Por João Casarri Neto

 

Imagine um profissional com décadas de experiência, conhecimento profundo do setor e uma rede de contatos valiosa. Agora, imagine esse mesmo profissional sendo preterido em processos seletivos ou subestimado em seu ambiente de trabalho simplesmente por causa da idade.

Esse é o cenário enfrentado por muitos trabalhadores seniores devido ao etarismo, uma forma de discriminação que não só prejudica os indivíduos, mas também as empresas.

Neste artigo, vamos explorar os impactos negativos do etarismo nas empresas e discutir estratégias para que profissionais seniores mantenham sua empregabilidade, mesmo após os 50 ou 60 anos. Vamos entender como a valorização da experiência e do conhecimento pode beneficiar tanto os trabalhadores quanto às organizações, promovendo um mercado de trabalho mais inclusivo e eficiente.

O etarismo nas empresas resulta em uma perda significativa de talentos, inovação e produtividade. Ninguém tem dúvidas de que profissionais 50+ enfrentam maiores dificuldades para se recolocar no mercado de trabalho, mesmo possuindo habilidades e conhecimentos valiosos.

Sem contar que a falta de políticas de inclusão e diversidade etária nas organizações contribui para um ambiente de trabalho menos dinâmico e criativo.

Uma pesquisa conduzida pela Ernst & Young e a agência Maturi, realizada em quase 200 empresas no Brasil, mostrou que na maioria das companhias pesquisadas, existem apenas de 6% a 10% de pessoas com mais de 50 anos entre seus colaboradores. Um número muito pequeno se considerarmos que o envelhecimento da força de trabalho no Brasil é uma realidade, onde dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que na última década o número da população com 50 anos ou mais subiu de 23% para 28%. E, estimativas indicam que em 2040, seis em cada dez brasileiros estarão na casa dos 50 anos.

Uma reportagem recente do jornal Correio Braziliense também traz um dado preocupante, onde relata a informação extraída de uma pesquisa realizada pelo Grupo Croma, indicando que 86% da população com mais de 60 anos já enfrentou algum tipo de preconceito no trabalho.

Um estudo realizado pela Robert Half em colaboração com a Labora revelou que 52% das empresas entrevistadas não possuem programas relacionados à diversidade geracional. E mais, cerca de 70% das empresas contrataram poucos ou nenhum profissional acima dos 50 anos nos últimos dois anos, além de revelar que aproximadamente 80% das empresas afirmam não possuir políticas específicas para a contratação de profissionais com mais de 50 anos.

Estatísticas estas que mostram como o etarismo ainda é um problema significativo no mercado de trabalho.

É claro que isso é ruim para os dois lados: para as empresas que perdem experiência e conhecimento, e para os profissionais que, sem oportunidades de trabalho enfrentam problemas de baixa autoestima, relacionamento com a sociedade, sem falar na dificuldade financeira que isso acarreta, pois, dados do IBGE também mostram que em 17 milhões de lares brasileiros, o sustento da família está a cargo de alguém 60+.

Quantos talentos valiosos estamos perdendo por causa do etarismo? Será que podemos nos dar ao luxo de ignorar essa questão? Ignorar os profissionais seniores é como jogar fora um livro cheio de sabedoria.

Cada página representa anos de experiência e conhecimento que não podem ser substituídos.

Impactos negativos do etarismo nas empresas

  1. Sensível perda de experiência e conhecimento: É notório que os profissionais seniores trazem anos de experiência e conhecimento acumulado que são ativos valiosos para a empresa, e a discriminação etária certamente irá levar à perda desses talentos, resultando em uma lacuna de habilidades e expertise.
  2. Redução da produtividade e motivação: Os profissionais quando percebem que estão sendo discriminados, perdem a motivação e a produtividade tende a cair. Isso afeta negativamente o ambiente de trabalho e a eficiência da equipe.
  3. Impacto na inovação: Um ambiente profissionalmente diverso promove diferentes perspectivas e várias abordagens para a solução de problemas. Havendo falta de inclusão de profissionais seniores, certamente irão ocorrer limitações de inovação e criatividade dentro do time.
  4. Problemas na reputação da empresa: Empresas que não valorizam a diversidade etária podem sofrer danos à sua reputação, afetando diretamente a atração de novos talentos e até mesmo de clientes.
  5. Ambiente de trabalho desmotivador: A discriminação etária pode criar um ambiente de trabalho com baixo engajamento e alto turnover, uma vez que os funcionários não se sentindo valorizados ou respeitados, procurarão não permanecer ali por muito tempo, levando a um aumento na rotatividade de pessoal.

Estratégias para profissionais seniores manterem a empregabilidade

  1. Atualização constante: Não acredite que não tem mais nada a aprender. Manter-se atualizado com as novas tecnologias e tendências do setor é fundamental. Procure participar de cursos, workshops, palestras e treinamentos. Isso vai ajudar a manter as habilidades relevantes e competitivas, conhecer as novas tendências sobre a sua área de atuação.
  2. Networking: Construir e manter uma rede de contatos profissionais certamente vai abrir portas para novas oportunidades. Participar de eventos, conferências, grupos de interesse, cafés e almoços com sua rede de relacionamento são muito úteis.
  3. Flexibilidade e adaptabilidade: Demonstrar flexibilidade e disposição para se adaptar a novas formas de trabalho e tecnologias se tornará um diferencial importante.
  4. Mentoria e compartilhamento de conhecimento: Não tenha medo de assumir papéis de mentoria. Isso não só vai ajudar a empresa, mas também destacar o seu valor como profissional, se tornando um recurso valioso para a equipe.
  1. Saúde e bem-estar: Manter uma boa saúde física e mental é essencial para continuar sendo produtivo e eficiente no trabalho. Praticar exercícios, autocuidado e manter equilíbrio entre vida pessoal e profissional são fundamentais.

Como vimos, já passou da hora das empresas repensarem suas atitudes em relação ao etarismo, e é sabido que ninguém faz nada sozinho. Este assunto também precisa ser discutido entre as autoridades governamentais, no sentido de se criar políticas que incentivem as empresas a, mais que contratarem novos profissionais 50+, manterem em seus quadros aqueles que já estão na empresa.

É preciso valorizar a experiência e o conhecimento dos profissionais seniores para se construir um mercado de trabalho mais inclusivo.

 

joao casarri neto 150x150 1 - Experiência desperdiçada: O impacto do etarismo no mercado de trabalho

João Casarri Neto é economista, consultor de RH/TI, analista comportamental DISC, coach, mentor, treinador de líderes, e Practitioner PNL. Autor do livro “Os 5 Princípios da Resiliência”, é também criador do programa “Sou Líder, e Agora?” para ajudar líderes em início de carreira. É Embaixador de Inovação e Tecnologia da Associação Brasileira dos Profissionais de RH (HUBRH+ABPRH). Colunista EA “Geração 50+”.

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