Por André Girotto

 

Quando lemos ou assistimos matérias sobre mudanças de comportamento do consumidor, tecnologias e empresas que estão faturando milhões, como é o caso de algumas “startups”, entendemos claramente que existe um novo tempo e uma nova forma, de fazer gestão e conduzir negócios.

Contudo, voltamos para os nossos escritórios, mesmo que home office, e continuamos a administrar essa pressão pelo resultado de curto prazo, onde, acabamos fazendo as mesmas ações, porém, com uma mudança, tentamos fazer mais rápido, e não diferente.

Com base na “correria” do dia a dia, acompanhando líderes de centenas de empresas todos os meses, percebo que os mesmos, não dedicam tempo para aprender, testar algo novo, o que dirá, errar, para poder corrigir e avançar.

É como se disséssemos, não temos tempo para testar! Não temos tempo para errar! Não temos tempo para perder!

Eu chamo isso de paradoxo da performance

Queremos um resultado novo, mas, não temos tempo para APRENDER ou TESTAR algo novo. Com base nisso, ficamos realizando as mesmas ações, exigindo mais foco da equipe, mais dedicação, mais agilidade, mais, mais, mais, porém, é MAIS DO MESMO. Por isso, ficamos dando voltas, sem sair do lugar e sem conseguir um SALTO de CRESCIMENTO tanto esperado.

Fazendo com que decisões relacionadas às mudanças ou inovação muitas vezes não sejam tomadas com a mesma velocidade que as coisas estão acontecendo lá fora.

Já conhecemos muitos casos de empresas que não MUDARAM na velocidade, ou com a contundência necessária, e viram os seus negócios sucumbirem. Posso dizer que essas empresas não MUDARAM porque se tornaram lentas no quesito APRENDIZAGEM e subestimaram as ameaças externas, ACREDITANDO que seus produtos e serviços, já eram bons suficientes e que dificilmente seriam superados.

Talvez a frase correta, seja: a autoconfiança que vem com o sucesso que tiveram no passado, na garante os resultados no futuro.

Ou talvez não tenham percebido o tamanho da oportunidade que existia.

Em um passado remoto, a velocidade de rupturas, ameaças e oportunidades era infinitamente mais lenta do que temos hoje. Quando nos remetemos ao ano de 1.750, século XVIII, o conhecimento acumulado pela humanidade dobrava a cada 100 anos. Ou seja, eram necessárias cinco gerações para que fossem percebidas as grandes mudanças, as aberturas de novas oportunidades e o apareci mento de novos concorrentes.

A partir do ano de 1.850 todo o conhecimento começou a dobrar, se tornando uma PG (progressão aritmética) a cada 50 anos, datando isso como o início da revolução industrial.

Em meados da década de 50 do século 20, iniciou o que os historiadores chamam de revolução digital, onde, após a segunda guerra mundial, houve grandes avanços na ciência e na tecnologia, acelerando em mais de 500% a produção de conhecimento, dobrando todo ele a cada dez anos.

A partir dos anos 2000 passamos a dobrar todo o conhecimento existente no planeta a cada dois anos, fazendo com que muitos de nós, nascidos antes desta data, hoje tenhamos tantas dificuldades em acompanhar os avanços tecnológicos.

E, como se não bastasse, estudos recentes, mostraram que a partir de 2020 todo esse conhecimento passou a dobrar a cada 73 dias.

Isso indica que todo o conhecimento acumulado sobre tudo o que sabemos até este ano presente será equivalente aos últimos dez. Um dos estudos que tratam dessa evolução é o Challenges and Opportunities Facing Medical Education (em português, “Desafios e Oportunidades Enfrentados pela Educação Médica”), de autoria do médico Peter Densen, especialista em doenças infecciosas na cidade de Iowa, nos Estados Unidos.

Pergunto para aqueles que possuem empresa ou trabalham há mais de dez anos se acreditam que vivenciaram melhorias e evolução em si mesmos e nas suas práticas, em relação aos seus produtos ou serviços.

