Por Carlos Piazza

 

Em lições gerais, o pensamento rizomático fere de morte o pensamento linear, óbvio, vetorizado. O rizoma não tem meio, muito menos começo ou fim, ele flui, conflui, intui, corre por todos os lados, em todas as direções, se constrói e ao mesmo tempo se destrói.

Corre por todos os lados e por onde há espaço livre, floresce onde há possibilidade, cria seu próprio mapa de multiplicidade e suas estratificações, colhido diretamente da botânica.

Sim, pensar futuros requer um grau elevado de polimatia.

Para muitos, o modelo de pensamento diz respeito ao pensamento arbóreo, que depende de uma raiz como unidade que antecede a multiplicidade, que pauta um pensamento inflexível, em uma relação hierárquica das relações, como se cada pessoa fosse uma árvore.

Estas pessoas, todo o tempo, se referem a todo conjunto de raízes, que obtiveram ao longo da vida e da sombra que promovem como resultado de um sofrimento e de conquistas, mas ao longo de anos e anos não mudam. Cada pessoa tem uma árvore vertical na cabeça.

Já o rizoma, sugere uma forma de organização bem mais liberto, mais casual, mais interconectado, de crescimento polimorfo, que não assume direção definida, completamente horizontal e de mapa navegável.

Em eras exponenciais, sabe-se que o passado está extremamente amalgamado no dia a dia, portanto cristalizado no presente delas e muito longe de se demonizar o pensamento arbóreo, sabemos que o excesso de raízes profundas atrapalha excessivamente o pensamento.

Cada vivência do passado é um ramal de uma imensa raiz.

Os olhares vêm sempre do conceito do legado do passado para a concretização do presente em uma visão de curto prazo incomodante.

Olhar para futuros plurais depende de um pensamento espacial que o rizoma oferece.

Os ambientes se mostram hoje com profundas mutações, em um cenário de imprevisibilidade total. Por este motivo, há de antecipar futuros, para melhorar as respostas às questões de perenidade e até mesmo de compreensão dos novos ambientes promovidos.

Ter o poder de se antecipar às mudanças é a única via possível e isto reflete a compreensão urgente da multiplicidade e isto, ao contrário do pensamento arbóreo é diretamente inverso ao pensamento rizomático, que nos habilita a estarmos prontos para nunca mais estarmos prontos. Estar pronto, reflete a presença de uma raiz arbórea fincada no chão, à espera de uma sombra futura.

Já o pensamento rizomático explode em todas as direções, é a propriedade de se fazer o rizoma entre todos os saberes. Pensamento rizomático diz respeito diretamente à polimatia e ao nexialismo.

Polimatia é a única coisa que se tem em mãos para destravar a versatilidade humana.

O Nexialismo é a propriedade de construir conexões capazes não de se ter todas as respostas de um mundo caótico, mas sim, que sabe onde buscá-las. Nexo é epísteme. Toda forma de saber autocentrado impõem limites violentos a tudo que não se enquadra como valor dentro de seus parâmetros radicais.

O pensamento rizomático como defesa, traz alguns benefícios e princípios, o das conexões e da heterogeneidade, o rizoma cresce sempre se auto descentralizando, não há regra pré-definida além de gerir a própria multiplicidade.

Rompimento não é eliminação

O rizoma pode ser rompido em qualquer lugar. Ele, em si, promove outros caminhos possíveis, em ramificações não óbvias. Rizoma é a própria cartografia que não pode ser fotografada ou imitada por uma representação como inspira Rafael Lauro, do Razão Inadequada.

Tendo como análise a recente catástrofe do Rio Grande do Sul, que não segue padrão linear de impacto, explode em mil linhas paralelas aparentemente incontroláveis, as conexões se multiplicam, não se pode mais apostar todas as fichas em pensamentos compartimentalizados.

A própria catástrofe se oferece como rizoma, uma multiplicidade de linhas que se interrompem, que se potencializam, que se cruzam em um balé de um requerimento de uma nova vida.

Por este motivo, a vida está bem melhor representada no rizoma. A natureza é rizoma, ou seja, uma estrutura de múltiplos encontros heterogêneos e disruptivos. Ou quando inspiram os autores primordiais do termo que nos remete a uma nova filosofia rizomática, Deleuze & Guatari, em seu livro chamado Mil Platôs, volume I:

“Deixarão que vocês vivam e falem, com a condição de impedir qualquer saída. Quando um rizoma é fechado, arborificado, acabou, do desejo nada mais passa; porque é sempre por rizoma que o desejo se move e produz”.

Ou ainda, dos mesmos autores em seu Mil Platôs, Volume II:

“Toda vez que uma multiplicidade se encontra presa numa estrutura, seu crescimento é compensado por uma redução das leis de combinação,”

Ou seja, uma grande mudança impõe uma grande desarrumação no status quo, já a compartimentalização oferece um empobrecimento combinatório que deixa tudo muito árido no entorno.

Um novo tempo, novos requerimentos, novas realidades, novos caminhos e uma volta forçada à base, o homem é parte integrante do Universo. Ele precisa se reintegrar à não linearidade que a promessa de vida ofereceu às custas de seu próprio habitat. Pensar nos futuros regenerativos é pensar o próprio rizoma da reintegração.

 

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Carlos Piazza é Darwinista Digital e Futurista certificado pelo Millenium Project Polímata. É nexialista, consultor, professor, autor, escritor, articulista, conteudista e palestrante nacional e internacional. Atua também como mentor de Jornadas e Mosaicos de Conhecimento, de Hackathons, Hackathinking e Hackamilk Ted Talk. Colunista EA “Rizoma de Tudo”.

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