamento dos consumidores. Para clientes pessoas físicas (PF), optar por instituições financeiras que adotam práticas sustentáveis pode fazer uma diferença significativa. Isso inclui escolher bancos com políticas claras de exclusão de financiamentos prejudiciais ao meio ambiente e investir em fundos que priorizem critérios ESG.
Já as empresas (PJ) podem adotar práticas operacionais mais verdes, como a redução do consumo de recursos e a implementação de programas de reciclagem. Além disso, a escolha de parceiros e fornecedores comprometidos com a sustentabilidade pode impulsionar um impacto positivo em suas cadeias de valor.
Ao adotar práticas financeiras e operacionais responsáveis, tanto indivíduos quanto empresas contribuem para a proteção do planeta, promovendo um futuro mais verde e sustentável.
Para saber mais:
- BOWERS, Brittany; BOYD, Neil; MCGOUN, Elton. Greenbacks, green banks, and greenwashing via LEED: Assessing banks’ performance in sustainable construction. Sustainability: The Journal of Record, v. 13, n. 5, p. 208-217, 2020. https://www.liebertpub.com/doi/abs/10.1089/sus.2020.0009
- Coordinadora de la Organizaciones Indígenas de la Cuenca Amazónica. https://coicamazonia.org
- Greenwashing the Amazon. https://exitamazonoilandgas.org/reports/#greenwashing
- ROSS, Eleanor. High Profile, High Risk: Banks and the Climate Crisis. In: Communicating Climate. Emerald Group Publishing Limited, 2024. p. 115-129. https://www.emerald.com/insight/content/doi/10.1108/978-1-83753-640-520241017
- SIMPSON, Neil. Bank Greenwashing: Website Edition. December 4, 2023. https://bank.green/blog/bank-greenwashing-website-editions
- VENTURELLI, Valeria et al. Assessing the influence of ESG washing on bank reputational exposure: A cross‐country analysis. Business Ethics, the Environment & Responsibility, 2024. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/beer.12727
Luciel Henrique de Oliveira é engenheiro Agrônomo e doutor em Administração (FGV), pós-doutorado em Inovação, dedicado à academia como professor e pesquisador desde 1990 (FACAMP; UNIFAE; PUC-MG). Com vasta experiência em Gestão de Operações e Logística, destacam-se seus estudos e pesquisas em temas como Inovação & IA, Agronegócios, Gestão de Serviços, Sustentabilidade/ESG, Economia Circular e Responsabilidade Social Empresarial. Comprometido com o impacto social, acredita no poder transformador da educação, na importância da colaboração em rede e no empreendedorismo para gerar mudanças positivas na sociedade mediante soluções inovadoras. Colunista EA “ESG & Vida Sustentável”.
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