Por Carolina Giachini

 

O sentimento de viver em função do trabalho, as altas cargas de trabalho e a incapacidade de se desconectar levaram Juliana (nome fictício para preservar a identidade), 47 anos, empreendedora, a desenvolver a Síndrome de Burnout.

Essa síndrome, relacionada aos aspectos laborais, é caracterizada por uma profunda exaustão mental e um estresse crônico na vida profissional. Somado a isso um sentimento de frustração misturado com negatividade em relação ao trabalho, especialmente quando a produtividade começa a cair.

Juliana relatou que trabalhava praticamente todas as horas em que permanecia acordada, chegando até a acordar de madrugada para responder mensagens de clientes.

Ela passou por uma crise de despersonalização, uma das características principais que diferencia o estresse comum da Síndrome de Burnout.

E descreveu a experiência da seguinte forma:

“A gota final desse processo foi quando, às 10h da manhã de uma terça-feira, pensei: Será que eu levei minha filha para a escola hoje cedo? A sensação de pânico foi horrível. Sem graça, liguei para o colégio e inventei uma desculpe para confirmar se minha filha estava lá.”

Inicialmente, Juliana buscou ajuda médica, acreditando tratar-se de um caso de ansiedade.

No entanto, após esse episódio, recorreu imediatamente a ajuda especializada e iniciou a sua jornada de recuperação da Síndrome de Burnout.

Um quadro grave que impacta produtividade

Ao ler a matéria de Rone Carvalho para a BBC News Brasil, percebo que, independentemente do tipo de transtorno mental — seja ansiedade patológica, depressão ou Burnout —, o Brasil está se tornando um “fabricante” de pessoas doentes no mercado de trabalho. Os dados disponíveis, que compartilho aqui, nos dão apenas uma pequena dimensão desse problema.

Pequena, pois ainda não há um conjunto de registros sobre Burnout e ansiedade que não está computado e também devido aos tabus que cercam esses temas atualmente.

Em 2023, foram registrados 431 afastamentos por Burnout no Brasil. Ainda segundo o INSS, nesse mesmo ano, cerca de 80,5 mil pessoas foram afastadas por ansiedade, sendo que 3.914 desses casos estavam relacionados ao ambiente de trabalho.

Tivemos um grande marco em relação a Síndrome de Burnout em 2022, onde a doença foi incorporada a lista de classificação internacional de doenças da Organização Mundial da Saúde e, em novembro 2023, o Ministério da Saúde colocou a Ansiedade na lista de doenças do trabalho.

Contudo, vale ressaltar que o estresse não é o grande vilão dessa história. O modelo de Yerkes-Dodson ilustra como o estresse, até certo nível, pode promover foco e desempenho, mas em excesso leva ao esgotamento e à perda de eficiência.

Já sabemos também, que os fatores que levam a uma desestabilização da saúde mental são muitos.

Entre os quais, o sono, alimentação, exercício físico até apoio social, situação financeira e uma vida baseada no piloto automático.

Alguns assuntos esses que são a base da cadeia fisiológica, como Sono, Exercício Físico e Alimentação, estão sendo negligenciados de muitas formas. Ainda escuto lideres falando para seus funcionários, “dormir é para os fracos”, ou então, em cursinhos pré-vestibulares a máxima: “estude enquanto o concorrente dorme”.

Empresas com altos níveis de estresse entre os funcionários tendem a observar um aumento nos custos de sinistralidade médica, perda de talentos, crescimento nos pedidos de demissão e uma cultura organizacional fragilizada.

Ignorar a saúde mental em ambientes corporativos, como era de praxe antigamente, não cabe mais no mundo atual. Onde antes os cuidados com os colaboradores eram vistos como gastos, agora são percebidos como diferenciais competitivos e fundamentais para a retenção de talentos, especialmente em um mercado com escassez de profissionais qualificados para contratação.

Os colaboradores cada vez mais buscam ambientes onde o clima organizacional seja saudável para trabalhar. Costumo dizer que as empresas terão que se adequar as boas práticas de bem-estar mental pelo amor ou pela dor.

Investir em saúde mental não só reduz os impactos negativos do estresse e da ansiedade, mas também fortalece a resiliência dos colaboradores e da própria empresa. A adoção de práticas de bem-estar mental corporativo não é apenas uma estratégia, mas uma necessidade para enfrentar as crescentes demandas e desafios do ambiente de trabalho moderno.

Carolina Giachini  atua como consultora na Equinox, utilizando a neurociência para promover o bem-estar corporativo por meio da redução de estresse, ansiedade e burnout. Com experiência em gestão de equipes e carreira corporativa na área comercial, sua abordagem prática integra formação em Neurobusiness, Neurociência do Comportamento, Farmacologia Clínica e Mindfulness. Nos últimos quatro anos, impactou mais de 1.500 profissionais, orientando lideranças e colaboradores em foco, concentração e gestão emocional. Colunista EA “Mente corporativa”.

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