Por José Gonçales Junior
Todas as grandes invenções e transformações que a humanidade passou pela história tiveram momentos que os fizeram vir à tona.
Não há somente um “tempo certo”, mas todo um conjunto de fatores que contribuíram para que tais invenções e mudanças ocorressem. São esses fatores e como se enredam que o autor dessa obra se debruçou estudando e observando em campo por mais de 30 anos.
Quando esses fatores se unem formando as condições básicas de toda mudança atribuo o nome de “ponto de não retorno” e, a partir de tal ponto uma ou várias transformações são irreversíveis.
Mudanças tão significativas e profundas como a visão construída para o povo da Índia por Gandhi, ou a incrível transformação que os meios de transporte tiveram no final do século XIX, do qual a humanidade assistiu ao fim do transporte urbano por cavalos e viu a explosão do automóvel, do asfalto e das grandes cidades.
Transformações tão poderosas e silenciosas como a invenção da penicilina por Alexander Fleming, as arrojadas conferências sobre o meio ambiente das décadas de 1970, que questionaram e propuseram mudanças a nossa sociedade industrial e ambientalmente predatória; gente visionária como Wangari Muta Maathai, ecologista queniana e primeira mulher africana a ganhar o prêmio Nobel da Paz, Maria da Penha que corajosamente após anos de agressão por parte de seu marido, lutou para que um conjunto de leis fosse votado e aprovado para proteger a mulher brasileira contra agressores e, tantas outras personalidades, que eu poderia citar aqui.
Todas movidas por forças e processos, por vezes silenciosos, mas repletos de significados e capacidade de compreensão que a realidade pedia.
Da análise desses processos e do entendimento de uma certa lógica neles é que proponho trazê-los para o nosso âmbito, nosso dia a dia, colaborando assim para que transformemos nossa vida para melhor e a de todos os que nos cercam.
Seguindo um método que não considero como meu, mas como uma construção colaborativa, na qual eu resolvi unir, de diversos inovadores. Homens e mulheres fora de sua época, inspirados e inspiradores, arrojados, corajosos, agentes de seu tempo, detonando mudanças que tornou o mundo melhor.
Por que não fazermos parte dessa lista? Não importa a escala. Pois a maioria deles começou na escala pessoal, local, em suas garagens, sua comunidade, e tal o poder de suas ideias, que no tempo certo, ganhou o mundo todo.
Vamos a essa jornada. E que a inspiração, a Luz, um método consistente e sólido, aliados a muita coragem e vontade de mudar nos guie!
Analisando personalidades, destrinchando cases famosos, alunos de graduação e pós-graduação (nas instituições em que lecionei), mentorados e equipes que acompanhei em seus projetos, tanto no setor público quanto no privado, observei que há quatro grandes forças que detonam processos de mudanças, tanto individuais, quanto coletivos.
Tais forças se combinam, agindo por vezes isoladamente, e em alguns momentos em conjunto, até o momento em que os quatro se alinham provocando o que chamo de “Ponto de não retorno”, ou seja, o momento em que algo transformador, disruptivo e totalmente novo dará início.
Isso pode ocorrer no nível da pessoa ou de pequenos e grandes coletivos, desde se alinhem e busquem sonhos, ideais e metas que alimentem essas forças.
E quais são essas forças?
Força 1. Cronos
A primeira força denomino “Cronos”, ou seja, elas coordenam o tempo (timing) em que as coisas ocorrem. É caracterizada pelo momento em que há uma oportunidade (criada ou espontânea) para novas ideais e fatos ocorrerem e assim dar início a mudanças.
Podemos criar tais momentos a nosso favor? Sim, é possível e indicado, pois aguardar sempre pela “maré boa” ou por fatores externos das quais controlamos minimamente, pode nos levar a não realizar projetos e sonhos que queremos.
Se ficamos parados esperando por um “momento ideal” acabamos desperdiçando o que mais temos de precioso. E se não percebemos esse fato uso aqui uma frase de Henry Ford para despertar você para essa questão: “o tempo perdido não se torna tão evidente quanto um material desperdiçado, caído no chão”.