Pois para não sucumbirmos como profissional ou empresa, deveremos fazer dez anos em um.

Deveremos mudar dez vezes mais rápido, assim como tomar decisões dez vezes mais rápido.

Para entender o “tamanho” da coisa, vou fazer uma breve analogia.

Imagine pegar um pedaço de barbante com apenas 30 cm e alguém dizer para você juntar 10 pedaços desses, criando um barbante de 300 cm ou três metros. E para isso você terá três minutos. Pergunto, será que você conseguiria? Penso que sim. Em seguida, alguém pede para você agora juntar mais 100 pedaços de 30 cm, amarrando firmemente um no outro, fazendo um novo barbante, desta vez com trinta metros, porém nos mesmo três minutos. Penso que já seria uma tarefa mais desafiante ou não. Mas como se não bastasse, esse ano, o que vou lhe pedir é para juntar mais 1.000 pedaços de 30 cm nos mesmo três minutos. E assim sucessivamente por mais 10 vezes, dobrando a cada três minutos, teremos um barbante que daria a volta no mundo 26 vezes.

Sei que alguns negócios são afetados mais rapidamente do que outros, mas invariavelmente todos serão afetados ou será que não? Isso não é uma escolha. Isso é um fato. Doa a quem doer.

O fato é que o nosso cérebro não está preparado para pensar assim de forma exponencial. Mas se posso ajudar seguem minhas dicas para treinarmos a nossa mente o quanto antes.

Dica 1

Embora racionalmente pareça fazer sentido, não podemos mais fazer planejamento olhando no retrovisor. Esqueça, todos os dias agora serão um novo dia para iniciar do zero. Não importa, não compare os resultados do ano passado como referência futura.

Dica 2

Teremos que surfar no improvável, num mar de incertezas e passar a considerar o imponderável, com toda a agilidade possível, preparação física e mental necessárias, para quem quer surfar grandes ondas. Isso quer dizer que teremos sim que fazer ajustes a cada segundo, e manter o equilíbrio em meio a tudo isso será mais do que fundamental.

Dica 3

Considere que já temos muito mais tecnologia do que conseguimos utilizar, e saiba que para funcionar o ideal é atacar em bando. Raramente uma tecnologia isolada afeta o mercado. Um exemplo disso é por exemplo o UBER, que utiliza desde geolocalização, passando pela gamificação, até inteligência artificial. Porém a tecnologia só fará sentido para nós se trouxer ganhos ao nosso negócio.

Parece óbvio, mas por mais que muitas tecnologias estejam fazendo sentido para muitos consumidores, temos que saber escolher aquela que mais rapidamente trará resultados financeiros para a nossa corporação. Preferencialmente fazendo testes rápidos, com projetos claros e objetivos para validar as nossas hipóteses.

Dica 4

Coloque o cliente no centro, e a melhor forma de fazer isso é pensar e perguntar como podemos tornar a experiência do mesmo cada vez melhor. Somente com o cliente no centro desta equação vamos conduzir os nossos negócios para outro patamar.

Em resumo, redesenhar a nossa organização, de forma que consiga responder velozmente a todas essas mudanças, ser mais seletivo possível para não deixar se levar com a imensidão de oportunidades que temos neste momento, adotar as tecnologias em ciclos cada vez mais curtos e ter isso como o novo normal.

 

Girotto

André Girotto é empreendedor, palestrante e especialista em Alta Performance, Criatividade Empírica, Produtividade Máxima e Liderança disruptiva. Muito jovem, aos 27 anos, fundou a Netprofit, e como CEO do grupo, há 17 anos, já atendeu a mais de 1.200 empresas e 50.000 líderes treinados. É autor de cinco títulos, “High Performance”, “Menos Rambo, Mais Sniper” e a “A Arte de Ser Efetivo”, sendo o mais recente, o “Framework da Liderança 10X – A nova era da Liderança” (2024). Colunista EA “Liderança Disruptiva”.

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