Paraisópolis, conexão favela 100 anos | Gilson Rodrigues
EA – Há visão de logística para que essas 12 iniciativas tenham alcançado êxito, não?
Gilson Sim. A primeira decisão na pandemia foi formar o Comitê – Presidentes de Rua, em que os voluntários são responsáveis por atender 50 famílias a cada 50 casas. Com essa organização de multiplicação, criamos campanhas de conscientização, contratamos ambulâncias para atender as famílias, foram abertos centros de acolhimento para receber pessoas diagnosticadas com sintomas leves de Covid-19, além de distribuímos marmitas e cestas básicas. A fome e o desemprego tem se agravado de forma gigantesca na favela com a pandemia.
EA – Como você chegou a ‘prefeito’ de Paraisópolis, Gilson?
Gilson Desde muito novo, sempre fui contra as desigualdades. Fiz parte do grêmio estudantil da escola e até então, eu não sabia o que era ser uma liderança comunitária. Entrei para o grêmio porque queria melhorias para a minha escola. Ainda na minha adolescência, iniciei-me como voluntário, quando fui convidado a fazer parte da União de Moradores e do Comércio de Paraisópolis. Aos 23 anos, assumi a presidência da associação de moradores. De lá para cá, tenho feito diversas ações para desenvolver Paraisópolis. O título de prefeito veio devido ao trabalho que tenho realizado durante a minha trajetória na associação. Muitos moradores recorreram a mim para resolver problemas que o poder público deveria resolver.
“Minha missão é elevar o potencial econômico das favelas, melhorar a qualidade de vida dos moradores e acabar com o estigma de favelado.”
EA – É um cargo informal ou há estatutos?
Gilson O termo de prefeito é informal, é associado à minha liderança. Já o cargo de presidente da associação de moradores é mantido conforme o estatuto, com direito a eleição. Não existe uma prefeitura de Paraisópolis. Meu trabalho como presidente da associação de moradores está ligado à gestão de projetos e iniciativas sociais.
“50 reais de um cara da favela não vale menos que 50 reais de um cara dos Jardins.”
EA – Como o modelo de gestão está sendo replicado em outras favelas?
Gilson Em 2019, fundei o G10 Favelas junto a algumas lideranças de outras comunidades do país, onde temos implantado ações para beneficiar moradores de periferias. No ano passado, devido à chegada da pandemia, criamos 12 ações de mitigação da Covid-19, que foram iniciadas em Paraisópolis e, depois, replicadas em outras favelas. A articulação acontece por lideranças que já atuam nesses territórios. Designamos coordenadores para cada iniciativa, assim facilita o processo de gerenciamento.
“Favela é potência! Não queremos ser associados à marginalização e nem como coitadinhos. As favelas têm um potencial de consumo de 168 bilhões de reais, tem muito empreendedor aqui em Paraisópolis.”
EA – Quais os principais projetos sociais?
Gilson Temos diversas iniciativas educacionais e nos esportes, dentre elas, as promovidas pela Escola ALEF Peretz, Associação Crescer Sempre e Pró-Saber. Os projetos são realizados em parceria com a iniciativa privada. O G10 Favelas apoia a cultura por meio do projeto Favela Music, iniciativa de valorização cultural da periferia.
“As redes sociais têm muita relevância na ampliação de nosso trabalho. Há conexão grátis em espaços públicos em parceria com a prefeitura de São Paulo.”
EA – Como inserem os jovens na empregabilidade?
Gilson Há muito tempo, trabalhamos com projetos sociais de incentivo à cultura, ao esporte e também temos feito iniciativas voltadas para a capacitação, oferecendo oportunidades de qualificação profissional, e também temos feito parceria com empresas para que, muito além da capacitação, nós possamos ofertar empregos.
“Desenvolvemos tecnologia social, um formato de organização ágil para atender as comunidades. Usamos a tecnologia para facilitar todo o processo de ampliação das ações sociais e de melhor utilização das mídias sociais.”
EA – Qual é o cenário da população vivendo nas favelas brasileiras?
Gilson São14 milhões de brasileiros vivendo em favelas no Brasil, que juntos movimentam cerca de 168 bilhões de reais em seu consumo interno, economia maior que o PIB de países da América Latina. O comércio interno consome cerca de 7 bilhões de reais por ano, uma potência economia.
12 Iniciativas
Ela foram criadas na pandemia pelo Comitê das Favelas e trouxeram um salto de inovação e de crescimento local. O uso de tecnologia social ganhou repercussão global com o modelo sendo replicado em comunidades do Brasil.
G10 Favelas
É o bloco de Líderes e Empreendedores de Impacto Social das Favelas que, assim como os países ricos do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), uniu forças em prol do desenvolvimento econômico e social dessas áreas urbanas. A exemplo dos grandes blocos econômicos, o G10 Favelas tem encontros regulares e termos de cooperação para coleta de dados, acompanhamento e gestão das ações e mensuração do real impacto social e crescimento gerado pelo bloco e seus parceiros.
O G10 Favelas quer inspirar o Brasil a olhar as favelas como grandes polos de negócios, atrativos para investimentos, transformando a ‘exclusão’ em startups e em empreendimentos de impacto social de sucesso.
G10 Hub
Por meio do G10 Hub – Escritório de Negócios, se fomenta o empreendedorismo nas favelas do país para impulsionar a economia. Nesse hub, há o G10 Bank com oferta de microcrédito para pequenos negócios. Com o objetivo de diminuir o impacto negativo da pandemia nas comunidades do país, o G10 Favelas criou, em março de 2020, o ‘Comitê das Favelas – Presidentes de Rua’ que reúne uma série de ações para ajudar moradores de comunidades em todo o país. A iniciativa ganhou destaque internacional e, no ano passado, recebeu o Prêmio Empreendedor Social da Folha de São Paulo 2020.
Gilson Rodrigues é tido como o “prefeito” de Paraisópolis, a segunda maior favela do Brasil, localizada em São Paulo, com população de 100 mil habitantes. Nascido em Itambé, interior da Bahia, tem 37 anos. Mora em Paraisópolis desde criança, é hoje um líder comunitário que tem influenciado favelas brasileiras e investimentos da iniciativa privada. Tem um olhar de gestão social que busca o potencial econômico dessas comunidades carentes. É presidente do G10 Favelas e CEO do G10 Bank Participações, banco criado para fornecer microcrédito a empreendedores, moradores da comunidade, visando impulsionar a economia e fortalecer o comércio e marcas locais.
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ENTREVISTA COMPLETA: ACESSE ED#6