Força 2. Tribos
A segunda força está ligada ao nosso pertencimento a grupos, familiares ou não, no qual denomino “Tribos”.
Pertencer a tais grupos pode nos empoderar e acelerar nossos melhores projetos, como também nos prejudicar em vários sentidos, que vão desde a falta de apoio, o excesso de críticas ou mesmo nos conduzir a procrastinar o que tanto queremos, por um excesso de convites e propostas que não estão alinhados a quem queremos ser.
Força 3. Ânima
A terceira força agrega os fatores ligados a nossa personalidade e nossas “forças de caráter”, que condicionam o que nos move, o que nos motiva, tal força é denominada “Ânima”, caracterizada por aquilo que nos leva intimamente a fazer escolhas, tomar atitudes, enfrentar pessoas e obstáculos e nos conduzir ao longo de um processo.
É como se fosse uma “bússola” interna, que nos impulsiona através de desejos, sonhos e ideais; as vezes não as usamos adequadamente, por desconhecermos como elas atuam em nós, ou por seguirmos e pertencermos a grupos que não as reconhecem, ou na pior das hipóteses as negam em nós.
Força 4. Ópibus
A quarta e última força está relacionada aos suportes financeiros e as estruturas que dispomos para empreender qualquer projeto. Aqui a denomino pelo termo grego “Ópibus”, vinculada a ideia de estrutura (incluindo os a base de todas as atividades necessárias para o sucesso do empreendimento).
Essa última escolha nos mostra se somos capazes de gerenciar racionalmente os recursos que iremos mobilizar em nossos projetos, ou se as emoções ainda nos levam a usar nossos recursos em ações que visem recompensas de curto prazo.
Como a desarmonia das quatro forças nos leva a procrastinar novos sonhos?
A procrastinação se tornou um dos temas “best-seller” da atualidade, recebendo milhares de menções e capítulos nos mais variados livros de autoajuda, religião, PNL (Programação Neurolinguística) até a neurociência.
Não resta a menor dúvida que vários mecanismos já descobertos sobre procrastinação fornecem explicações muito claras sobre porque procrastinamos: medo de mudanças, do desconhecido, preservação de energia e esforços (o cérebro evita grandes esforços por preservação da vida).
Busca de prêmios e compensações de curto prazo, ausência de propósito e missão de vida para executarmos a longo prazo.
Há extensos estudos realizados nessa área, teorias e explicações que vão desde áreas da neurociência, da psicologia, psiquiatria, ciência sistêmica, e outras áreas com propostas mais místicas.
O que se sabe é que há diversos mecanismos que agem no cérebro e que nos levam a não tomar atitudes e promover ações que resolvam grandes problemas ou nos levem a um patamar melhor na vida. E que tais mecanismos possuem grande influência em nossa forma de pensar e agir sobre nossos desafios pela vida.
São infinitas as combinações entre as quatro forças que nos trazem procrastinação, desânimo e fracassos em nossos empreendimentos, e não se pretende aqui esgotar todas essas combinações. No próximo artigo vamos falar sobre a primeira: a Cronos.
José Gonçales Junior é geógrafo pela USP, MBA em Sustentabilidade (EAESP-FGV), pós-graduado em Neurociência Comportamental (PUC-RS), consultor em ESG e Bem-estar no mercado corporativo. Lecionou 15 anos em cursos de pós-graduação (SENAC, INPG, Faculdades Metropolitanas de Campinas, Ibmec Campinas), palestrante, mentor de mudança de carreira e implantação de parâmetros de bem-estar, estudioso apaixonado pelos temas Neurociência, Mudanças de Comportamento e Futuro do Trabalho. Mora com a família em um silencioso sítio em Vargem Grande Paulista, interior de São Paulo, onde dedica-se a família, a mentorias, consultorias, pesquisas e a escrever. Colunista EA “Carreira e Bem-estar”.
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